quinta-feira, 21 de março de 2024

DEMO lição do conceito de poesia

 


Estou realmente farto da realidade. Há dias para tudo: dia da árvore, dia da sesta, dia do orgasmo, das zonas húmidas e da poesia. Da poesia é hoje. Hoje é, portanto, um dia de abstração da realidade e, nessa linha, apetece-me demolir o conceito de poesia.

Comecei os meus estudos de poesia na análise académica das poesias de amor, escárnio e maldizer dos meus pares medievais e pergunto: aquelas bacoradas do Dinis são poesia?!

Andei de desafio em desgarrada nos montes e tabernas dos poetas populares e pergunto: fazer rimas, é poesia?!

Vivi a poesia do amor de mãe, do canto das aves, das árvores e dos vales, das pessoas bonitas e pergunto:

A natureza é poesia?!

Estudei os ditos "grandes poetas" portugueses e estrangeiros e fiz deles companhia de cabeceira, cantei, chorei, amei, enlouqueci com eles. Dos entender nos seus múltiplos entendimentos, desmultipliquei-me e desentendi-me, desentenderam-me, dei comigo perdido no meio de todas as palavras e de nenhumas sensações, rejeitado pelo senso comum de maus leitores.

Por isso não me peçam definições de poesia, não me ditem regras, não me digam o que é e o que não é. A poesia é tudo e não é nada! Quereis poetas dos livros, comprai-os! Quereis poetas do povo, ide às tabernas! Quereis sentir o canto da natureza, saí da cidade! Quereis sentir as ruas versejando, saí do campo! Quereis-me com vestes de poeta, poeta em cuecas ou todo nu? Aqui me tendes!

Na tropa eu tive a alcunha d" O poeta". Parece que ainda ouço as palmas do pelotão quando acabei de recitar este poema no jantar da passagem a pronto:

 "Estive na cidade dos homens azuis,

fica no céu. Aquilo é que são homens!

Mas eu não os vi, porque, o céu também é azul.

 Gostava de lá voltar com todo o respeito

que tenho pelo meu namorado

mas, o respeito que tenho pelo meu namorado,

recusa-se a ir a pé!

Foi por isso que roubei uma bicicleta a um empregado da câmara municipal,

fui presa, ainda não percebi porquê!

 Os homens azuis são como eu nunca os vi,

são como o meu namorado...

 (poema oferecido pela minha namorada ao seu namorado)"

Cuidado com os homens que são dados como poetas pelos soldados!

Este é o melhor poema que fiz em toda a minha vida! E, se este não for o melhor poema que leram em toda a vossa vida, vós estais do lado errado da poesia! Se para vós, isto nem sequer é poesia, então meus caros, vós sois lúcidos demais para a alma do poeta! Nem no epitáfio merecereis um verso meu! 

1 comentário:

Janita disse...

Se a memória não me trai, era russo o escritor que escreveu o "Diário de Um Louco".
O Pata Negra, pró russo por vocação, escreveu aqui o "Poema de Um Louco", cheio de convicção e nonsense qb.
Porque não? Achei muito legítimo e até achei graça.