quinta-feira, 11 de julho de 2024
Tudo está consumado
sexta-feira, 5 de julho de 2024
À morte ninguém escapa
Tanto a minha mãe como o meu pai morreram prematuramente e, obviamente, eu fiquei orfão, também prematuramente! Portanto, de morte, já tenho o meu quinhão, embora tenha de reconhecer que, verdadeiramente, conhecedor do assunto só o serei tardiamente na minha hora, que acontecerá, espero, a partir deste preciso momento, num tempo que não me permitirá falar da minha experiência pessoal.
Na última semana morreram várias pessoas em Lisboa, no Alentejo, em Trás os Montes e, em Trás dos Matos, que é uma aldeia da freguesia de Vila Cã, ouvi dizer que também lá morreu um homem. Peso de modo igual a morte dessas pessoas mas mais a pesaria se alguma delas me fosse próxima. Não podem é acusar-me de frieza por não ir no embalo mediático das mortes da semana, de aqui-d ’el-rei tens de chorar votos de pesar por nomes sonantes da arte ou da política, do desporto ou da fortuna, que me dizem tanto, enquanto mortos, como o senhor de nome provável José, natural de Trás dos Matos, que eu nunca conheci e de quem nunca ouvi falar.
Na morte
somos todos iguais, não é o que dizem? Pois saibam que não verto uma molécula
de lágrima por alguém que nunca me tenha dirigido a palavra ou a simpatia,
embora compreenda que alguns, em quem o poder da morte não é tão cérceo, sejam
reconhecidos anonimamente pela sua arte, pela sua luta, pela sua destreza
ou pela sua riqueza. Se o senhor José fazia esculturas de paus de louro,
pertenceu à junta de Vila Cã, jogava bem à malha e deixou uma quantidade
considerável de certificados de aforro, não vai ser por isso que eu o choro
mais ou menos. Por isso, famosos, podereis ir morrendo que não perturbareis o
meu santo sono diário e muito menos o eterno.
À morte ninguém escapa, nem o rei, nem o cura, nem o papa. Mas hei de escapar eu! Tenho aqui um vintém, compro uma panela, meto-me dentro dela, tapo-me muito bem! Vem a morte não me vê. Bons dias meus senhores passem todos muito bem!
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Tomei partido por uma caixa de sapatos
quinta-feira, 20 de junho de 2024
O doutor Zé António
O doutor é um poeta da palavra - das palavras!... O doutor dá melodia às palavras e os seus versos sabem a música. O doutor sabe muito. O leitor também tem de saber alguma coisa para entender a palavra - as palavras!... perceber e sentir a melodia e consumir os versos do doutor.
Quem não sabe nada nem entende - quanto mais sentir! - as palavras "enversadas" do escritor - perdão! doutor - é o Zé António. O Zé António lê nas flores o canto da próxima colheita, conhece cada ave pela melodia do assobio, sacia-se com a sonoridade da água que sussurra numa queda do regato, fala com a ovelha mãe e desabafa sentimentos com o vizinho meio doutor.
E o vizinho, que tem livros em casa, desiste de ler e bebe um copo com o Zé António para ver se aprende a olhar para as flores, a conhecer os pássaros pelo que cantam, a avaliar a água que acrescentaram ao vinho e a conhecer cada ovelha pelo seu olhar.
E no fim do copo, tão pequeno como a conversa, o Zé António a rematar:
- Pá! Não penses mais nisso! Tás cum olhar que parece o do meu carneiro mor! Isso há de passar! A mim disse-me que eu vou morrer mas não sabe quando! O doutor sabe pouco!
sexta-feira, 14 de junho de 2024
Terra-mãe
Ontem visitei a minha mãe. Já não é a mesma que conheci quando eu crescia. O alpendre da avó foi com um vento, a eira do tio foi com uma enxurrada, da casa do bisavô não resta nada. E foi morrendo cada geração e ela ficou ali rapando o sol e mastigando o frio. Podia ser pior. Passa um trator com corta-mato e o tratorista acena a tudo o que mexe. A Sagrada Família ainda vai de casa em casa. Podia ser pior!... O doutor de letras restaurou a casa que herdou do pai. Isto vai! Digo que sim, respeitando quem o diz mas a minha mãe não tem a mesma alegria. Os filhos tiveram mais partidas que regressos. Vêm ver uns marcos e dar algum dinheiro para o andor. Deus Nosso Senhor lá sabe. A minha mãe tem a flor da pele marcada pela ausência das sombras das árvores que os incêndios levaram. A minha mãe tem os cabelos despenteados pelo fim dos arados que os tempos levaram. Já só a visito por ser mãe e folgo em saber que ela está para durar nem que seja só para enterrar os que vão morrendo. Outros destinos traíram-lhe o destino.
terça-feira, 4 de junho de 2024
O meu companheiro da quarta classe
Para fazer o exame, fomos os dois sozinhos, a pé, até Albergaria e apanhámos a camioneta para Pombal. Toda a gente dizia que eu ia dar um lindo padre (ia) e fui todo o caminho a rezar ave-marias para o Cuca passar e eu não vomitar. Não me recordo mas a professora, que era da vila, devia estar à nossa espera e deve-nos ter acompanhado à escola grande onde prestámos provas. O facto de, da nossa escola, termos passado cem por cento, obrigava a professora a cumprir a promessa de nos levar ao castelo que só conhecíamos de ver ao longe.
Para nós, poder tocar nas pedras dum castelo seria uma forma de realizarmos parte das fantasias que as imagens dos livros de História nos ofereciam.
Acontece que a professora, por estar nervosa com o período dos exames ou por outro período qualquer, disse-nos chorosa que estava com tamanha dor de barriga ou de cabeça, ou das duas coisas, que não conseguiria fazer tal passeio mas que ia pedir à mãe dela que fizesse as suas vezes.
E lá fomos os três, nós ligeiros de idade e felicidade, e a senhora a passo de bengala, ofegante mas segura no cumprimento da missão. Quem conhece sabe que o monte, subido a butes não é para qualquer idade ou condição e a pobre mulher viu-se obrigada a desistir já se avistavam as portas:
- Os meninos vão lá que eu os amparo daqui com os olhos mas não entram que eu não os quero perder de vista!
Desculpa lá, companheiro de classe, acabar a homenagem assim mas de ti irei guardar memórias de brincadeira da escola e de que eras um tipo lixado para a bola.
sexta-feira, 31 de maio de 2024
A coisa começou a correr bem ao homem depois de 74: mais esperança, mais liberdade, menos medo, menos fiscalização, animaram a sua atividade de caixeiro viajante e os seus negócios começaram a prosperar.
Sabia-se que, para tal sucesso, era necessário untar as mãos a
guardas fiscais, republicanos e outros mais. Sabia-se que não trabalhava com
letras, nem com cheques, nem com bancos. A massa viva guardá-la-ia onde
só Deus sabia mas, quando os maços começaram a ficar grossos, temendo um diabo
que os levasse, começou a dar-lhes caminho fazendo anexos, muros e escadas,
latadas, portões e arruamentos, valorizando assim o seu quintal, dando trabalho
a alguns e vida à terra.
Pensava numa de noite e de manhã ia falar ao pedreiro e a uns jovens estudantes que gostavam de ganhar algum e... mãos à obra. A mim, talvez por me achar um trinca-espinhas, por me ter por contestatário ou por não engraçar comigo, nunca me falou para fazer nada.
Sem nada
para fazer, peguei na motorizada para dar uma volta e parei para apreciar os
trabalhos e dar um ponto de conversa aos meus amigos. O muro estava
praticamente acabado e, como alguns dos serventes já andassem de mãos penduradas
e houvesse sobras de blocos, deu-lhes o homem o trabalho de fazerem mais duas
fiadas sem cimento - pelo menos ficavam arrumados.
- Rapaz, eu não te falei porque já sabia que és uma caga-agoiros, some-te daqui antes que leves uma pazada!
Não tardou nada, o muro tombou e eu vi-me obrigado a rir. Antes que o homem descarregasse em mim a sua ira, sorte a minha, pára o jipe da GNR e foi com eles que ele desabafou do seu azar, enquanto a malta olhava para o bonito serviço e eu me dirigia para junto da minha motorizada.
Entretanto
aproximou-se de mim um guarda e perguntou-me pelos documentos e pelo capacete.
- Mas a
mota está parada, o senhor não sabe nem se é minha nem se eu me desloco nela!
- Sou testemunha que a mota é dele e que ele aqui chegou nela sem capacete!
Para acelerar a alhada que se estava a desenrolar, o filho do homem, que havia ido ao café buscar umas cervejas para o pessoal, chega a acelerar na sua Zundap e, para animar a história, também não trazia capacete.
Bem
podia eu animar ainda mais a história, prolongar o texto com discussões
fictícias mas a verdade é que, traído pela memória, pela imaginação, pelo jeito
ou pela vontade, por mais voltas que dê pela tecleta (palavra criada agora
mesmo da composição de teclado com caneta), não consigo desembaraçar-me da
incoerência e chegar com pés e cabeça à frase final que tinha pensado:
-
Não há gatos polícias.
quarta-feira, 22 de maio de 2024
Não gosto da vossa europa
- Eu queria uma Europa que não se armasse, que não desviasse a água do meu milho e que não me obrigasse, depois, a fazer guarda à eira.
quinta-feira, 16 de maio de 2024
Que os coletes verdes os salvem
Hoje em dia, o colete
verde está para os peregrinos de Fátima como o colete encarnado está para os
campinos.
Nestes dias, entre os
automóveis viram-se muitas tendas e coberturas de plástico. Ao menos um parque
de campismo em Fátima! Nunca ninguém se lembrou!? É de bradar ao Céu!...
sexta-feira, 10 de maio de 2024
Mães
sábado, 4 de maio de 2024
Abdul Nawaf tem 12 anos e deixou de falar.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
A morte saiu à rua
Singular, foi um homem singular.
(Vou ter de me equilibrar evitando as três pessoas do singular, os egos de "eu", lamechas de "tu" ou referindo-me a "ele").
Ele foi conhecido como militante do Partido Comunista Português. Tu foste um natural de Lisboa apaixonado por Ourém. Eu experimentei o sabor da tua amizade e vivi o interior desse triângulo em que tantos te reconhecerão: Amigo, Ourém, Partido.
Sei que o coletivo fez e fará proveito da sua militância, do seu conhecimento e do seu legado político. Mais tarde ou mais cedo, a sua terra terá de engolir o preconceito e realizar atos de reconhecimento que não lhe fez em vida. Resta-me, portanto, dar testemunho daquilo que tantos receberam dele, a capacidade extraordinária de criar e alimentar a amizade.
Ele tinha idade para ser meu pai, mas nunca mostrou qualquer gesto de paternalismo. Pelo contrário, às vezes as coisas descambavam para a brincadeira e eu tinha a sensação de estar a conviver com um amigo da escola.
- Vamos lanchar?
- Então telefono para casa a dizer que não vou jantar!
Dar a volta a todos os temas e assuntos, pôr a conversa em dia até chegar ao pleno da amizade plena: o tempo do silêncio com cada um a olhar para o seu lado, a mastigar as ideias ou as iscas. E à quinta:
- Este tipo que te veio cumprimentar é teu amigo?
- Conhecemo-nos, mas nunca bebi quatro imperiais com ele!
- Adotei também esse mínimo como critério de amizade. Aprendi tanto contigo pá! Até a ser amigo!...
E depois, chega-se agora ao fim e tem-se a agradável sensação de não se estar só, de serem tantos os que passaram para além das quatro. Tantos os que conviveram com um "homem-centro-cultural", que tiveram que responder à proposta "temos de fazer coisas, pá", que sentiram nos ombros a palmada de incentivo " está porreiro aquilo que fizeste, pá" , que ouviram a referência a terceiros na forma "é um tipo extraordinário", que presenciaram o respeito pelo limite das idiossincrasias (um termo que usava).
E, no entanto, ele cuidava de cada amizade com particular dedicação. Há três semanas, abraçou-me as mãos dizendo-me "gosto muito de vocês", trazendo para o afago a célula familiar.
- Falaste-me do provável caminho da demência e que já não te despertava interesse, nem a novela nacional, nem a situação internacional. Percebi que estava a viver uma despedida. Aquilo com que frequentemente enquadravas os milímetros da nossa existência nos quilómetros da História, era representado na tua fragilidade. A tua humanidade vai ter de dar-te mais uns milímetros, vamos recordar-te ainda por uns tempos Zeferino:
- Disseram em toda a parte o Sérgio morreu.
sexta-feira, 26 de abril de 2024
Vá, façam vocês em novembro!
Gosto de estar à beira mar sentado a observar, uma a uma, as pessoas a passar, de lhes medir os corpos, de lhes julgar o andar, de lhes estudar expressões e de especular acerca de quem são e de onde são.
Nada que não se possa fazer numa paragem de descanso de desfile de manifestação aos Restauradores. E estava eu ali sozinho nesse entretém quando uma senhora de 80 anos upa lá, de mala de senhora pela curva do braço, de vestuário bem encaixado na idade, muito mais baixa que eu, que não sou alto por aí além, encostou a sua isolação à minha e estendeu-me unicamente estas palavras, assim sem mais nem menos, sem boa tarde, sem adeus, ou quem és tu:
- Eu nunca vi tanta gente em toda a minha vida! Ui Jesus, o povo que para aí vai! Venho lá de cima do Marquês e vem gente de todas as ruas, a Avenida é uma enchente, aqui é o que se vê! Credo Santo nome de Deus! Em toda a minha vida nunca vi tanta gente!
E dito
isto seguiu, de passos pequenos mas frequentes, para o Rossio. Não faço
ideia de onde vinha, para onde ia ou porque estava ali. Nem sequer interessa se
era manifestante, transeunte, se ia para sua casa que era logo ali, se dava a
sua volta habitual ou se ia apanhar a camioneta para o Samouco. O que fiquei
foi muito contente de ter visto aquela senhora entre tanta gente e de entre
tanta gente ela me ter visto a mim e de ambos termos visto tanta gente como uma
senhora nunca viu em 80 anos.
sexta-feira, 19 de abril de 2024
Tratem-me da saúde
A minha carteira tem cartão de condução, cartão do contribuinte, cartão de eleitor, cartão do cidadão, cartão de residente, cartão do banco, cartão de desconto, cartão de cliente, cartão de ponto, cartão de juventude, cartão do sindicato, cartão da associação, cartão do clube, cartão de utente, cartão de saúde!...
Enfim,
sou tanta coisa e a minha identidade esta a rejeitar todos os cartões.
Sei bem onde tenho a carteira, desta vez não a perdi, ela é que me perdeu. Procuro-me e não me encontro! Já corri a estante, o quintal, os montes e vales das redondezas, a casa da Mariquinhas e, nada, não há sinais de mim! Se por acaso alguém encontrar um indivíduo com cara de mau e despenteado, desnorteado e sem centro, com ar desempregado, com carteira, sem cartões, sem saúde mental e sem dinheiro, devo ser eu. Nesse caso, é favor contactar-me através do número de telefone: 249001974.
Sem saber
do meu paradeiro, dirigi-me ao Centro de Saúde. Achei muito estranho,
estava tudo mudado, o balcão de atendimento, outros funcionários, etiquetas com
preços por todo o lado... e atendeu-me uma senhora com um estranho soutien.
- Olhe
minha senhora, eu concordo inteiramente com o princípio do utilizador-pagador,
se você fumou e contraiu cancro, se comeu muito toucinho e teve um à você,
se andava na azeitona e caiu de uma oliveira, porque diabo hão de os saudáveis
pagar os seus descuidos!? Um país não pode hipotecar a sua economia
na prestação de serviços de saúde a quem não se cuida ou no prolongamento
da vida de quem já nada pode dar à sociedade! Mas o meu caso é
diferente, eu não estou doente por culpa própria! Foram os governos e as suas
sociedades anónimas que me trataram da saúde e da identidade! Agora exijo
que me informem do meu paradeiro, que me localizem, que identifiquem a minha
situação, que me deixem viver sem cartões e que me atribuam um subsídio
para a substituição das fitas coloridas do guiador da minha bicicleta!
- O sinhô
é uma meda! Não pechebe nada! Isto já não é um centlo de saúde! É
uma loja de chineses!
- Ah é!?
Se eu sou uma meda porque é que me comem todos os dias!? Querem cartões?!Querem
identidades?! Para mim não existem chineses, nem pretos, nem brancos, nem teslas,
nem bicicletas! Existem apenas porcos e suinicultores!
E, dito
isto, num impulso de rara lucidez, peguei num monte de cartões de
embalagens que estavam atados à entrada do edifício e fugi com eles em
cima do guiador da minha bicicleta.
Já estou
melhor, vendi os cartões, fiz algum dinheiro e pu-lo na carteira. Recuperei a
identidade e a sanidade. Peço desculpa pela banalidade do texto, termina aqui.
Tenho mais que fazer, vou às bombas beber um café, comprar tabaco e abastecer a
bicicleta.
quinta-feira, 11 de abril de 2024
Antipático o raio que os parta!
O fotógrafo rabeava à minha volta no pequeno estúdio, dando jeitos em tripés, projetores e na minha pessoa: gola, cabelo, cabeça, ombros e o raio que o parta, nunca mais estava tudo bem. E, na hora do passarinho, nem ele, nem a minha mãe, me conseguiram arrancar a expressão da lei: uma pessoa para ficar bem na fotografia tem de arreganhar.
Foi assim e assim continuou a ser em todas, conforme testemunha um quadro que tenho na sala com cartões de identidade da juventude: de estudante, da JCP, de militar, de sócio da ARCA, passageiro da CP, condutor de velocípedes e músico de cabaré.
Sou, portanto, um fulano sisudo, carrancudo, incapaz de responder com uma gargalhada a uma boa anedota, que só mostra os dentes se tirar a prótese.
A minha primeira foto tipo passe foi para tratar da documentação
da matrícula no ensino preparatório. A minha mãe lá foi toda contente, comigo
de má cara ao lado dela, e só voltou a dar um passo pelos meus estudos quando
foi com o meu pai a Coimbra carregar o carro com as minhas gabardinas e
sebentas. Foi então que me fez a pergunta: “Filho, que curso é que tiraste que
as pessoas perguntam-me e eu não sei dizer?”.
E o meu pai virou-se para ela, apontou para mim e observou
contente:
- Mulher, afinal ele ri!
Já com o canudo, tentei candidatar-me a tudo e quando candidato à Junta da minha freguesia, ao fim de horas de sujeição à tortura fotográfica, nem um dente brilhou na objetiva, pelo que os responsáveis da lista desistiram de mim com o objetivo de não afastar os eleitores.
Na verdade eu rio-me muito por dentro, a maior parte das vezes de
mim próprio e nunca me conformei pelo facto de tanta vezes me dizerem, com
descarada simpatia, que sou um mal-encarado. Também já me aconteceu rir com
amizades novas que me revelam: enganaste-me bem, afinal és um monstro de
simpatia.
A verdade é que o atributo de ter cara de poucos amigos,
prejudicou de tal modo a minha carreira e a minha vida, a ponto de me ir
reformar na mesma classificação em que comecei, cepa torta e de, com esta
bonita idade, ainda não ter passado do primeiro casamento.
Na verdade… a verdade… mirando a foto e o espelho… eu era e sou
bonito!