segunda-feira, 27 de abril de 2009

Permanecer

As ruas entulhadas a meus pés
E eu permaneço asseado
Limpo

Os amigos bebem juntos a mim
E eu permaneço sóbrio
Lúcido

A floresta arde nas minhas barbas
E eu permaneço intacto
Enxuto

O povo definha ao meu redor
E eu permaneço impávido
Sereno

O país afunda-se à minha beira
E eu permaneço à superfície
A boiar

O Mundo desaba à minha volta
E eu permaneço estático
De pé

Por este andar
Imóvel
Ainda vou morrer de pé

8 comentários:

antonio ganhão disse...

Morra-se de pé, não para se sobressair, mas porque a tanto nos impele a estirpe!

polidor disse...

ao menos tenhamos força na verga para estar em pé, contra as adversidades
abraço

Anónimo disse...

Alienação tentativa de sobreviver a este mundo louco!Mas de pé à espera daquele momento !
mfm

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra

Esse "de pé" conforme o descreves mais parece ser do Sócretino e não de ti. Porque ninguém pode ficar de pé quando tudo soçobra à sua volta. Só fica de pé quem é indiferente à dor alheia.
Agora se "ficar de pé" significa resistir com ética num mundo de corruptos, ah aí eu acredito que sejas tu quem está de pé.

Abraço umas vezes de pé e outras vergada

Mariazinha disse...

Que poeta me saiu Vossa Masgestade!

Um rei é sempre vertical mesmo que esteja na horizontal.
Coragem milord,vamos vencer.

Beijokas em bicos de pés!!!

j. manuel cordeiro disse...

Gostei do teu poema. Podia perfeitamente ser declamado por um fax-engenheiro. Esse mesmo que vê o país afundar-se à volta dele mas continua a boiar.

José Lopes disse...

O poema encaixa na perfeição em gente que prefiro não nomear, não venha de lá um processo judicial.
Cumps

MARIA disse...

Majestade,
O seu poema referencia-me a sensações ambivalentes, por motivos que nem ao Rei poderei confessar.
É bonito, bem construído, tão bem escrito que o efeito produzido pela arte com que esgrime as palavras quase nos afasta a mente do seu propósito.
Sempre "apanhei" de pé. É o que faço bem. Para isso me preparou a vida.
Vivo, por isso, de pé.E, quando me dizem "faça favor de sentar", fico sempre sem saber como situar as pernas.
Respeito muito quem o faz. Quem vive de pé!
Parece que respondendo a questões na net JS disse relativamente à questão : e se não obtiver maioria absoluta ?
- " Não me faltam forças para enfrentar adversidades".
Sabe que eu até dou de barato que isso seja verdade. Só é pena que muita gente desconheça que muita força mal direccionada pode originar irreversíveis desastres...


Ao contrário, neste Reino, a conta é sempre certa.

Um beijinho amigo

Maria