terça-feira, 20 de março de 2007

Solteiros casados casamentos e baptizados

"Desde o aluguer de espaços para casamentos e baptizados, de rinques para torneios de solteiros e casados, ou de espaços para entidades de formação, tudo pode ser feito" A estratégia foi apresentada ontem de manhã no Porto e à tarde em Lisboa, pela ministra da Educação, pelo primeiro-ministro e pelo presidente do Parque Escolar.
in Diário Notícias 20/03/07


O caso mereceu ser manchete. Não é para menos. Trata-se de uma medida emblemática que, só por si, é uma demonstração clara de que o governo tem um rumo e uma estratégia para o problema da Educação em Portugal.
Para os mais leigos poderá, à primeira vista, parecer tratar-se apenas de uma decisão lateral para recolher mais uns cobres e seduzir um povo que, por natureza, reserva para estes acontecimentos a exteriorização da alegria contida nas lamechices do seu quotidiano. Reconhecerão, contudo, que o facto de ter sido a ministra e o seu primeiro a anunciar a medida nas duas principais cidades do país é revelador da importância que a mesma poderá vir a ter no financiamento das nossas escolas e no sucesso dos nosso alunos.
Como cidadão atento e preocupado com o estado do nosso sistema educativo, desnorteado pelo absentismo irresponsável dos professores, pela gestão incompetente dos vultuosos orçamentos da escolas, pela inexplicável desmotivação dos alunos, não posso de deixar de levantar algumas questões/sugestões/cautelas a bem do necessário sucesso desta corajosa iniciativa.
- Terá autenticidade um jogo solteiros casados (vulgo jogo do garrafão) sem que o guarda-redes fume um português suave nos tempos mortos da jogada ou o massagista se faça acompanhar de cinco litros de tinto para acudir a lesionados? Terá boas “visitas” um noivo que não oferece aos convivas um charuto tipo cubano ou em que a tia solteira não apanha uma de caixão à cova? É que nas escolas são proibidas as bebidas alcoólicas e o tabaco!
- Poderão as escolas, que não podem cobrar IVA, reaver esse imposto para o estado em géneros e no dia seguinte à boda os utentes do refeitório comerem a cabeça do leitão que andou pendurada na gravata do padrinho da noiva durante o baile?
- Os professores não podem usar calções no serviço de vigilância a exames. Poderá a noiva subir à mesa e mostrar o atarraxo das ligas ao tios-avós do noivo?
- A escola é uma entidade de formação. A que entidades de formação se refere a notícia? Aos cursos de preparação para o património ou a outras escolas concorrentes?
- Sabido que o que mais há neste país são salões de casamentos e baptizados, pronunciará esta medida outra intenções do estado em competir com a tão sagrada iniciativa privada? É que não se percebe o porquê desta alusão particular aos jogos casados-solteiros e aos casamentos e baptizados. Então e as festas de despedida de solteiro, o jantar das divorciadas, o campeonato de sueca, as vendas de tachos e de férias, os jantares de apoio a políticos arguidos?
Trata-se de facto de uma medida de coragem porque até agora, vá-se lá saber porquê, estes serviços eram expressamente proibidos. Mas já que estamos com as mãos na massa deviam ter sido mais concretos no que toca a outras modalidades e mais explícitos no que toca a comportamentos e promiscuidade permitidas. O “tudo pode ser feito” da notícia assusta-me porque os jovens têm tendência a fazer escola de tudo o que é excesso e o excesso é sempre demais!

1 comentário:

José Carrancudo disse...

Basta de ironias. Publicamos uma análise que identifica as principais razões da crise na Educação nacional, e indica caminho à saída. Esperemos que o Governo saiba ouvir a voz da razão e actuar em conformidade. Escreve uma carta exigindo a acção!