sábado, 3 de outubro de 2020

Em quem eu voto, às paredes não confesso

Antonio Berni, Manifestación, 1934


Em quem eu voto às paredes não confesso. No entanto, saibam que não votarei para presidir à República, em quem foi ao Congresso de Aveiro para bufar,  em quem foi apadrinhado pelo estertor da Segunda República, em quem foi escolhido pelos balsemões do poder mediático para ser comentador num novo formato das conversas em família, comendador-familiar-amigo de nobres banqueiros que venderam a República ao desbarato. Não votarei em quem, levado a Presidente, nunca assumiu o seu velho passado, nem no palácio deixou de ser comentador, em quem nunca percebeu o limite das suas funções, confundiu selfies e beijinhos com estar ao lado do povo e dos seus direitos, nunca deixou de ser o que sempre foi: o menino de bem do Estado Novo. Mas, bem vistas as coisas, ele está-se lixando para a direita que o pariu! 

- O menino gosta é de si próprio e é pelo seu ego que se move!

Saibam que não votarei para presidir à República, na Menina Rabina que Pintava Paredes - MRPP! Arnaldo Matos - Grande Educador da Classe Operária! Durão Barroso! MRPP/PPD! Nunca me enganaram! Em nome de quem agia a revolucionária nesses tempos? Porque veio para o PS que a põe na borda do prato? A menina burguesa, que rasgou as bandeiras vermelhas para fazer um vestido de casino, mandou lixar a Revolução! 

- A menina gosta é de ir à televisão e é por capricho que se candidata!

Saibam que não votarei para presidir à República, na moça que é da esquerda que acha velha a luta de classes, que acha chiques as causas fraturantes, que ondula os cabelos nas manifestações da avenida, sem nunca saber quão negro é o óleo das máquinas das fábricas, quão dura é a terra que dá os tomates. Quem financia os seus outdoors luminosos? A quem obedece o chefe de redação que a põe sempre no ar? Eis a questão.

- A menina pode ser muito engraçada mas não faz a minha graça!

Também não votarei noutros tinos e desatinos, noutros egos que terão a sua linha no boletim de voto porque, francamente, não sei ao que vêm.

No Coiso, ficar-me-ia mal estar aqui a justificar-me porque não voto nele: 

- Fascismo nunca mais! - uma frase que terá de voltar para as paredes.

- Não confesso? Confesso? Ah! Já lá chegaram: por exclusão de partes. Não, não é por exclusão de partes, há gestos que têm de ser correspondidos:

Há uns tempos, eu estava no Chico de Santo Amaro no aniversário dum amigo comum e o João Ferreira pagou-me uma imperial sem me conhecer de lado nenhum. Foi um gesto de classe! Portanto, vou votar nele porque se trata duma candidatura de classe!

João Ferreira não é candidato pelo seu ego, não escolheu ser candidato, foi escolhido e indicado para ser candidato, para representar aquilo, aqueles que nenhum dos outros tem massa corporal para representar.

- Não vai ganhar? Cum caetano! Ganha o Marcelo? Mal menor! Antes ele do que o abcesso dele, o Coiso! Que importa isso? Como dizem os outros, ganhamos sempre! Sim, já ganhámos por termos uma candidatura e um candidato... de classe! E é bom rapaz!...


1 comentário:

Zambujal disse...

É sim, senhor! Inté o conheço de pequeno... e cresceu o gajo! Por fora e por dentro.
Com toda a confiança. Em quê? Em ganhar? Mas isto é algum jogo ao perde-paga?... é SÓ!!! para escolher aquele que nos pode representar e apenas ele poderia fazê-lo bem, se outros fizessem uma escolha de quem os poderia representar. Era tão fácil, porra!