quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Trump chegará a Portugal, como o Desejado, numa manhã de nevoeiro

Cenário: 

Uma festa familiar de classe média. Três casais, seis filhos, dois avós e uma avó. Três gerações.

Duas crianças, em idade escolar, divertem-se com um videojogo de guerra onde "vestem a farda" Delta Force num cenário nova-iorquino. 

Dois adolescentes em idade de liceu, um vê no tablet uma série policial passada em Los Angels e o outro delicia-se com um reality show da TV Las Vegas.

Dois jovens universitários entretêm-se mostrando um ao outro os telemóveis, com umas novas aplicações made in USA e que, estão convencidos, irão revolucionar a revolução digital.

Porque se trata de novas gerações, os seis filhos não se separam por sexo, o mesmo não se dirá dos adultos.

As mulheres estão na cozinha, a ver na TV um talk show americano que, segundo uma, chegará rapidamente a Portugal. Excepto a avó que anda de volta dos netos a perguntar se querem coca cola e se gostaram do almoço - se não gostaram da próxima vez leva-os ao Mac Donald´s.

Os homens estão a partilhar um whiskey Jim Beam pós refeição, na varanda. Excepto o avô que está sem poiso certo vagueando pela casa, parando junto das crianças a procurar atenção e tentando convencê-los a jogar pião, junto dos adolescentes para procurar carinho e desafiando-os para um dominó, junto dos universitários para os tentar entender e recomendando-lhes um livro de João Rato. Passa pela cozinha e mostra falsa curiosidade pelo que vêem. Vai à varanda e pergunta se não querem antes um tinto alentejano e manifesta claro desprezo pela conversa.

Um dos homens é oficial de infantaria e fala da sua aventura no Afeganistão dando razões à intervenção americana e à NATO e elogios às armas e ao treino que eles têm. Ninguém o contradiz. O outro homem, que é bancário, mudando a conversa, explica a crise financeira e a inevitabilidade de adoptarmos o modelo capitalista americano. Ninguém o contradiz. Muda-se o disco e o mais novo, que é pequeno empresário, dá vivas às leis laborais da América e assegura que ficaremos na cepa torta enquanto não se acabar com os sindicatos. Ninguém o contradiz. Fechada a conversa, dirigem-se à sala e perguntam aos filhos se não querem antes ver um filme de índios e cowboys como nos bons velhos tempos. 

Todos dão pela falta do avô, procuram-no, encontram-no. Está na casa de banho a limpar o rabo a um boné que tem a bandeira americana estampada e as iniciais USA. Pergunta-se, de quem é o boné? Pode ser de todos, dele é que não é!
A avó invoca o Nome de Deus em vão tal como os americanos fazem continuamente.

Poder-se-ia dizer, o velho enlouqueceu de vez. Provou-se que não quando ele disse para a família que se juntou atrás da avó, à porta da retrete:
- Ainda terei lucidez quando um dias destes assistir à eleição, com o vosso voto, dum Trump à portuguesa! Infelizmente ainda lúcido e felizmente mais que vós. 


1 comentário:

Janita disse...

Quando me preparava para uma exclamação, afirmando ser essa uma famelga Made in USA, eis que chego ao final desta incrível cena teatral e vejo a imagem...😲 Ia-me dando uma coisinha má!
Mas gabo-lhe o engenho caro Monarca. Isso é que é ter talento para a representação e jeito para o desenho! 😅