quinta-feira, 24 de maio de 2007

Com aeroportos não se brinca

Um dia vi uma peça, de um autor de colectividade, que tinha o nome pouco intelectual, “Os Aviões”. A cena começava com um escolástico avião de papel e desenvolvia-se entre passarolas, aerogramas, gagos e coutinhos, terminando no inevitável drama de uma queda de avião sobre o palco.
A coisa marcou-me, de tal modo que, a partir daí, passei a revelar uma paixão doentia por tudo o que são máquinas voadoras. Se ouço a léguas um ruído de avioneta, voo logo para a rua para apreciar a aeronave. Gasto também muito tempo a observar os rastos de fumo que os jactos deixam no céu. O meu sonho era que o meu quintal confrontasse com as redes de guarda de um grande aeroporto e eu pudesse delirar o dia inteiro com o ruído estrondoso e a vista espectáculo dos monstros do ar. Não me oriento nas ruas de Lisboa porque cada vez que lá vou, em vez de prestar atenção aos nós e às rotundas passo a visita a olhar para o ar a admirar os voos dos que partem e chegam.
Descobre-se agora, que existem milhares de lisboetas com este meu gosto. É só abrir a televisão e vê-se logo uma súcia de gente da cidade a defender a manutenção da Portela em Lisboa, contra a Ota e o Rio Frio. Pela leiga apreciação que faço da contenda parece-me que o país inteiro quer um aeroporto à sua porta.
Ora, se somos todos portugueses defendo que, para contentar os desejos da maioria e melhor servir o desenvolvimento do território no seu todo, a melhor localização seria em Vila de Rei, terra que pelo palpite dos meus olhos deve ser o centro geográfico do país. Para meu próprio interesse e de outros como eu, que nunca andámos de avião e que pelo andar da carruagem nunca sairemos da cepa torta da província, pelo menos poderíamos sentir mais de perto o prazer de os ver passar. E, porque sou das beiras, poupado e pobre, gostava também de pôr outra colherada no assunto que, de quando em vez, se torna no grande problema nacional: porque não, para começar, falar só a umas giratórias e a umas retros, fazer duas ou três pistas para os aviões aterrarem e depois à medida que a coisa fosse dando iam-se fazendo mais umas obras, umas latrinas e tal?
Que Vila de Rei deixe de ser só lembrada pelo “mais uma vez ardeu tudo” ou pelo acolhimento de brasileiros. Começa aqui o movimento pela construção do aeroporto em Vila de Rei.

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