domingo, 19 de novembro de 2017

Qual Pai, qual Menino, qual Natal


O Verão quase que chega ao Natal.
Dizem todos que isto tem a ver com alterações do ambiente – ambientalistas!...
Dizem que as alterações climáticas têm a ver com a queima de combustíveis fósseis - especialistas!...
Dizem que a queima de combustíveis tem a ver com o consumo de energia – engenheiros!...
Dizem que o consumo de energia tem a ver com a sociedade de consumo – economistas!...
Dizem que o consumo desenfreado está a arruinar a vida das sociedades – sociólogos!...

Ora aí está o Natal, amigo do ambiente, das câmaras e famílias endividadas, dos pobres que nem factura de electricidade têm para pagar.

*Eh-lá luzes, anjinhos, meninos e trenós iluminados nas torres das igrejas, nas fachadas dos edifícios presidenciais, nas varandas, chaminés e centros comerciais!
*Eh-lá lojas de coisas que não valem nada, jantares de cabritos e cabras, discursos de provedoras de colares, de excessos de mesa com orações a recordar os que não têm!
*Eh-lá santa inocência de meninos grandes, de burros, de vacas e de árvores de plástico!
É tão bom lembrar-nos dos que não têm nada, nem que seja ao menos para sentirmos o orgulho de que temos tudo!
Viva o planeta sobreaquecido com luzes a apagar e a acender! Viva a falência em abundância! Viva um menino que nasceu há dois mil anos! Viva a Coca-Cola que inventou o Pai Natal! Viva o Natal!
Vivam os videntes, como eu, que advinham um bom Natal para uns e um mau Natal para outros, que já sabem que na missa do galo o padre vai dizer que o Natal deve ser todos os dias, que uns poetas de quadra vão repetir que Natal é sempre que um homem quiser, que o Costa vai prometer que vai haver um novo ano e o Marcelo vai chamar a atenção para o dever de olharmos para aqueles a quem a República tudo tirou!

Ai o meu Natal! Ai o meu Natal! Eu nem sequer devia ter escrito nada sobre o Natal porque de textos, canções, luzes e peditórios de Natal já todos estamos fartos!

(* o "eh-lá" foi plagiado duma ode qualquer do Fernando Pessoa e também não sei se o Belmiro Azevedo ainda é vivo)

26 comentários:

Metralhinha disse...

Tenho andado pra escrever algo semelhante a isto.
Agora já não preciso.
Obrigado.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Meu amigo Pata Negra nunca é demais dizer e tu disseste maravilhosamente.O silêncio é conivente com a injustiça e a hipocrisia. O nosso sentido da vida tem que ser combatê-los. Hoje fiz mais uma denúncia no Silêncio e várias no Notas com o meu texto de amanhã.Não nos podemos calar nunca enquanto soubermos que há fome e gente humilhada. Parabéns pelo teu texto e fiquei sensibilizada pelo destaque ao meu.

ARTUR MATEUS disse...

A sua amiga devia candidatar-se a um prémio literário com aquele texto mas o seu também está muito bom. O Natal transformou-se em pesadelo para a maioria das famílias. As crianças e jovens querem o que todos têm, são discriminados quando não têm e os pais fazem das tripas coração para lhes dar o que não podem. Já não se consegue viver sem muitas luzes e muitas prendas e muito consumo, mas eu oiço em todo o lado pessoas aflitas a dizerem que não gostam do Natal. É muito útil que se apresentem artigos como estes para ajudar a mudar as mentalidades.

Zé Povinho disse...

A inocência alegre das crianças empalidece com o amadurecimento, e a realidade começa a ensombrar aquela que devia ser a festa da família, mas que foi transformada numa festa do consumo, de onde muitos estão arredados, e são cada vez mais.
Bela reflexão do espírito natalício, que há muito perdeu o seu real significado.
Abraço do Zé

carlos filipe disse...

Este Natal é uma mostra da crise dos valores do capitalismo. É revoltante tudo isto mas há quem goste deste modelo de sociedade por achá-lo muito democrático.

quintarantino disse...

Se Vossa Majestade assim coloca as coisas, eu cá só digo "atão biba o Natal das coibes, batatas e bacalhau mais a família à volta da mesa"!

G.BRITO disse...

Cada vez encontro mais pessoas que me dizem que não gostam do Natal. O Natal passou a ser um produto da sociedade de consumo em detrimento dos valores da família e da amizade.

M.MENDES disse...

Estes alertas embora pareçam que são um déjà vue de tão conhecidos nunca são de mais porque as pessoas vivem afogadas num lamaçal de obrigações de consumo que é preciso denunciar. Temos que chamar por outros valores.

Anónimo disse...

Magestade!
V. Alteza escreve o que escreve e até poderá ter razão. Mas, diga-o honestamente: nem sente um orgulho patriótico por ser portuguesa a ÁRVORE DE NATAL MAIS ALTA DO MUNDO??? Umas vezes no Terreiro do Paço, outras na Avenida dos Aliados, em árvores de Natal ninguém nos ganha.
Viva Portugal

Anónimo disse...

Magestade!
V. Alteza escreve o que escreve e até poderá ter razão. Mas, diga-o honestamente: nem sente um orgulho patriótico por ser portuguesa a ÁRVORE DE NATAL MAIS ALTA DO MUNDO??? Umas vezes no Terreiro do Paço, outras na Avenida dos Aliados, em árvores de Natal ninguém nos ganha.
Viva Portugal

SILÊNCIO CULPADO disse...

Nós não precisamos da árvore de Natal mais alta do mundo. Precisamos de justiça social que é o que falta cada vez mais.
Hoje tenho um post no Notas Soltas & Ideias Tontas (http://notassoltasideiastontas.blogspot.com) em que fiz um apanhado de dados oficiais sobre os "cancros" que o país padece e que mostram, de forma nua e crua, as realidades com que nos confrontamos.
Se tiveres um pouquito de tempo gostaria de ouvir a tua opinião sobre temas tão gritantes quanto aqueles.Até porque preciso da tua voz ali.

SEMPRE disse...

O Natal, ao invés de ser a festa da família e aquela partilha de fritos, canções e solidariedades, transformou-se no pesadelo da maior parte das famílias portuguesas que não têm como ocorrer a tantas solicitações consumistas. Anda tudo numa azáfama a gastar o que não tem para comprar coisas que não precisa e que trocam com outros que, não precisando delas, gastam dinheiro que precisam para retribuir com outras coisas inúteis.

NÓMADA disse...

O Natal é um castigo que merecem todos os que gostam do Natal tal como o Natal se apresenta. Despido d everdade. Todo ele fogo fátuo.

C.Coelho disse...

Gostei de ambos os textos mas, não vai parecer mal, aqueel que linkou da sua amiga é uma autêntica obra arte. Depois de se ler aquilo não se tem mais nada a acrescentar.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Não fostes ao Notas.

Kaotica disse...

Olá

Tens um desafio lá no Pafúncio, sorry...
Aliás, tens dois desafios: embora lá ao Rossio amanhã entregar uns panfletos? Podemos levar a tal pedra e deixá-la no sapato de alguém!

Boa greve

Abraço

Anónimo disse...

Como alguém diz por aí: "este ano não há prendas de Natal para ninguém"....

Rogério G.V. Pereira disse...

Tiveste 17 comentários em 2007?

Bem me parecia
que já não há natais
como antes havia

Manuel Veiga disse...

plagiaste uma ode ou um odre?

por mim tanto faz, desde que não seja o Almeiro, que vende presépios de plástico. e é muito amigo dos pobrezinhos ...

abraço, Majestade

Sérgio Ribeiro disse...

NAT(ur)AL(mente)!
Grande abraço

Maria disse...

Gostei do texto. Não gosto do Natal desde que percebi que é coisa só para alguns e nem mesmo esses sabem o que seja...

Abraço

Unknown disse...

Excelente texto.
Na verdade o Natal gera em mim alguma nostalgia, lembranças talvez de um tempo em que menina, acreditava num mundo justo e no Natal de cada dia.

Ainda assim, para todos, boas festas.

Maria disse...

O texto diz tudo com excelência e majestade.
Mas como escapar a este Natal ?!...

Um beijinho amigo

O Puma disse...

Com tantas árvores
um dia a casa vai abaixo
ou ardem as luzes furta cores
antes que chova

Abraço sempre

Mar Arável disse...

Há dias assim
antes pinheiros que eucaliptos

Abraço

José Lopes disse...

Guardo-me para a visita dos filhos e netos, para o bacalhau e para uns docinhos e bebidas que estou autorizado a consumir em épocas festivas. Quanto às diferenças climatéricas, eu já pago cara a energia à conta das ajudas às renováveis...
Cumps