quinta-feira, 12 de abril de 2007

A montanha pariu um rato

Há uns dias que andava com um nervosismo, do tipo que me lembro ter sentido nos dias anteriores aos exames da minha quarta classe ou da carta de condução. Tive também sintomas semelhantes nas vésperas da cerimónia do casamento e tinha-os sempre, recordo, nos dias que antecediam as saudosas mensagens de Ano Novo do Presidente Jorge Sampaio.
Para acalmar a ansiedade, no momento anunciado, procedi da mesma forma com que me preparo quando se trata de um jogo de Portugal: fui buscar uma Sagres bem portuguesa ao frigorífico e sentei-me mal acomodado frente ao televisor.
Dois jornalistas, um primeiro-ministro, os primeiros passes, e eis que inesperadamente adormeci com o mesmo embalo com que acompanho as novelas da TVI.

Eu, no lugar do alto réu, teria calado as recomendações de conselheiros e técnicos de marketing político e teria feito simplesmente assim:
Convocava um conferência de imprensa à Paulo Portas, chegava cinco minutos atrasado, subia ao estrado, espalhava um olhar de respeito pelos jornalistas de caneta pronta e sobre as aparelhagens do directo, soprava nos microfones todos e diria num português autêntico:
- Sou engenheiro porra!
Seguidamente retirava-me da sala respondendo repetidamente às insinuações das melgas:
- Não tenho mais nada a acrescentar ao que disse!
Desta forma, o portuguesismo, a autoridade e o desprezo pelos valores mais baixos que se desejam dum primeiro-ministro de Portugal, teriam saído vitoriosos e seriam tema de conversa. Com a metodologia adoptada a coisa foi tão morna que não ouvi, durante todo o dia, um único homem de rua a comentar o acontecimento - apenas o Benfica!

O povo ouvinte tolera bem que haja favorecimentos a tudo o que é graúdo e acha normal que de tal benesse não se faça reconhecimento público. Por outro lado, lá no fundo, toda a gente reconhece que o senhor deve ter estudado o suficiente para não ser só Sócrates ou Senhor José!
Alguém imagina um outdoor e letras gordas: “Sócrates ao Poder!” – não, saberia a Grécia Antiga!
Ou, “Senhor José ao Poder!” – isso, nem para uma Junta de Freguesia. Não, qualquer propaganda para gente com vocação para dedicar a sua vida aos outros terá sempre precedendo o nome da individualidade – Doutor – Dr. – Professor – Engenheiro ou Conde! Nem outra coisa seria de admitir!
Reconheçamos “Engenheiro Sócrates” são duas palavras que acasalam bem.

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