Amigos que se contam pelos dedos de uma mão, por quem o telefone toca e apenas para conversas que não se têm com mais ninguém. Às vezes por coisas que ninguém liga como:
- Estou a ligar-te para saber em quem vais votar nas presidencias.
Não coincidimos no sentido de voto, mas alongámos essa reflexão para muito mais além, para outras dimensões, sem que a divergência pudesse perturbar a nossa relação intelectual e, muito menos, a da antiga amizade de convergências, cumplicidades e noites brancas.
Entretanto, fora da regularidade esperada, a surpresa duma nova chamada:
- Ainda não fez um mês que falámos? Questões de amor ou dinheiro, não são certamente e não és daqueles que pega no telefone por toma lá-dá-cá um bom Natal.
- Espero que estejas bem! Estou a ligar-te para te informar que alterei a minha intenção de voto: vou votar no António Filipe!
- Até que enfim! Estava a ver que não chegavas lá!
O diálogo continuou e caiu, sem propósito, nas falas abertas pelos próximos travessões. Relatar a abordagem do assunto por escrito, pode tocar de modo desajeitado o perfil do candidato e trair uma certa forma de estar na política, mas não tenho por feitio fazer a centrifugação das ideias quando comunico pelo que, resultante do distanciamento da figura pública do António Filipe, a pergunta surgiu naturalmente fria e banal:
- Sabes que lhe morreu a mulher já depois de ser pública a sua candidatura?
- Não acredito! Ou melhor, se tu o dizes acredito! Porque não foi notícia? Se tivesse acontecido com qualquer outro candidato teria preenchido manchetes e abertura de telejornais!
- O que deve ser motivo de reflexão é o carácter duma candidatura que não deixa espaço para que essa vivência perturbe uma campanha pessoal para um eleição!
Na verdade, não me importa que esta crónica encerre numa contradição. A realidade foi: estive ao telefone com um amigo que me ligou para dizer que ia votar no António Filipe porque sabia que eu conhecia melhor o António Filipe do que ele. Os factos são: o António Filipe vai ter mais um voto do que eu esperava. A conclusão é: isto vai meus amigos, isto vai!

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