Volto a publicar. Depois d "o bácoro que me persegue", "o homem que me persegue".
Comprar um livro é fácil:
reidosleittoes@gmail.com;
o endereço do destinatário;
12 euros incluindo os portes de correio;
pagamento no fim de recebida a encomenda na forma de "logo se vê", que é como quem diz, a combinar.
encomendas às ninhadas tem desconto do iva.
isto é o que se chama matar um bácoro e dois coelhos com uma cajadada - sim, porque entenderei a vossa correspondência como uma prenda.
Picado por
próximos decidi um dia publicar sob o título “O bácoro que me persegue!".
Teve tudo a ver com o blogue Rei dos
Leittões, com o “material” que aqui tenho acumulado ao longo de anos
e que estava à mão para se fazer uma publicação com acrescento de pouco
trabalho.
Papel é papel,
livro é livro e, se memória futura se deseja, tenho medo que um dia os discos
magnéticos, a nuvem ou toda a internet, sejam atacados por uma doença
informática e, dum momento para outro, horas de devaneios de escrita se
evaporem no caos da atmosfera da sociedade da informação.
Sabia de
antemão que não seria de esperar que quem já me conhece as crónicas se
interessasse por aí além, que santos da casa, gordos de curiosidade, passassem
pelos buracos das fechaduras, que leitores do José Rodrigues dos Santos ou do
Nicholas Sparks, gente de redes sociais, se dessem ao trabalho de adquirir um
livro de bacoradas.
Sabia também
que de autores menores, as editoras não procuram os ganhos com as vendas, que
serão sempre escassas em linha com a discrição da divulgação, mas usurpam o
necessário lucro do bolso do próprio autor.
Sabia ainda
que o que escrevo, que procuro sempre num verbo que cative quem pouco lê (quem
muito lê tem mais que ler), não é nada que mereça ser de banca; que o
linguarejar popular e a impudência, passados a escrita, podem desagradar a
culturas mais sensíveis; que o amadorismo aprisiona a ficção ao autobiográfico
e que a autobiografia só se tolera depois da fama.
Por fim,
teimoso no que é meu, avesso à exposição pública, temeroso à microfonia, teimei
que o livro só circularia em comércio clandestino ou na candonga.
E pronto, aqui
estamos em prolongamento dessas linhas com mais umas bacoradas. Sempre me senti
perseguido e, no mesmo alinhamento, depois dum “bácoro”, um “homem”, sendo que,
não é para esconder: eu sou esse porco infante e esse homem sombra. Mordo-me
sempre, não sei sair de mim e não sinto a mosca que pousou no nariz do camarada
que está, em sentido, ao meu lado na parada.
Do
bácoro-livro deixo três histórias que com ele se fizeram acontecer:
1- Da primeira
vez a senhora dos correios nada estranhou, lá para a terceira ou quarta,
começou a habituar-se mas, como as entregas se começassem a repetir e alguns
vales de correio a levassem a perceber que se tratava de negócio, um dia, ao
deparar-se com mais um despacho, largou-se com um comentário:
- Está a vender bem ao que parece!
- Desculpe,
não percebi!?
- O livro, só
pode ser um livro que anda a vender!
- Ah! Mais ou
menos! - disse eu sorrindo.
- Sabe, há
pacotes que denunciam o conteúdo mas mesmo assim nos aguçam a curiosidade.
Abri a pasta e
perguntei-lhe:
- Quer um?
Ofereço-lho!
- Muito
obrigada por me matar a curiosidade.
2- O meu amigo
Lúcio Mouco vende velharias na feira e conhece-me por eu lhe perguntar o preço
de quase tudo e não lhe comprar quase nada. Vende torneiras avariadas,
lavatórios rotos, louça rachada, puxadores ferrugentos, santos partidos, vinis
riscados, vende tudo, até livros velhos. Propus-lhe então, ao meu alfarrabista,
a venda pública e exclusiva dum exemplar. Ele aprontou-se. É simples, rasga-se
a página que tem o ano, amarrota-se um pouco, massaja-se em farinha para lhe
dar pó e, como tudo, pode dar venda. E vendeu o primeiro, o segundo, julgo que
ainda por lá anda entre outros no caixote da especialidade.
3- Não
esperava que quem já me conhecesse do que escrevo me fizesse apreciações
elogiosas à obra de autor de livro único ou que desconhecidos me mandassem
mensagens para expressar particular agrado pelo que leram. Não tive observações
especiais ao seu conteúdo mas tive ao objeto, à capa e até ao tipo de papel.
Também houve um que se descaiu com descarada sinceridade: "hoje em dia
qualquer um já escreve um livro!".
Arreliado com
estas reações? Não! Acho normais como conhecedor maior do meu papel, do meu
lugar e dimensão! ...
Mas o
comentário mais excêntrico foi dum amigo, que ao ver-se em mãos com o objeto
fez a sua primeira crítica de satisfação:
- É grosso!...