Aparentemente ainda não proibiram nenhuma canção, ainda não fuzilaram nenhum poeta, ainda não ilegalizaram nenhum partido dos trabalhadores. Mas boicotaram alguns cabos de microfone, silenciaram a melodia de certos poemas e abafaram o eco das palavras de ordem da avenida.
Sofro com a História, canto a memória dos antifascistas caídos em combate mas, por vezes, entrego-me rendido ao meu sofá, sinto-me um republicano em plena idade média e imagino o povo telespetador a rezar com a informação que lhe une as mãos:
- O nosso presidente é como nós! Crente!
- O nosso governo é como nós! Não é português! É FSE!
Somos brancos com algumas manchas, como os lençóis do santo sepulcro. Fomos formados na leitura dos livros de cowboys, respiramos a poeira dos filmes do oeste.
- Os americanos foram à lua!
Pobre europa! Pobres iberos que apenas ocupam os seus lugares, nos bancos das igrejas e dos estádios ou no auditório quando o convidado é conhecido da TV e acreditam piamente no futuro que a Senhora do Monte lhes reserva, na sabedoria do Ronaldo e no informado Nuno Rogeiro, filho de algo e de alga.
Uma multidão de imbecis, conduzida por um bando de imbecis, a banda a tocar, a malta a beber umas bejecas. Lá longe, soldados que morrem na boca dos canos de comandantes obedientes, é preciso é guerra para animar o baile e a economia! Ganha a América, a Rússia, a China! Pobre Europa! Pobres daqueles que só agora dizem que em África falta o trigo para fazer pão!
Sabem que mais? Nomes grandes do mundo, das grandes nações, das grandes organizações, engravatados ou com a saia pelo joelho, gajos e gajas com o poder que outros gajos e gajas sem nome vos atribuem, augustos, santos, silvas, vão para o milhazes!
O Costa? O Costa é parvo!
Rendo-me! Exultai! Rende-se um revolucionário. Não me rendo por não ter munições mas por não saber de que lado dispara o inimigo e também não saber nada do futuro. Ao menos que eu conseguisse falar com Marques Mendes, com a Senhora do Monte ou com aquele vidente que há quatro séculos previu que iria haver uma guerra entre duas nações e só uma venceria.
Sinto-me um republicano em plena idade média. Pretensioso? Não, desprezado! Só? Não, bem acompanhado! Fazendo parte duma organização de classe!
A vida é curta, encurtá-la com canhões é inaceitável! Abaixo o imperialismo, russo, americano, chinês, inglês, francês, português e todos os nacionalismos fascistas! E abaixo a populaça que toma partido por aquilo que vê na TV ou na televisão, no Facebook ou na Internet!...
- Soy um néscio portanto!? Não, por que sim!
2 comentários:
... cito-te
" é preciso é guerra para animar o baile e a economia!"
e ganham todos (excepto os que perdem)
Também serei néscia, portanto!
Abraço
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