terça-feira, 2 de junho de 2020

A vidência nunca teve evidência científica



"Ainda o toiro estava no corredor que dava acesso à arena e já os aficionados se davam a comentários académicos e certezas científicas que depois seriam para esquecer: que derrubava o cavalo, que corneava sete, que matava três, que saltava para as bancadas e que dali iria para o matadouro."

E isto foi em março, ainda a época das touradas começava e o campeonato de futebol ia a meio.

Mas esta gente, nós, somos assim, seja presidente, seja secretário, seja eleitor, seja comentador, leigo ou especialista, todos, mesmo que não acreditemos na Santa, nunca tenhamos observado uma molécula ou feito um toque retal, nascemos videntes, temos uma vocação de nascença para a ciência da futurologia e temos um dedo que adivinha.

Que a populaça diga que isto vai dar fome ou que depois da tempestade vem a bonança, que o doutor assegure que isto não passa duma gripezinha ou que afiance que vai haver uma vaga muito pior lá para o outono, que a senhora da saúde diga um dia que o uso de máscara é contraproducente e passado dois dias exija que a usemos na retrete, que o senhor ministro garanta a resposta dos serviços de saúde, a imunidade das finanças e a vitalidade da Europa, ainda se aceita, é discurso de situação e conversa de ocasião em que todos metemos a tolerância e o bedelho.

E até se compreende, embora não se aceite, que a estratégia política do poder capitalista desvie as culpas para oriente, cavalgue a crise com gozo, goze a ocasião de fazer mais uns empréstimos de elevado rendimento e aproveite a oportunidade para manter o joelho no pescoço do mundo do trabalho: é assim a história - "trabalhadores de todo o mundo: uni-vos!"

Agora que nos digam que a vacina vai demorar nove meses e três dias a aparecer, que vão morrer cem mil aqui, que já morreram cem mil acolá, que não mexamos nas maçanetas nem em martelos chineses, que repudiemos todas as concentrações onde estejam comunistas, que isto é assim e isto é assado, dizendo isto um dia e o contrário amanhã, que há meses nos venham a apresentar números estatísticos de valor técnico nulo, com uma certeza no cagar que brada aos céus,  isso é tomarem-nos como tolos: 

- O défice vai para tanto, vírgula tanto por cento; a dívida pública vai chegar aos não sei quantos milhões; o desemprego vai subir para os tal, ponto tal; o PIB vai cair para o valor de mil novecentos e não sei quantos; os pobres vão ser não sei quantos mil!...

Puta que os pariu! Ninguém sabe como vai ficar o porto depois da tempestade! Vão gozar com o pai vosso que o nosso nos dará o pão nosso de cada dia! Já sabíamos que iríamos ficar mais pobres antes de se falar de pandemia, se não aparecessem oportunidades, inventá-las-iam!
Procriadores de "trumponaros" fodei mas ide-vos foder! A vossa cama não é a nossa! O vosso futuro não é o nosso!

2 comentários:

zambujal disse...

EH!, pá!
Sinto-me orgulhoso de ser vassalo de tal rei, sinto-me bacorozinho.
Com reis destes nem são precisos bobos da corte e sua palhaçadas como anda p'raí um PdaR.
E o que é que dizes Sebastião do Costa Silva acabado de chegar de Alcacer-Quibir do Sal?

Viva a ironia, que com ramelas não vamos lá...

Jorge P. Guedes disse...

REI

Perante tal majestática bacorada, só me resta o rapapé devido.
Uma questão se me alevanta, porém: será que a hidroxicloroKoisa é que nos vai salvar, agora que alguns padres afirmaram em público, não em púlpito!, que a Senhora nunca apareceu lá para as bandas de Fátima? Um milagre precisa-se!

E com vossa licença me retiro como entrei, pé ante pé mas de cerviz levantada perante os trumponaros da paróquia.