domingo, 30 de março de 2008

Vamo lá?!

Amanhã vou acordar com a voz da tratorinha do Tó Zé
Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
não tem o chiar das rodas dos carros de bois de antigamente
mas tem mais melodia que o zunir dos carros transpondo o viaduto
Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
não lembra o “pouca-terra” dos comboios de outrora
mas tem a muita vida que o Tó Zé transporta:

mudar umas forquilhadas de estrume para o talho de baixo
Tram!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
- É assim a vida do home pobre!...
trazer uma paveia de mato para o ganau
Tram!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam! Tam!Tam!Tam!Brum!!!...
- A vida está é para os empregados do estado!...
ir à vinha pôr líquido e queimar vides
Tram!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
- Vamo lá?!... Ele tem que se beber senão tem de se entornar!...
uma macheia de pasto prás ovelhas
Tram!Tam!Tam!Tam!Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
- A minha vontade é matar o gado todo! ...
ir buscar farinha ao Zé do Vale
Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
- Amanhã vai-me nascer um bonito borrego! … Vamo lá!...

(e eu contente de viver no campo e de ouvir o dia inteiro a tratorinha / não ouço no sacho as cantadeiras nem provo a bucha sob o carvalho velho mas ouço "Brrum!Tam!Tam!", o Tó Zé pensando e, “vamo lá”!

Tram!Tam!Tam!Tam!Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...

ai ai ai o campo e este canto do céu que tenho na Terra, aqui /
gostava de não ser empregado, não ter carro e ter uma tratorinha)

Tram!Tam!Tam!Tam! Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...
- A minha vontade é matar o gado todo, plantar eucaliptos e deitar-me à sombra! … Tem boa cor não tem?!... Não levou nada! …. Ele tem de se beber senão entorno-o!... É o segundo hoje!... É quase noite!... Um caldo e não tardo lá que amanhã tenho que galgar às seis da matina!

a voz da tratorinha sabe bem
Tram!Tam!Tam!Tam!Tram!Tam!Tam!Tam!Tam! Brum!!!...

6 comentários:

Anónimo disse...

Pata negra: muito obrigado pelo comentário no Dissidente-x.

Sugiro, no entanto que, para perceber bem a história toda faça o amável esforço de ler os 4 posts anteriores, não por ter sido eu a fazê-los, mas sim pelo conteúdo dos mesmos

Verificará existir muita coisa que já vem de trás relacionada com o senhor Pacheco Pereira.

Nomeadamente algo que eu transcrevo dele, dito em 2004 acerca dos blogs.

Meg disse...

Eu queria comentar mas não compreendo muito esta temática (é assim que se diz, não é?
Então vou esperar para ver como os outros fazem e depois já devo perceber alguma coisa, está bem?
Além disso, estou com a bateria muito fraquinha hoje, mesmo em vias de apagar.
Um abraço

Abrenúncio disse...

Não há nada como a vida do campo e o ar da cidade. E os marinheiros que o digam.
Saudações do Marreta.

Anónimo disse...

É inacreditável, como capta tão fielmente o jeito de ser de certas figuras típicas da aldeia.
Parabéns !
É lindo: a história, a personagem e o seu realismo. É isso mesmo. Também cheguei a conhecer raras pessoas assim. O vinho era "puro" sem misturas e não se bebendo estragava-se, pois a dada altura não aparecia mais quem comprasse o vinho que fazia e que ficaria a azedar, se não bebido.
Também gosto particularmente de observar o modo como vivem e sentem estas pessoas tão genuínas na tradição portuguesa.
São em regras pessoas Lindas, de verdade !
E agora que também já aproveitei uma nalguinha do caldo do Tó Zé e terei de galgar às 07:00h., despeço-me com um beijinho muito amigo
Maria

Jorge P. Guedes disse...

Nada como uma boa e quente malguinha de caldo, bebido, pois então!
Muito agradável esta escrita que retrata um povo genuíno.

Um abraço.
Jorge P.G.

Anónimo disse...

Sua majestade consegue fazer um retrato mais ou menos fiel das nossas aldeias e dos nossos campos.
Não há dúvida que a vida no campo é só saúde. E o tintol não o deixe entornar.