Bush filho, quase tão inteligente como Trump, apresentou um dia como solução para os incêndios da terra dos índios o corte das árvores da floresta. É assim a América do nosso contentamento: se aumenta a insegurança, há que munir os cidadãos de mais armas; se há fogo, corte-se o mal pela raiz, faça-se da floresta deserto.
No Portugal do nosso entretenimento, do fazer de conta que se faz, os fogos seguem o modo de pensar inteligente do amigo americano. Não chegam os carros de bombeiros, compram-se mais carros de bombeiros, não chegam mais carros de bombeiros, chamam-se helicópteros e aviões, não chegam os meios, ah! então vamos pensar...
Não pensando na destruição da agricultura e da pastorícia, não pensando nos fatores económicos que ditaram o abandono da floresta, não pensando nas medidas de encerramentos de serviços e na inevitabilidade de concentração da atividade económica e do emprego nos grandes centros, os corredores do Grande Centro pensaram então:
- Fazer pagar, aos que por lá resistem, os males das políticas que lhes têm sido infligidas. Punam-se esses malandros! Multas pesadas para cima deles! Não têm dinheiro? Então o que é que fazem às reformas que lhes damos?
Conclusão, pensam que podem acabar com os incêndios com a desertificação humana total. Não pensam, os imbecis, que o valor das propriedades, ou do rendimento que delas se tira, não chega para a despesa duma única limpeza anual, nem tão pouco para os custos cobrados pela sua eventual venda.
Nem os beijos dos beiços do Marcelo, nem as fotos do Costa no terreno, nem os coletes de bombeiro da Cristas, nem as imagens de fogo que passam em fundo nos comentários da tv, podem apagar as cinzas das aldeias e vilas abandonadas a troco do desenvolvimento do litoral.
Tenho uma sugestão, em vez de gastarem energias em ginásios para manterem a linha, em vez de oferecerem taças de ouro para corridas em pistas de tartan, organizem uma gigantesca prova de corta-mato nacional, chamem os desportistas de cidades, vilas e aldeias, delimitem faixas de competição para cada um, munam-nos de foices, enxadas e ancinhos, dêem o apito de partida e, no final, pesado o mato que cada um roçou, atribuam prémios. Seria uma forma lúdica e barata de pôr à prova a vontade, a verdadeira solidariedade de todos aqueles que, no dia a dia, despendem a sua força física apenas para manter a forma.
Não quer dizer que a força da autoridade não possa atenuar o problema no curto prazo. Mas, no médio prazo, o problema regressará porque notoriamente não há políticos com vontade, apoio, força ou inteligência para pôr em marcha o repovoamento do interior. Além disso, ninguém tira das suas propriedades rendimento suficiente para fazer a limpeza ano após ano. E, como não há notoriamente políticos com vontade, apoio, força ou inteligência para empreender uma reforma agrária e florestal, vão convencer toda a gente que o melhor é entregar a terra aos grandes.
4 comentários:
Vou nessa nessa campanha, detesto ginásio
Um meu vizinho, amigo pessoal do Portas, também achou boa ideia mas questionou se os tais equipamentos (foices, enxadas e ancinhos) eram custo elegível numa candidatura ao "Portugal 2020". Expliquei-lhe, sumariamente, o que eram tais ferramentas e dei-lhe uma ideia que a sua aquisição seria um pequeno custo e não um investimento.
Sorriu e disse, esqueça!
Esse corta-mato
está condenado ao fracasso
... entretanto Lula vitima de golpe
O Cavaco ainda o vai processar por este post...
Cumps
sê "moderno", pá!
entrega-se o "mato" às celuloses e está(mos) feito(s)!
mais a mais cortar o mato faz calos e estraga a unhas,
abraço
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