sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Peditórios de todo o país, uni-vos!

Quando chegou a minha vez de chegar à caixa registadora respondi:
- Não não vou dar nada, não dou aos pobres pela mão dos ricos!
 Tudo ficou de me comer: a senhora que ia atrás, o senhor que saía à frente, a operadora, a caixa , a câmara de videovigilância, o maior acionista!... 
Mas ninguém me comeu, ninguém se atreve a engolir ou mastigar aquele que lhes parece um monstro.
Também ninguém se prestou sequer a pôr a hipótese de eu ser pobre.

A verdade é que estou farto de peditórios.

É na caixa registadora e à entrada e saída do supermercado, e lá dentro o produto com a esmola incluída no preço, é à entrada e à saída do emprego e é lá dentro a colega irresistível, é o filho que traz umas rifas da professora de religião, é o professor de grego que quer ir com a turma à Grécia, é o cunhado que é sócio da associação columbófila, é a sogra que é confreira de São Vicente Paulo, a vizinha bombeira, é campanha, é sorteio, é na feira, é na rua, é nos semáforos,  é a santa de Fátima, é o relógio para a igreja, é contra a fome, o cancro e a cegueira, é pelas crianças, pelas mães solteiras e pelos idosos e é, sobretudo, porque é Natal, porque o Natal é economia, é dinheiro, é consumo, é comer, é uma gaita. O Natal é uma gaita!

Mas ao menos que concentrassem a atividade, que fizessem um império do ramo.

Façam  um único e grande peditório porque já não há paciência para tanta caridade avulso.Peditórios de todo o país, de todos os motivos e de todas as ocasiões: uni-vos!

(A água do rio não se trata na foz, cuida-se desde da nascente)


3 comentários:

Janita disse...

👏 👏 - Isto sou eu a aplaudir! Tem toda a razão, depois ficam toneladas de víveres perecíveis ( sacos de batatas e afins) nos armazéns e acabam por apodrecer. Aconteceu aquando do peditório para as vítimas dos incêndios.
Não quero ser faciosa e estar a aplaudir na frente do Monarca e por trás fazer diferente. Este ano lá fiz o que não é meu habito fazer. Aquando do peditório para o Banco Alimentar, agarrei no saco de papel que uma jovem sorridente e bonita - ah, como gostaria de a ter por neta - me estendia e, ao invés do costumeiro:" Já dei" - trouxe e entreguei o saco com meia dúzia de coisinhas que todas as crianças gostam: leite achocolatado, biscoitinhos, e a única coisa para as mães era a massa aletria.
Enfim...é Natal, sabe?! Podemos ser 'trouxas', uma vez, de vez em quando, apaziguando a nossa noção de uma boa quota parte na culpa de haver tanta criança suspirando por algo doce...
Um abraço, caro Monarca Pata Negra.

PS_ Estou quase a terminar a leitura do 'nosso' homem.

Tintinaine disse...

E eu já terminei! Dei-lhe um empurrão, ontem, e acabou-se, volto às minhas leituras habituais. O presente livro sobre o S. Tiago de Compostela é uma dose que não esperava, mas, por curiosidade, continuo a leitura.

Rogério G.V. Pereira disse...

Excelente retrato
Mas... cuidado
Teu desabafo
pode ter mais impacto
que teu apelo

"Mas ao menos que concentrassem a atividade, que fizessem um império do ramo"
Eu nunca diria tal...
Há o risco
de alguém pegar nisto
(se é que já não pegou...)