domingo, 21 de abril de 2019

Vamo lá?

Hoje, como todos os domingos, acordei com a voz da tratorinha do Tó Zé:
Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!
...não tem o chiar das rodas dos carros de bois de antigamente mas tem mais melodia que o zunir dos carros transpondo o viaduto;
Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!
...não lembra o “pouca-terra” dos comboios de outrora mas tem a muita vida que o Tó Zé transporta:

mudar umas forquilhadas de estrume para o talho de baixo;
Tram!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...

- É assim a vida do home pobre!
... trazer uma paveia de mato para o ganau
Tram!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam! Tam!Tam!Tam!Brum!!!...

- A vida está é para os empregados do estado!
... ir à vinha pôr líquido e queimar vides
Tram!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...

- Vamo lá?!... Ele tem que se beber senão tem de se entornar!...
uma macheia de pasto prás ovelhas

Tram!Tam!Tam!Tam!Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...

- A minha vontade é matar o gado todo! ...
ir buscar farinha ao Zé do Vale

Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...

- Amanhã vai-me nascer um bonito borrego! … 
Vamo lá!...

(e eu contente de viver no campo e de ouvir e ver passar o dia inteiro a tratorinha, o cumprimento das palavras do Tó Zé / não ouço no sacho as cantadeiras nem provo a bucha sob o carvalho velho mas ouço "Brrum!Tam!Tam!", o Tó Zé pensando e, “vamo lá”!

Tram!Tam!Tam!Tam!Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
ai ai ai o campo e este canto do céu que tenho na Terra, aqui /
gostava de não ser empregado, não ter carro e ter uma tratorinha e também a vontade de mudar o mundo do Tó Zé)

Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
- A minha vontade é matar o gado todo, plantar eucaliptos e deitar-me à sombra!
… Tem boa cor não tem?!
... Não levou nada!
... Ele tem de se beber senão entorno-o!
... É o segundo hoje!... 
... É quase noite!... 
... Um caldo e não tardo lá, em cima dela, que amanhã tenho que galgar às seis da matina!

a voz da tratorinha sabe bem
Tram!Tam!Tam!Tam!Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...


e depois, durante o último, este pormenor da parede da adega do Tó Zé / não há anos nem calendários que vençam esta vontade de viver / viva a vida!

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