domingo, 24 de agosto de 2008

Passeio ao Zêzere


Não há nada que não me aconteça.
O importante é que em cada dia ocorra uma cena que nunca mais esqueçamos. Se assim for, recordaremos sempre todos os dias que vivemos e, por isso, teremos uma vida cheia.
Andava a célula familiar a desbravar território nacional, dera-lhe para se aventurar nos caminhos sinuosos das margens da albufeira, quando o esperado aconteceu: não tem saída se não para o lago - marcha-atrás, a raimunda patina, nervos e lá sai!...
Meia volta dada e comentamos duas ou três vivendas entre lotes e dois blocos de apartamentos – que construtor se lembraria de construir num sítio tão isolado?!

Dois ou três trolhas a dançar à volta de uma betoneira, um homem em traje de férias atravessa a estrada e faz-nos sinal de paragem.
- Quer atravessar o lago para o outro lado?
- Não! Andamos a vaguear!
- Na outra margem existe um Centro Náutico, com isto, isto e mais aquilo e com ambiente para uma boa tarde!
- Não! Andamos a vaguear!
- Se quiserem eu levo-os lá de barco!
- Não! Andamos a vaguear!
- Tem lá tudo o que é preciso para passarem uns bons momentos!
- E quanto é que o senhor leva para nos levar ao paraíso?!
- Nada! Fico pago só por vos agradar!
- Vamos!
- O barco está ali em baixo! Podem ir indo. Eu vou a casa saber se a minha mulher também quer ir.
Que diabo de oferta!... Fartura muita, o pobre desconfia!... O barco-jangada, para aí com dez lugares, com estofos e equipamentos de luxo…
- A situação mete medo!... - Comentámos.
O casal abeira-se simpático, serve-nos o embarque cheio de simpatias. Entre os membros da família brindada passaram pensamentos de receio que iam do conto do vigário aos filmes em que uma família é degolada. Podia muito bem haver por ali uma ilha que desse para praticar actos de terror!
O perigo da ingenuidade abalou quando, ainda no cais, acompanhámos uns cumprimentos para gente de outro barco e uns acenos para gente que estava lá no alto num jardim.
A travessia-passeio fez desta viagem o melhor momento deste Verão. Desembarcámos com os préstimos das melhores simpatias, uma apresentação do espaço em três minutos, “ali”, “ali”, “e ali”, o braço apontador a despachar locais e:
- Podem permanecer o tempo que quiserem. Estaremos aqui pelo cais. Levá-los-emos de regresso com o maior prazer!
Com o maior prazer desfrutámos do espaço-paraíso. Ao fim de duas horas, o senhor, já insuspeito, abeirou-se de nós acompanhado de um jovem de calções de banho:
- Estejam à vontade! Eu vou dar uma voltinha de barco com a minha mulher mas, a qualquer momento que queiram regressar, procurem este jovem que estará por aqui no bar e ele levar-vos-á!...
Quando procurámos o jovem este estava a começar a almoçar e levantou-se de imediato. “Por amor de Deus! Almoce descansado! Nós esperaremos por si lá fora!”
Passados dez minutos já estávamos num barco idêntico a fazer a travessia de regresso.
- Quanto é?
- Nada! Voltem sempre!
Da vivência deste dia inesquecível só me ocorre dizer uma palavra:
- Porra!....

Que forças ocultas levarão pessoas a servir uma família com um chefe com um ar tão macambúzio?!

17 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

não verias estranhar o tratamento, afinal as pessoas têm a capacidade de ver que estavam perante sua majestade o Rei do Leittões.

Teriam obviamente de tratar tão enorme visita da melhor forma.

Abrenúncio disse...

Espera mais uma semana para ver o que irá acontecer. Às vezes estas coisas têm efeitos retroactivos.
Saudações do Maigret Marreta.

AnA disse...

Bem....nem sei que diga. Realmente o povo portuga é dado a simpatias , mas este caso é um cadito estranho realmente. Mas a ser verdade, é bom saber que ainda existem pessoas "boas ondas". ;-)

AJB - martelo disse...

hum... muita parra, deconfio sempre.

Anónimo disse...

Eu se não visse escrito não acreditava.

Compadre Alentejano disse...

As majestades tratam-se com deferência...
Um abraço
Compadre Alentejano

Compadre Alentejano disse...

As majestades tratam-se com deferência...
Um abraço
Compadre Alentejano

MARIA disse...

Que bom que o tal casal sabia navegar...
:-)
Olhe, veja bem o que a Tânia perdeu.
Malvada Gina que a afastou do caminho das águas...

Beijinhos

Maria

Templo do Giraldo disse...

Ora viva meu caro amigo.

Depois de algum tempo sem dizer nada, passo aqui pelo teu espaço para te deixar um forte abraço. E se for o caso umas Boas Férias...

SAUDAÇÕES DO TEMPLO.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra
Esta história demonstra quanto temos recuado no tempo em termos de sociabilidades.
Vivemos no mundo da desconfiança e do medo. Um mundo em que gestos como estes nos deixam estupefactos.
Mas tu tens carisma e deves estar feliz por teres recebido um presente tão belo, daqueles que já são raros mas que tu mereces.

Abraço

Anónimo disse...

Pata Negra indica-me o caminho para esta albufeira.
Quero ter o prazer de conhecer gente desta. É coisa rara.
Até.

Anónimo disse...

e quanto é que o relator de tão agradável experiência leva para indicar as coordenadas do paraíso? :)

Jorge P. Guedes disse...

BOA!
Espero que tenhas aprendido a lição! Ainda há gente assim, porra!

Um abraço do Sineiro

Pata Negra disse...

Tiago
nota-se assim tanto a minha posição!?
Uma pata para o beija-mão

Marreta
Já aconteceu: fui notificado por ter roubado um barco e ter tossido para dentro da albufeira que é bebida na grande? Lisboa!
Um abraço sem prestar declarações

Ana
Dado a simpatias? Não é o meu caso!
Um simpático abraço

AJB
Muita parra, pouca uva e muita água e muita areia para a minha camioneta!
Um abraço sem pregos

Pata Negra disse...

Salvoconduto
Eu se apenas o tivesse escrito, não acreditava. Acontece que aconteceu!
Boas malhas

Compadre
E so compadres também!
Um aperto das searas

Maria
A Tânia também ia, a Gina é que não!
Um abraço do caminho das águas

Pata Negra disse...

Templo do Giraldo
Voltaremos a trocar uma ideias sobre o assunto.
Um abraço de aquém Tejo

Silêncio
Eu acho que o mundo sempre foi assim e sempre fomos assim. O que acontece é que dantes não existiam destas albufeiras e eram outros os barqueiros.
Um abraço sem culpa

Pata Negra disse...

Lili
Algo me diz que estás muito perto!
Um abraço a tomar

Mescalero
O Zêzere é um afluente do Tejo. Ferreira do Zêzere e perguntar pelo destino. Mas se não for suficiente eu darei as coordenadas exactas do Google Earth.
Um abraço com a promessa que vou ser agitado

Jorge
Precisamos de trocar umas ideias. Tenho passado na aldeia sem puxar a corda.