O normal funcionamento do sistema educativo é um problema menor no contexto da atual crise com que nos deparamos. No entanto, governo, meios de comunicação social e comunidades escolares parecem ter encontrado aí uma distração para aliviar outras preocupações e responsabilidades que a situação lhes exige. E, como se não bastasse, como centro desta problemática secundária, os exames nacionais do ensino secundário têm meio país suspenso à espera duma resolução.
A importância dos exames nacionais tem vindo a crescer, ao longos dos anos, a pretexto de atestar a eficiência do ensino escolar quando, na verdade, não passam dum falso indicador, cujo papel mais relevante se reduz a, por métodos meramente quantitativos, distribuir os jovens pelas cadeiras do ensino superior e, em particular, a limitar o acesso dos candidatos ao sonho das faculdades de medicina.
O ambiente de medo e de ansiedade que, quer da parte de professores, quer de alunos, rodeia habitualmente a realização destas provas, resultado de todo o folclore normativo que se foi desenvolvendo à volta delas, roça já a dimensão do paranóico e do ridículo. Chegou-se ao ponto das regras limitarem às professoras vigilantes o uso de saltos altos ou de mini-saia, aos professores vigilantes o uso de sandálias ou de calções, das garrafas de água que os alunos levam não poderem ter rótulo, das tesouras que abrem os envelopes dos enunciados terem 15 cm, das provas de resposta serem transportadas em carros da polícia, das escolas verem, perante a opinião pública, a avaliação do seu trabalho quotidiano reduzida à análise de pautas de resultados de exames nacionais.
O sistema evoluiu para este formato avaliativo, paranóico e ridículo, mas nem sempre foi assim. Por exemplo, nos anos do 25 de abril houve reboliço e revolução no sistema educativo, houve muitos casos em que o ano letivo só se iniciou em novembro ou em janeiro, houve até passagens administrativas e não consta por isso que a geração formada nessa altura não tenha vindo a cumprir a sua profissão de forma competente.
Acautelemos a nossa saúde, cuidemos dos doentes, enterremos os mortos, sejamos solidários, exijamos justiça social, contribuamos para a economia necessária às nossas vidas e não nos preocupemos com os exames nacionais que as universidades têm lugar para todos e o momento sugere-nos que de futuro haverá muitas vagas para medicina.
1 comentário:
«...nos anos do 25 de abril houve reboliço e revolução no sistema educativo, houve muitos casos em que o ano letivo só se iniciou em novembro ou em janeiro, houve até passagens administrativas e não consta por isso que a geração formada nessa altura não tenha vindo a cumprir a sua profissão de forma competente.»
Boa malha!
Que orgulho tenho
e não desdenho
pertencer à tua vara
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