Não se sabe o que teria acontecido e também ninguém se preocupou em investigar mas a malta do circo nunca mais apareceu por aquelas bandas e a aldeia só voltou a ter serões de animação, uma década depois, quando Cipriano olhou para ela.
Cipriano, como muitos da sua geração, encontrou na França dos anos sessenta o caminho para se fazer a uma vida que, dificilmente, realizaria em Portugal. Por lá se fez músico e criou, com outros emigrantes, um grupo musical que se viria a tornar conhecido entre a comunidade portuguesa de Paris.
Já não vinha a Portugal há cerca de 10 anos quando, no Verão de 76, vem, com a sua banda, actuar em algumas festas da região. A “digressão” foi uma revelação. Música portuguesa, brasileira – Eh meu amigo Charlie!- anglo-saxónica e francesa, compunham um repertório que, facilmente, fez sucesso entre residentes e emigrantes. No ano seguinte voltaram e repetiu-se a receptividade.
Os tempos de esperança que então se viviam e o clima de entusiasmo que se criou à volta da banda de Cipriano levaram-no a decidir regressar definitivamente à sua terra com a sua família: reúne os melhores músicos das redondezas e dá uma nova formação ao seu conjunto, transforma a sua casa num salão de festas, revela a sua faceta de homem de sete ofícios, reclama melhores condições para a sua Terrinha, ajuda tudo e todos, vive rodeado de amigos, é um homem imparável.
É nesta altura que sou convidado para fazer parte do “conjunto dos putos” – assim era conhecida a segunda formação que assegurava os intervalos das actuações do grupo adulto e que tinha como atracção principal as qualidades musicais do seu filho Nini, de 12 anos. Não tardou que tomássemos o lugar da banda sénior. Seguiram-se os sete anos – com quase mil actuações anotadas na agenda que ainda guardo - em que privei de perto com o Cipriano, na sua vida familiar, em longas viagens, em arraiais, casamentos, bailaricos, palcos, trabalhos e sarilhos.
A sua casa foi, durante esse tempo, um autêntico centro recreativo e cultural, frequentado por velhos e novos, por forasteiros de ocasião e malta assídua, por músicos e curiosos de toda a espécie. A casa era de todos, o bar estava aberto até haver assunto, todos podiam tocar bateria, viola ou cantar, havia sempre música ao vivo, podia haver cinema, aos sábados dançava-se, falava-se de tudo e, às vezes, também havia porrada.
Espero que esta história caminhe por esses sete anos.
Os leitores já foram avisados que devem ouvir a música enquanto leêm, faz parte da história. Esta história já vem de trás e continuará para a semana se houver real vontade.
14 comentários:
Arago! Eh meu amigo, digo eu! Ou me estás a endrominar ou tens alguma escondida. A Tresinha esvaneceu-se?
E já agora, nunca te interrogaste pela figurinha que provavelmente fazias com uma mão na cintura e outra na cabeça a cantar esse tal de Eh meu amigo Charlie? Ou vocês eram mais para a desbunda?
O Cipriano devia-te inspirar, contagiar-te com a sua energia, para que leves mais esta história a bom porto!
Faz-me lembrar os conjuntos musicais que a brilhantavam as matinés da minha juventude.
Essa do "Meu amigo Charlie" tras-me
à memoria os domingos em casa dos meus pais em que acordava estremunhada com as musicas do campo da bola do Cova da Piedade.
Epá isto é do best, o Pata Negra rei do showbiz! Então e chegaram a gravar um vinil, ou uma K7 pirata?
Que mais irá acontecer?
Já agora, o Cipriano tinha alguma filha?...
Saudações do Marreta e se já não nos birmos botos de um Vom Ano Nobo!
Pata Negra, meu amigo,
Mas que grande animação... pensei que já se estava no reveillon...
O título é o menos importante, assim haja real gana para continuar a estória...que, como todas as tuas, promete...
A gente ainda se "vê"? Se não...
FELIZ 2010!!!!
Um abraço cansado de Festas...
nunca pensei que andasses a abrilhantar as romarias...haja alegrias.
abraço e saúde
Pata Negra,
Essa do "meu amigo Charlie Brown" tem muito que se lhe diga e ainda hoje muito usada essa expressão, para quem sabe.
Abraço,
Zorze
" Ò tempo volta par trás" e dá-me ganas para partir a corda que já ando peado a demasiado tempo.
post scriptum: Ainda conservo um autocolante da célebre banda
Salvo conduto:
A Teresinha voltará quando tiver idade para isso.
Um abraço e obrigado pelas sempre prestimosas contribuições
Antonio
E a ti, quem te inspira o verbo pensado?!
Um abraço da nossa carruagem
Mariazinha
Cova da Piedade, não! Mas andámos lá perto! Também dançavas?!
Um abreijo do Baile
Marreta, não tenhas pressa! Primeiro ouve a cassete, depois... talvez te calhe alguma coisa! Ajuda-me a compor a história porra! Tu tens ideias! Queres a filha do Cipriano?!...
Vou falar com ela!
Um abraço do sou bizzzz
Meg
Vê-mo-nos no Baile!
Até
Polidor
Alegrias não faltam , não querem é nada comigo!
Um abraço do andor
Zorze
Embora nunca o tenha visto, nem mais gordo, nem mais magro, estou marcado eplo Charlie.
Um abraço Brown
Camolas
Só tenho um mas está colado! Manda-me o que tens por e-mail mas com cola!
Um abraço e
Caro Pata Negra e visitantes,
A blogosfera não se resume a troca de ideias e de opiniões, mas também é um veículo de comunicação e de troca de afectos e votos amigos de um futuro melhor, de bons auspícios para 2010. Não se pode passar esta fronteira entre os dois anos sem manifestarmos o nosso desejo, a nossa esperança que a área em que entramos nos traga mais felicidade, para o nosso pequeno grupo, para os nossos compatriotas e para todos os seres viventes. Felicidades para todo o Mundo, depois desta migração para 2010.
Abraços
João
Esta sua história reportou-me para aqueles tempos dos bailes nas associações e colectividades de bombeiros, nos quais actuavam as bandas que então faziam sucesso, por entre essas parvalheiras do nosso Portugalzinho. O elemento das bandas que mais atraía a atenção era sem dúvida o baterista! E quando eles davam aqueles shows a solo? As "garinas" ficavam todas malucas! Menos eu! Fosse pelo que fosse, a verdade é que não me deixava seduzir com estes acordes! Eu gostava era de andar por lá a dançar e sozinha! Às vezes via semblantes escandalizados das senhoras que se encontravam sentadas ao redor da pista de dança, criticavam-me e condenavam-me pela minha brutal mini-saia, o que ainda me provocava mais divertimento, afinal cada vez mais me convenço, de que eu é que estava certa, estava a viver em pleno a minha idade da inconsequência! Queriam, porventura, que com aquela idade, adolescente ainda, já tivesse postura de uma velha? Pois, lixem-me que eu deixo! Nestes "entretantos", quem se aproveitava fortemente do barulho das luzes, para umas roçadelas à socapa,eram as filhas destas mães, tão zeladoras da virtude! Moral da história: Quem tudo quer ver, não chega a ver nada!
Queria também dizer-lhe, Pata Negra, que nunca deixe de contar estas histórias, porque elas também são um pouco minhas, sou desse tempo, desse viver!
Já agora um título: "Um venturoso devir". É romântico, não é? Um título que promete muitas aventuras e segredos! Estou a brincar, é que hoje é um dia que se reveste de uma aura festiva, que esse espírito o acompanhe nesta longa noite! Um Ano cheio de sonhos e concretizações!
Milu.
caro pata:
cheguei aqui atrasado para os comentários. não posso me furtar de dizer, entretanto, que é uma beleza de história. sigamos sem título e esperemos por mais um passo para a próxima semana.
não preciso dizer que a canção muito me agradou... eeeehhhhh...
grande abraço.
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