Tínhamos acertado que um dia voltaríamos à terra da avó dela à Gramatinha, montaríamos a tenda no quintal, limparíamos a velha casa abandonada a umas centenas de metros da velha aldeia e ali ficaríamos distantes do mundo por uns dias.
E assim foi. Partimos no domingo, chegámos hoje.
Para recordar ou respeitar verdadeiramente a memória dos nossos antepassados é aconselhável que nos coloquemos, tanto quanto possível, na pele deles: sem água canalizada, sem energia eletrica, sem comunicações e sem contraceptivos.
Que bons foram estes dias sem ouvir o telemóvel, sem ouvir o filho pedir "ó pai quero um aipode", sem me irritar com o ruído de fundo da geladeira, sem a filha me acabar com a água quente, sem cartas de contas para pagar, sem me cruzar com a minha colega de trabalho, sósia da miss pig.
Vivemos tão intensamente que nos esquecemos que existia outro Portugal, o Portugal que paciente, aguenta a teimosia de Passos, que ignorantemente observa a competência de Gaspar, que humildemente suporta a vaidade de Portas, que se conforma com a imortalidade do Américo de Tomás.
Só um recolhimento como o destes dias me podia trazer a vontade de escrever estas linhas. Termino aqui, vou ver as notícias para ver se por cá também aconteceu alguma coisa, cinco dias sem comunicações foi um bom momento. Perdi alguma coisa?
12 comentários:
Perdeste apenas a "imortalidadede" Américo Thomaz...
E sem Portas nem Coelhos...nem Cavacos no caminho...és um sortudo!
Só não faço o mesmo na propriedade da família, lá no meio de nenhures, porque tanta quietude dá-me stress...
E hâ lâ coisa comparâvel äs emocoes dos ûltimos dias?Do que afirmou o que jâ sabîamos,do que quis bater com a porta,mas afinal bem conversadinho atê pode ser comprado,etc.etc.Um nûmero de circo,imperdîvel.Nao sei se trocava,..
Na minha juventude adorava passar, todos os anos, uma semana de férias acampado numa das barragens mais bonitas do Alentejo, a de Santa Clara. Claro que tinha que ser num sítio isolado, para não ver vivalma durante essa semana. Era formidável, sem rádio, sem TV, sem jornais...
Abraço
Compadre Alentejano
Pata
ai perdeste, perdeste... umas anedotas desavindas a conspurcar a terrinha...
abraço
:-) :-) :-)
Muito bom!
Nada que valha realmente a pena, mas cuidado com a cacetada da realidade quando inevitavelmente se tiver que pousar no mundo de ficção dos políticos que é a nossa realidade...
Cumps
Só o desgoverno não se recolhe
definitivamente
A geração que fez o 25 de Abril era filha do outro regime. Era filha da ditadura, da falta de liberdade, da pobre e permanente austeridade e da 4.ª classe antiga.
Tinha crescido na contenção, na disciplina, na poupança e a saber (os que à escola tinham acesso) Português e Matemática.
A minha geração era adolescente no 25 de Abril, o que sendo bom para a
adolescência foi mau para a geração.
Enquanto os mais velhos conheceram dois mundos – os que hoje são avós e saem à rua para comemorar ou ficam em casa a maldizer o dia em que lhes aconteceu uma revolução – nós nascemos logo num mundo de farra e de festa, num mundo de sexo, drogas e rock & roll, num mundo de aulas sem faltas e de hooliganismo juvenil em tudo semelhante ao das claques futebolísticas mas sob cores ideológicas e partidárias. O hedonismo foi-nos decretado como
filosofia ainda não tínhamos nem barba nem mamas.
A grande descoberta da minha geração foi a opinião: a opinião como princípio e fim de tudo. Não a informação, o saber, os factos, os números. Não o fazer, o construir, o trabalhar, o ajudar. A opinião foi o deus da minha geração. Veio com a liberdade, e ainda bem, mas foi entregue por decreto a adolescentes e logo misturada com laxismo, falta de disciplina, irresponsabilidade e
passagens administrativas. Eu acho que minha geração é a geração do “eu acho”. É a que tem controlado o poder desde Durão Barroso. É a geração deste primeiro-ministro, deste
ministro das Finanças e do anterior primeiro-ministro. E dos principais directores dos media. E do Bloco de Esquerda e do CDS. E dos empresários do parecer – que não do fazer. É uma geração que apenas teve sonhos de desfrute ao contrário da outra que sonhou com a liberdade, o desenvolvimento e a cidadania. É uma geração sem
biblioteca, nem sala de aula mas com muita RGA e café. É uma geração de amigos e conhecidos e compinchas e companheiros de copos e de praia. É a geração da adolescência sem fim. Eu sei do que falo porque faço parte desta
geração. Uma geração feita para as artes, para a escrita, para a conversa, para a música e para a viagem. É uma geração de diletantes, de amadores e
amantes. Foi feita para ser nova para sempre e por isso esgotou-se quando a juventude acabou. Deu bons músicos, bons actores, bons desportistas, bons artistas. E drogaditos. Mas não deu nenhum bom político, nem nenhum grande
empresário. Talvez porque o hedonismo e a diletância, coisas boas para a escrita e para as artes, não sejam os melhores valores para actividades que
necessitam disciplina, trabalho, cultura e honestidade; valores, de algum modo, pouco pertinentes durante aqueles anos de festa.
Eu não confio na minha geração nem para se governar a ela própria quanto mais para governar o país. O pior é que temo pela que se segue. Uma geração que tem mais gente formada, mais gente educada mas que tem como exemplos paternos Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates, Passos Coelho, António J. Seguro, João Semedo e companhia. A geração que aí vem
teve-nos como professores. Vai ser preciso um milagre. Ou então teremos que ressuscitar os velhos. Um milagre, lá está.
Pedro Bidarra
Se perdeu alguma coisa ?...
Certamente não perdeu ou sentir-lhe-ia a falta.
Olá achei seu blog muito interessante!Amei voltarei mais vezes.
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