quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O leão e o porco


O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos. 



10 comentários:

  1. Endereçar à corja ministerial.

    ResponderEliminar
  2. O Porco não merecia ser comparado a um governante, principalmente como os actuais.

    ResponderEliminar
  3. Soberbo esse texto ! Esmagador, muito, muito bom !

    ResponderEliminar
  4. Um texto realmente majestático !

    ResponderEliminar
  5. por pior que seja um porco, um mau político jamais terá um coirato bem assado e apetitoso...

    abraço

    ResponderEliminar
  6. Chamar porco a alguns políticos será até um elogio.
    Abraço do Zé

    ResponderEliminar
  7. Eu gosto do poema, está brilhante. Parabéns.


    Um beijinho sempre amigo

    Maria

    ResponderEliminar
  8. Parabens a si e a Bocage. Obrigado por me dar a conhecer este texto de Bocage.

    ResponderEliminar
  9. um porco é sempre um porco, mas o que suja o ambiente são os suínos que andam a c@g@r o país...


    abraço

    ResponderEliminar