sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
Nestes últimos tempos
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
Dia das maculadas
Faz com que o vinho não se acabe nos tonéis
E a aguardente seja cada vez mais forte
Juro, beberei, beberei até à morte!
E é por isto que eu bebo e só escrevo por isso:
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
dezembro
Dezembro. Estou completamente dezembrado. Inverno e chuva. Morte aqui e acolá. Dizem que é uma pandemia. A República é um autêntico pandemómio. O presidente da república é um pândego fascinado pela ereção dos seus próprios mamilos. O primeiro ministro dá-nos as suas palavras de cada dia como um padre que do púlpito interroga a sua própria fé. Há que inventar frutos proibidos para que a populaça se iluda que o que se pode fazer, está a ser feito. É só fumaça. Não encham os hospitais. Crê-se que os cemitérios não esgotarão a sua capacidade.
A televisão não cumpre o seu papel, delira com números, especialistas, estudos, previsões e profecias. Os comentadores choram os que caiem nas margens da pobrezas ao mesmo tempo que batem em tudo o que cheire a organização de trabalhadores. Os capitalistas mudam as agulhas à cata de novos investimentos, os apologistas do privado apelam ao estado.
Os serviços de saúde cumprem o seu papel, profissionais esquecem as humilhações e tratam dos doentes. Os comentadores pedem palmas aos da linha da frente, assim lhe chamam eles, ao mesmo tempo que batem em tudo o que se refira a empregados do estado. Os capitalistas também querem ganhar com a doença mas avançam que o setor privado não existe para tratar pandemias.
Entretanto é-nos anunciado o Natal. Só nos faltava o Natal. Pois eu que não vou de simpatias com os presidentes e ministros da república, com o jornalixo da televisão, com o Natal de paixão pela mesa cheia e compaixão com os pobrezinhos, não me incomodo. E também gosto de ficar em casa a escrever, mesmo que saia um texto sem grande sentido e sem grande razão, como é o caso.
domingo, 29 de novembro de 2020
Dia da Restauração
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
A propósito do congresso do PCP
- E o Bolsonaro? Alguém disse e todos concordaram que em família não se fala de política.
A prima Augusta chegou à mesa quando a carne já estava toda nas barrigas e ninguém ousou questioná-la pela mesma razão de que nunca se fala a um muçulmano em porco.
Na televisão barafustava-se contra a realização do congresso do PCP. O assunto saiu do écran para a mesa e todos barafustaram em favor do que era dito e houve até quem não resistisse a manifestar o seu conhecimento sobre a pandemia na Coreia do Norte. Ouvi também que um congresso não é a mesma coisa do que uma convenção.
Creio que estavam à espera que eu falasse mas eu, velho em conversas, apenas pensei para comigo: é preciso paciência!
Se eu não gostasse tanto de leitão nunca teria participado naquele jantar! Também gostava de conhecer e ouvir a Augusta, a prima das causas toleradas. Quem sabe, ao menos com ela, eu tivesse alguma hipótese!
Tirei daí a ideia e fui sozinho para casa a pensar: se eu por acaso apresentar alguns sintomas não me irão poupar!...
-Os comunistas! Os comunistas!... e lembrei-me dessa canção do Caetano Veloso...
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
O vale tudo
Aqui neste vale sem nome onde o rio só corre quando chove, de onde se vê ao longe um povoado grande que é aldeia e mais perto um sítio com capela e dez ou doze casas e, de resto, a vista se enche com olivais, vinhas e pinheiras - aqui vivo.
o tempo, por quem dobraram os bombeiros, de que família era o falecido, porque não deram os tomates este ano, o pó ideal para o corcomilho e "o que eles querem agora"…
Querem que o Tó Zé tire um curso para ter uma carteira que o habilite a tratar do gado de que sempre tratou desde criança! Querem que ele diga onde põe o estrume dos animais!
- Na terra! Ora que porra! Onde é que eu o havia de pôr?!
E o Tó Zé a malandrar:
- Mas tu não és porco lá na "internete" ou lá o que isso é!? Afinal agora queres ser burro!?
O Tó Zé não me trata como um animal, não me diz: asta pra lá, tens fome, estragaste a palha toda, estás triste, falta-te o macho e outras longas conversas que ele trava com o gado. Fala assim para mim, por amizade e porque me acha estranho.
- Já chega por hoje Zé, nem mais um, não bebo mais, sinto-me estranho! Vou estranhar!...
sábado, 14 de novembro de 2020
A "comparação" é o verbo do povo - Ricardo Araújo Pereira
Tão grave como o PSD fazer um acordo com o Chega é Ricardo Araújo Pereira ter no seu Governo Sombra o João Miguel Tavares.
Ricardo Araújo Pereira é uma espécie de Cristiano Ronaldo do humor. Admiramos de tal forma o que eles fazem e os estatutos que daí lhes advêm, respeitamos de tal modo a sua fama e a sua fortuna que somos incapazes de os pôr em causa, antes os bajulamos e temos como intocáveis. Quando muito, podem existir alguns que lhes dedicam aquela consideração que tantas vezes ouvimos: "José Saramago é um grande escritor mas não aprecio a maneira como escreve".
Ricardo Araújo Pereira pode ridicularizar qualquer personalidade de proa, fazer-nos rir dos figurões nacionais, troçar até mais não do mais alto magistrado da nação. Todos dão o "e oito tostões" para se sentarem à sua frente, com o convencimento, é certo, de que se vão sair como porreiros e que vai ser fácil a entrevista porque já lhe foram antecipadamente facultadas as questões. E é sempre fácil porque o humorista quer apenas ser um tipo engraçado e dar-se bem com toda a gente - é assim que ganha a vida.
É assim que Ricardo Araújo Pereira vai timidamente à Festa do Avante ao mesmo tempo que não recusará uma galhofa com o Chicão, um beijo na mão às Mortáguas, um abraço ao Rio, um jantar com o Costa ou uma condecoração do Balola da República.
Reconheça-se que já deu a entender que com Ventura nem uns "bons dias". Fez mais contra o Chega nos dez minutos que dedicou à sua convenção no seu programa dominical, que milhentas provas das mentiras e contradições que ao Chega dão o sucesso, que horas e horas de comentários de TV sobre novos populismos, que páginas e páginas de intelectuais democratas sobre os perigos que a democracia corre.
Mas Ricardo Araújo Pereira está num palco perigoso. Contracenar com um cabeça rapada de óculos azuis, ampliar o alcance do cronismo de direita que o quotidiano do Público concede ao seu menino, tentar fazer graça com um porteiro do fascismo, não tem graça nenhuma e talvez lhe venha a sair tão caro como o caso dos Açores ao Rui Rio.
Ainda que em diferentes papéis, João Miguel Tavares é tão perigoso como André Ventura. Ricardo Araújo Pereira estará a pecar mais do que Rui Rio, partindo do princípio que o seu humor inteligente não é assim tão ingénuo ou inocente.
domingo, 25 de outubro de 2020
O Espírito Santo e os Pink Floyd
Parte I
(A Herdade da Comporta é a maior herdade privada existente em Portugal)
terça-feira, 20 de outubro de 2020
O barbeiro toca sempre duas vezes
Augusto nasceu ali, no sítio onde a ribeira ganha caudal para ter direito a nome, nos campos onde regatos juntam forças para fazer corrente, na vizinhança mais próxima da fonte onde se enchiam os cântaros que acrescentavam sensualidade às ancas. Nunca teve sonhos de marinheiro, contentou-se sempre com a água que ia ao seu moinho, ao seu milho, ao seu chuveiro.
sábado, 17 de outubro de 2020
Terra do Não
Lembras-te irmão, de quando eras flor...
e chamavam por ti e não respondias,
pela simples razão de que as flores não falam nem ouvem?
o pai nunca mais cortou as uvas
desde que a mãe morreu!
De então para cá:
eu fui a Primavera do Sol desonrado
com a putez impotente do avô materno,
eu fui o Verão frio nas praias do mal,
o Outono assassino da tal lucidez...
e vem aí o Inverno,
e eu ainda não acredito no Natal...
- Não! Da vingança humilde aos cornos de marfim
e das rosas que deixei cair, não me arrependo!
- Quem pode acreditar que no sangue do amor navegue o ópio,
ou que na seiva das plantas o Sol se esconda para dormir a Noite?
- Eis-me chegado à Terra do Não.
Traído dei por mim no mar turbulento da civilização,
e naufraguei aqui,
Terra do Não...
- Aguardando a chegada de algas marinhas,
morrendo de mão dadas aqui,
Terra do Não...
domingo, 4 de outubro de 2020
No Jardim
Outubro Outono.
O velho do banco em frente ao lago
já traz um sobretudo...
Um cão sem dono.
O breve voo das folhas
faz-me pensar o Verão...
Um sorriso é o jardim.
Certas árvores caducas partiram.
Que seria de mim sem o tabaco?!...
O último pataco dá pra um copo.
Esta época o tio António não precisou de mim para as vindimas!
Não me importo!
Há um pato no lago.
Tenho fome.
Pró ano vou para o Alentejo guardar gado.
Doméstico, claro!
E era só!
Vou perguntar ao velho se tem nome!
(5 de Outubro? - Viva a República! Viva o Rei!... dos Leittões!...)
sábado, 3 de outubro de 2020
Em quem eu voto, às paredes não confesso
- O menino gosta é de si próprio e é pelo seu ego que se move!
Saibam que não votarei para presidir à República, na Menina Rabina que Pintava Paredes - MRPP! Arnaldo Matos - Grande Educador da Classe Operária! Durão Barroso! MRPP/PPD! Nunca me enganaram! Em nome de quem agia a revolucionária nesses tempos? Porque veio para o PS que a põe na borda do prato? A menina burguesa, que rasgou as bandeiras vermelhas para fazer um vestido de casino, mandou lixar a Revolução!
- A menina gosta é de ir à televisão e é por capricho que se candidata!
Saibam que não votarei para presidir à República, na moça que é da esquerda que acha velha a luta de classes, que acha chiques as causas fraturantes, que ondula os cabelos nas manifestações da avenida, sem nunca saber quão negro é o óleo das máquinas das fábricas, quão dura é a terra que dá os tomates. Quem financia os seus outdoors luminosos? A quem obedece o chefe de redação que a põe sempre no ar? Eis a questão.
- A menina pode ser muito engraçada mas não faz a minha graça!
Também não votarei noutros tinos e desatinos, noutros egos que terão a sua linha no boletim de voto porque, francamente, não sei ao que vêm.
No Coiso, ficar-me-ia mal estar aqui a justificar-me porque não voto nele:
- Fascismo nunca mais! - uma frase que terá de voltar para as paredes.
- Não confesso? Confesso? Ah! Já lá chegaram: por exclusão de partes. Não, não é por exclusão de partes, há gestos que têm de ser correspondidos:
Há uns tempos, eu estava no Chico de Santo Amaro no aniversário dum amigo comum e o João Ferreira pagou-me uma imperial sem me conhecer de lado nenhum. Foi um gesto de classe! Portanto, vou votar nele porque se trata duma candidatura de classe!
João Ferreira não é candidato pelo seu ego, não escolheu ser candidato, foi escolhido e indicado para ser candidato, para representar aquilo, aqueles que nenhum dos outros tem massa corporal para representar.
- Não vai ganhar? Cum caetano! Ganha o Marcelo? Mal menor! Antes ele do que o abcesso dele, o Coiso! Que importa isso? Como dizem os outros, ganhamos sempre! Sim, já ganhámos por termos uma candidatura e um candidato... de classe! E é bom rapaz!...
domingo, 30 de agosto de 2020
Os anti-comunistas que se assumam
Longe vão os tempos em que se decretaram limitações aos direitos e liberdades sem que as discordâncias fossem noticiáveis. Ainda não passaram seis meses. Olhando para trás, começamos a interrogar-nos se tinha de ser assim. Mas quem era alguém para dizer o contrário? Começam a ser esquecidos, ou pelo menos lembrados como ridículos, os desentendimentos e exaltações contra o facto de alguns parlamentares se reunirem para não se esquecerem que era abril ou de alguns trabalhadores se juntarem para lembrarem que era maio.
Entretanto, quase todos os ativos já aceitaram que a vida tem de continuar, com as devidas regras e cautelas. Lá se foi à festa de aniversário onde seria desfaçatez ter usado máscara, já se passou por Fátima a pedir contas à Senhora e estavam muitos fiéis, teve de se admitir que o tempo esteve bom mas que estava muita gente na praia naquela semana, mostrou-se preocupação por o mais novo ter ido ao festival de verão que afinal sempre houve, e ninguém contesta que daqui a duas semanas centenas de milhares de jovens e adultos se vão juntar, por todo o país, dentro de escolas superlotadas, sem que o governo tenha tomado uma única medida concreta que obrigue a algum cuidado especial tirando a óbvia obrigatoriedade do uso de máscara.
Ao longo destes meses muitos de nós já se confrontaram presencialmente com discursos indignados de alguém que apontava todos os dedos a esta e aquela situação em que se violavam os necessários cuidados sanitários. Nessas situações, em que raramente não me contenho, muitas vezes tive de dizer:
- Então e o que estamos nós a fazer?
Também agora me rebenta a contenção:
- Bem sei que as manchetes à "correio da manhã", as frases dos retângulos do facebook e as notícias furtivas da televisão é que formam a vossa opinião - mas perdi a paciência, vão não sei para onde com a Festa do Avante!...
Tenho coragem, vou à Festa para dizer Não!
sábado, 15 de agosto de 2020
Intolerante aos coisos, aos chegas....
Em fevereiro, antes da pandemia, estava num jantar de amigos e em conversa disse:
- Já avisei a família, se estivemos numa mesa onde alguém se pronuncie a favor do "chega" e eu saia, já sabem do que se trata, ou saem comigo ou me ligam para depois os ir buscar.
Imediatamente um dos convivas deu de si:
- Mas ele diz algumas verdades!".
Levantei-me e saí. Portanto, é muito simples: não conviverei, não me relacionarei socialmente com qualquer indivíduo que seja apoiante, simpatizante, eleitor, potencial eleitor, ou defensor dum mentiroso nato "que diz umas verdades"!...
E, por favor, não me atirem que corto relações com pessoas por razões políticas. Só não tenho amigos em todos os partidos porque os partidos são muitos e nunca fiz da política um critério de amizade. Mas não se trata de política, trata-se de valores e, quanto a isso, não pode haver tolerância, o mal tem de ser cortado quando está a nascer.
sábado, 4 de julho de 2020
25 de abril, 1º de maio e Festa do Avante
Caiu-lhes a máscara!