quinta-feira, 15 de março de 2007

Da chamada Cultura de Crise

A palavra de ordem é Criar Riqueza!
Não está subentendido no termo, o criar criativo, o criar filhos, o criar gado ou o criar abóboras. É nu e cru: o criar capital!

O problema do país é que se produz pouco.
- Na escola do teu filho não há papel higiénico!
Tens que te sujeitar a dar mais umas horas à empresa!
- Ontem deslocalizou-se sem aviso mais uma para a Tailândia!
Subiu novamente o imposto sobre os combustíveis.
- O Centro de saúde vai fechar para a semana!
O número de funcionários públicos tem que diminuir.
- O escrivão deixou de ser meu freguês!
Investimento em novas tecnologias.
- Ainda ontem comprei um rato sem fios!
Os juros têm que aumentar para diminuir o consumo.
- Tens que te desfazer do teu velho carro poluidor!
As rendas têm que aumentar porque os senhorios não aguentam!
- Olha! Subiu outra vez a prestação da casa!

É preciso criar riqueza!
- O dinheiro não chega já nem para a conta do pão!
Os impostos têm que subir e têm que se inventar novas taxas! O princípio do utilizador pagador: o Estado não tem nada que pagar a saúde de quem comeu toucinho, a educação de quem não quer saber de Platão, a segurança de quem não pede factura, a recolha do lixo de quem não tem vidrão. O Estado tem que emagrecer!
- O governo fez mais umas nomeações!
Não há dinheiro para as reformas!
- Foi três meses vice vice vice duma assembleia duma coisa pública e ficou com…

- Mas esta gente nunca mais percebe que para as coisas melhorarem tem que se criar riqueza!
- Não faltar ao trabalho, nem com febre de quarenta, nem por acidente de viação ou por morte do pai!
- Ir mais cedo para o trabalho e sair do emprego noite fora!
- Uma escola que fique com os filhos a tempo inteiro!
- Trabalhar mais!
- Trabalhar mais horas!
- Ter menos férias! Não ter tempo para nada!
- Agarrar-se ao trabalho ou à carreira!

- Mas porra! Eu não tenho tempo para nada! Aumentaram-me o horário de trabalho! Devem-me as férias do ano passado e o subsídio de turno, já posso ser despedido sem causa justa e faço a limpeza em casa da amante do administrador e a porra da riqueza nunca mais aumenta!?

- Meu pobre trabalhador! O termo “criar riqueza” é uma nova fórmula de dizer “temos que ser pobres se queremos ter ricos! Nem que seja só para falar das suas casa muradas, dos vestidos das suas acompanhantes, ou dos seus brilhantes filhos!
A cultura de crise foi uma coisa que os políticos e ricos do regime inventaram para te exigiram tudo em troca de quase nada!

Tens criado tanta riqueza!.. Não a vês nos bairros fechados que crescem nas encostas viradas ao mar, nos carros de vidro esfumado do parque privado, nos aviões que abanam a tua assoalhada!?... É claro, que tens criado muita riqueza!
A cultura da crise foi uma coisa que eles inventaram para te convencer que as coisas estão tão mal que só te resta a escravidão! Mas se fizeres bem as contas verás que alguém se anda abotoar com a riqueza que tu produzes enquanto te convencem que não produzes nada!

- E que é que posso fazer na minha insignificância? A globalização, a China, os computadores, a democracia dos mesmos de sempre, o melhor dos piores sistemas!?

Faz a revolução dentro de ti e tosse-a para cima dos teus que ela espalhar-se-á como um vírus! Depois dela, a natureza humana trará de novo novas escravidões, mas ninguém te roubará a sensação de a sonhares e quem sabe de a poderes viver uns dias! É sempre bom ter um Maio para cantar ou um Abril para vir à rua! É bom sonhar!

2 comentários:

Anónimo disse...

"E não há ninguém que parta os cornos a estes cabrões???"

(José Vilhena)

Anónimo disse...

O pior é que eles nem cornos têm, embora marrem!
Para terem cornos era preciso que não fossem panascas!