sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A carta que nunca escreverei

Ex.mo Senhor

Não o trato pelo nome, cargo ou função, porque na realidade nem sei bem quem é o senhor nem isso interessa, deverá ser alguém com responsabilidades no cartório e isso basta.
Nunca lhe escreverei esta carta porque, mesmo que a secretária do seu assessor lhe desse seguimento, mesmo que o senhor a lesse, ela não passaria de mais um carta, daquelas que apenas servem para aliviar a revolta dos seus autores. Para tão pouco basta assim.

Sou o do meio de cinco irmãos e deles o único que se formou a nível superior. Nessa altura, havia uma crise e toda a família apostou nesse desejo e acompanhou esse caminho, os meus pais venderam um pinhal e babavam-se quando de mim falavam aos vizinhos, os meus irmãos mais velhos davam-me coisas e dinheiro e falavam do irmão quase doutor aos companheiros, os mais novos não estudaram porque se zangaram com as insistentes comparações com o menino bonito e porque não apreciavam por aí além serem um jovem dependente como eu era.
Nunca entre nós existiram ajustes de gratidão ou retribuição, tudo ficou pela partilha de um de nós ser mais letrado, pela pequena satisfação familiar de haver canudo na família. Não aconteceu, nem tinha que acontecer, que a minha situação económica fosse muito diferente, que os meus filhos fossem proprietários de brinquedos muito diferentes ou que o meu carro tivesse maior cilindrada.

Vivemos em crise e, ironia do destino, sou dos cinco, o primeiro a ser despedido, um dos culpados da crise nos tribunais de opinião, prestes a ir pedir batatinhas à horta que era da avó.
Que hei-de fazer? Não sou mais que os outros! O problema, senhor responsável, é que o meu mais velho termina agora o ensino secundário com média de dezanove e tal e conversa e tal saíu-se assim:
- Pai, não quero mais ser doutor! Quero ir contigo para Angola!
- Não rapaz, isto resolve-se cá! A primeira coisa a fazer, é correr com o destinatário desta carta!
(- Ouviu? Ó Ex.mo Senhor!... Desande! Não nos peça isto! Não nos peça aquilo! Não nos peça nada! Nós é que  temos de pedir-lhe contas!)

(Já não engano ninguém, para evitar confusões: carta recebida por e-mail)

6 comentários:

Kruzes Kanhoto disse...

Isso de pedir contas não é connosco. Somos tão burros que até andamos a pedir facturas em nome do gajo. Deve ser para lhe aliviar o irs.

Olinda disse...

Nôs temos que pedir que sejam julgados (Porque serâ que os media do regime nao nos fala da Islandia?)por nos roubarem a capacidade de acreditar que podemos ter a nossa vida de volta.Deviam ser julgados,por roubarem os sonhos,aos nossos filhos.



Anónimo disse...



Num autocarro, um padre senta-se ao lado de um bêbado que, com dificuldade, lê o jornal.
De repente, com a voz 'empastelada', o bêbado pergunta ao padre:
- O senhor sabe o que é artrite?
O padre pensa logo em aproveitar a oportunidade para dar um sermão ao bêbado e responde:
- É uma doença provocada pela vida pecaminosa e sem regras: excesso de consumo de álcool, certamente mulheres perdidas, promiscuidade, sexo, farras e outras coisas que nem ouso dizer...
O bêbado arregalou os olhos e continuou lendo o jornal.
Pouco depois o padre, achando que tinha sido muito duro com o bêbado, tenta amenizar:
- Há quanto tempo é que o senhor está com artrite?
- Eu???... Eu não tenho artrite!... Diz o jornal que quem tem é o Papa!

Jorge P. Guedes disse...

Na realidade, não vale apena escrever a carta. As bestas nem sabem ler quanto mais pensar...

Um abraço.

jrd disse...

Não adianta escrever, há que dizer em alta voz!

Abraço

Retornado disse...

Fico fodido quando oiço falar que alguém quer ir para Angola.

Eu que tinha a tropa a guardar-me as costas, e agora que o Marocas à pressa a dar uma engraxadela na própria imagem, em todos os jornais do país.

Peço desculpas ao autor da carta, mas eu não sou doutor, não sei mais!