sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Saudade


à memória de meu amigo Barros que foi e nunca se pronunciou

1
Oh! Como eu gostava de voltar à Realidade...
Tanto que eu gostava de voltar à Realidade...
- Mas como?! – Não tenho meio de transporte!
Tanto que eu gostava de visitar a campa de um tijolo,
meu amigo,
sepultado lá... na realidade!
Mas não posso, não tenho meio de transporte!

Era um bom tijolo. Chamava-se Barros,
era banco e mesa na minha pequena casa.
Um dia convidei Deus para jantar na minha pequena casa,
Barros não aguentou com a divindade e, desfez-se em pedaços
no coração da minha pequena casa.
Por isto, foi sepultado na Realidade...
2
-Não! Ninguém voltará!
Diz uma lei qualquer da “Constituição da Natureza”.
- Mas eu sou real, nasci lá!
- Real sou eu!
responde-me o rei, e eu pergunto:
- Quem mais ama a pátria que o Exilado?
e o Sol responde. O Sol responde a tudo.
É o maior amigo que tenho aqui onde estou,
no Mundo em que as estrelas do mundo real
são os candeeiros duma cidade.

7 comentários:

Maria disse...

É bonito.
E é por estas e outraas que eu não convido nenhum deus a jantar na minha casa...

Abraço, com o frio o oeste mas também com o Sol que há-de vir.

Rogério G.V. Pereira disse...

1
Os meus sentidos pêsames, se o Barros assim te servia, ele era como família. "Somos do mesmo barro", Deus diria.

2
Exilados de todo o mundo, uni-vos. E o Sol brilhará para todos nós, os exilados daqui

jrd disse...

Deus é um glutão, come tudo e, por vezes, parece não se preocupar com a realidade dos mortais.

Abraço

Manuel Veiga disse...

Deus atira barro(s) à parede para ver se vamos na fita...

mas os candeeiros na cidade impõem-se. realmente: quando esmurramos o nariz neles.

O Puma disse...

A luz dos candeeiros está pelos olhos da morte

cid simoes disse...

É difícil escrever com esta transparência.

Zé Povinho disse...

Saudade, uma palavra para a qual não se encontra equivalente noutras línguas...
Abraço do Zé