terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Esgotado o livro dos bácoros - obrigado!

É com enorme satisfação, ou imensa pena, que informo que "o bácoro que me persegue" está esgotado.


A todos os que contribuíram para isso, um obrigado. Foram mais de três meses de expediente, com idas aos correios, com entregas pessoais, de contabilidade doméstica afinada, entre expedidos, vendidos, distribuídos, oferecidos e até trocas, lá se foram todos e, por distração, quase eu ia ficando sem nenhum.

Sinceramente não esperava. Até porque não era esse o objetivo primeiro - esgotar a tiragem. Picado por próximos, decidi-me a ele um dia, papel é papel, livro é livro e, se memória futura se deseja, tenho medo que um dia os discos magnéticos, a nuvem ou o próprio blogger, sejam atacados por uma doença informática e, dum momento para outro, horas de devaneios de escrita se evaporem na atmosfera caótica da sociedade da informação.

Sabia de antemão que não seria de esperar que a fidalguia da corte, profunda conhecedora das prosas do monarca, se interessasse por aí além, que santos da casa, gordos de curiosidade, passassem pelos buracos das fechaduras, que leitores do José Rodrigues dos Santos ou do Nicholas Sparks, gente de facebooks mas não de blogues, se dessem ao trabalho de adquirir um livro de bacoradas.

Sabia também que de autores menores, as editoras não procuram os ganhos com as vendas, que serão sempre escassas em linha com a discrição da divulgação, mas usurpam o necessário lucro do bolso do próprio autor.

Sabia ainda que o que escrevo, que procuro sempre num verbo que cative quem pouco lê (quem muito lê tem mais que ler), não é nada que mereça ser de banca; que o vernáculo brejeiro e a impudência podem desagradar a culturas mais sensíveis; que o amadorismo popular aprisiona a ficção ao autobiográfico e que a autobiografia só se tolera depois da fama.

Por fim, teimoso no que é meu, avesso à exposição pública, por idiossincrasia, temeroso à microfonia, teimei que o livro só circularia em comércio clandestino ou na candonga.
E pronto, está esgotado, prometo que não falarei mais do dito que já muito ego revelei aqui por o ditar, deixo-vos apenas com três histórias que com ele se fizeram acontecer.

Da primeira vez a senhora dos correios nada estranhou, lá para a terceira ou quarta, começou a habituar-se mas, como as entregas se começassem a repetir e alguns vales de correio a levassem a perceber que se tratava de negócio, um dia, ao deparar-se com mais um despacho, largou-se com um comentário:
- Está a vender bem ao que parece!
- Desculpe, não percebi!
- O livro, só pode ser um livro que anda a vender!
- Ah! Mais ou menos! - disse eu sorrindo.
- Sabe, há pacotes que denunciam o conteúdo mas mesmo assim nos aguçam a curiosidade.
Abri a pasta e perguntei-lhe:
- Quer um? Ofereço-lho!
- Muito obrigada por me matar a curiosidade.

O meu amigo Lúcio Mouco vende velharias na feira e conhece-me por eu lhe perguntar o preço de quase tudo e não lhe comprar quase nada. Vende torneiras avariadas, lavatórios rotos, louça rachada, puxadores ferrugentos, santos partidos, vinis riscados, vende tudo, até livros velhos. Propus-lhe então, ao meu alfarrabista, a venda pública e exclusiva dum exemplar. Ele aprontou-se. É simples, rasga-se a página que tem o ano, amarrota-se um pouco, massaja-se em farinha para lhe dar pó e, como tudo, pode dar venda. E vendeu o primeiro e o segundo, julgo, ainda por lá anda entre outros no caixote da especialidade.

Não esperava que quem já me conhecesse do que escrevo me fizesse apreciações elogiosas à obra de autor de livro único ou que desconhecidos me mandassem mensagens para expressar particular agrado pelo que leram. Não tive observações especiais ao seu conteúdo mas tive ao objeto, à capa e até ao tipo de papel. Também houve um que se descaiu e largou-se  com a dita "hoje em dia qualquer um já escreve um livro". Arreliado com estas reações? Não! Acho normais, como conhecedor maior do meu papel, do meu lugar e dimensão! ...
Mas o comentário mais excêntrico, foi dum amigo, que ao ver-se em mãos com o objeto fez a sua primeira crítica de satisfação:
- É grosso!...

9 comentários:

Maria disse...

Só Vossa Majestade me faria sorrir no dia de hoje! Assim, a bandeiras 'desfraldadas'.
Abraço

O Puma disse...

Meu caro e estimado amigo
fiz um certo esforço para não adquirir o teu livro
Agora que está esgotado pergunto
para quando a segunda edição?

Abraço

cid simoes disse...

Se fosses pivot na TV já estavas mais rico.

Manuel Veiga disse...

é grosso e aguenta-se de pé!
o que não acontece com os fininhos.

(falamos de livros?)

Rogério G.V. Pereira disse...

É pá
em tempos, valia-me o alfarrabista das escadinhas do duque
Tudo o que estava fora de circulação
esgotado, ou à espera de nova edição,
ele tinha

E agora?

Anónimo disse...

Um prazer ter lido o livro.Mas só quem não segue o blog o pode elogiar. Sua majestade está de parabéns. Parabéns.

Judite Castro disse...

:)
Ainda bem que não me distraí.
A leitura do livro ou do blogue é empre um gosto.
:)

jrd disse...

Por motivos vários, tenho andado bastante relapso na blogosfera, mas vou tentar arrepiar caminho.
Desejo-te um ano de 2017 muito produtivo e com muita saúde.
Um abraço

maceta disse...

King dos leitões,

já o tinha dito, em tempos, que para alem da ironia e do detalhe, escreves realmente a gosto, o que para um bácoro é realmente invulgar.

abraçando o bácoro...