"O problema é que os direitos formais têm cada vez menos conteúdo prático. As liberdades formais não servem para nada se não tiverem consequências no dia a dia das pessoas. Teoricamente não há censura, não existe repressão policial ao nível da política, pode-se portanto falar, escrever, etc. Mas os mecanismos de coerção e discriminação permanecem. Mais subtis, mais pulverizados, mas permanecem. O que não quer dizer que eu não preferia a democracia formal ao fascismo, é evidente. Mas no fundo a liberdade é antes de mais nada a liberdade de se viver melhor. Por isso a liberdade para o doutor Mário Soares é uma coisa e para o tipo que está sem salários ou sem emprego ou sem casa é outra. Em quase toda a região de Setúbal há fome, mulheres casadas e raparigas prostituem-se para comer. Que sentido faz falar a estas pessoas da liberdade da democracia? Claro, há uma data de gente que vive melhor do que antes do 25 de Abril, mas à custa de clientelismos partidários e favores políticos que não afirmam propriamente os trunfos dum regime. (…)"
A entrevista na íntegra em: http://livratemundo.blogspot.com/
24 comentários:
Pata Negra
Concordo com tudo o que dizes. Vou ler a entrevista.
Um abraço triste
"a liberdade para o doutor Mário Soares é uma coisa e para o tipo que está sem salários ou sem emprego ou sem casa é outra"
Claro que é.
Não há liberdade para quem não tem o essencial para viver com dignidade.
Abraço ainda livre por enquanto.
Não estamos a ir no caminhao certo, lá isso não estamos.
Um abraço errado
E eu a pensar que se não podiam entrevistar pessoas que "partiram" há mais de vinte anos. E, espanto dos espantos, como o Zeca está a par do que hoje se passa em Portugal! Confesso que fiquei siderado.
Alberto Cardoso
Majestade :
Eu permito-me a ousadia de apanhar boleia do seu amigo Alberto Cardoso, homem de notório bom gosto musical, para sublinhar realmente a actualidade daquilo que ali foi dito pelo Zeca.
Cortantemente actual, eu diria.
Gostei muito de ler.
Ainda bem que a partilhou.
Um beijinho amigo
Maria
Mudam-se os tempos, mudam-se os processos. A liberdade é incompatível com a miséria e com as grandes fortunas. Algo está profundamente errado neste país, e quem manda não parece ligar muito ao assunto.
Cumps
Bem lembrado.
A lucidez deste Homem tem que nos fazer pensar!
E isto foi dito em 1985! E hoje?
20 anos de neo-liberalismo que fizeram deste País?
A liberdade que o Zeca sempre cantou está ameaçada. Os professores, os funcionários públicos, os polícias, que o digam.
Abaixo a ditadura! Fora com o Sócrates!
Um abraço
Compadre Alentejano
A Liberdade e a Democracia estão por cumprir. Mai nada!
E estava longe Zeca Afonso de pensar que as coisas chegavam ao ponto em que se encontram hoje,
parece que o Zeca disse isto mesmo hoje...
abç
Estava a começar a ler este post, quando ouvi a notícia de que esta noite no parque de estacionamento da SIC, o comentador desportivo Rui Santos foi agredido por três encapuçados. A violência está a tornar-se uma forma vulgar de resolver diferendos de opinião, principalmente nas actividades marginais em que o futebol parece estar a incluir-se.
Com mentalidades doentias e sem civismo, não podemos considerar que haja liberdade.
Mas o MAI e outros governantes teimam em querer convencer a população de que há mais segurança e menos criminalidade!!!
Abraços
Pata Negra, Pata Negra
estamos cada vez pior
há pobreza, há desemprego,
ninguém quer ser professor.
Na saúde é uma desgraça,
ser velho é um horror.
Vivemos a ver quem passa
a ver se passa o pior.
Pata Negra, Pata Negra
vejo muito olhar com dor
dificuldades que sobram
aos filhos do Deus Menor.
Pata Negra, Pata Negra,
que ninguém fique calado
honremos os que morreram
por um Portugal libertado.
Está mesmo desactualizada esta entrevista.
Passados tantos anos, a coisa tornou-se pior.
Saudações do Marreta e marretada neles.
Uma entrevista premonitória. Mal supunha o Zeca que as coisas iriam piorar até ao ponto a que chegaram hoje. De verdadeira democracia, só temos uns fumozinhos. A situação está de tal ordem que até os políticos - depois da divulgação do comunicado da Sedes - começaram a "preocupar-se" com a sua imagem junto do eleitorado. Pelo menos, para dar um arzinho mais democrático aos atropelos que continuam e continuarão a fazer. E, já agora, para garantir uns votozinhos...
Um abraço anarquista
Majestade
O Zeca bem falta nos fazia nos dias de hoje.
Relatório da Comissão Europeia diz que em Portugal uma em cada cinco crianças portuguesas está exposta ao risco de pobreza, o que faz de Portugal o País da UE, a seguir à Polónia, onde as crianças são mais pobres ou correm maior risco de cair nessa situação.
A subida do desemprego, o baixo nível de vida e a elevada taxa de abandono escolar são factores que explicam o retrato negro.
O retrato negro consta do relatório conjunto sobre a protecção social e inclusão que é hoje apresentado em Bruxelas (Bélgica) e que deverá ser adoptado no dia 29 pelo Conselho de Ministros do Emprego e Segurança.
O mesmo relatório permite concluir que a situação portuguesa nesta matéria não só piorou em termos absolutos face ao último balanço realizado sobre a matéria em 2005 ( referente a rendimentos apurados em 2004) como também ficou mais isolada em termos comparativos.
No balanço anterior, o nível de exposição à pobreza infantil em Portugal estava em 20% e alinhava com países como a Espanha, Irlanda e a Grécia, estando, ainda assim, abaixo dos níveis registados na Lituânia e na Polónia.
Agora, de acordo com dados do novo relatório, o risco de pobreza infantil só é pior na Polónia, e já superou o patamar de 20%. Uma situação que está relacionada com a escalada do desemprego em Portugal.
Enquanto em 2004, Portugal ainda apresentava das taxas de desemprego mais baixas de toda a União Europeia, nos últimos anos, a situação inverteu-se.
Em Julho do ano passado, por exemplo, Portugal já era, a par de países como a Grécia, Polónia e Eslováquia, um dos três países com as mais elevadas taxas de desemprego, em torno dos 8,2%.
O desemprego não é, no entanto, o único factor a explicar o crescimento do risco de exposição infantil à pobreza, que remete também para o baixo nível salarial praticado em Portugal, para a crescente precariedade do emprego ou para níveis mais baixos de transferências sociais.
Nunca é demais lembrar que mais de 20% da população empregada tem actualmente contratos a prazo - que não garantem estabilidade de rendimentos - e que o salário mínimo não vai, este ano, além dos 426 euros. Em 2006, por exemplo, o salário médio nacional rondava os 712 euros.
Isso mesmo é possível concluir do relatório conjunto sobre protecção social e inclusão, quando refere que o risco abrange tanto as crianças que vivem no seio de famílias desempregadas como as que vivem em lares onde os pais estão empregados.
Parece que o estou a ouvir...
Na "vida real", fora das entrevistas, o Zeca também pensava e falava assim. Nos grandes passeios a pé que demos, ele, eu e o seu filho (da minha idade), embora se tratasse mais então da conquista da liberdade, o sentido da justiça social e as preocupações já eram as mesmas.
Abraço
Zeca, sempre à frente ...
Um beijinho amigo
Já aqui tinha estado há anos e não me recordava até ler o texto na íntegra.
Abraço do Zé
"Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada".
Agora como dantes.
Um abraço, Amigo José Afonso.
JFrade
ESta entrevista é mítica. Mas como disse o outro marreta aí de cima, já estava pior quando ele comentou, e volvidos mais uns anitos está pior ainda.
Saudações.
Estas palavras que ficaram são o retrato da clarividência do Zeca... a inteligência de saber tirar da vida o que ela intrinsecamente contem...
abraço
Faz-nos falta.
E não consigo dizer mais nada.
Abraço, com lágrimas.
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