A primeira vez que, menino, me senti meio homem, foi quando consegui erguer e equilibrar uma vara de metros, com um gancho no extremo, a qual servia para extrair lenha dos pinheiros altos. Recolhi logo dessa, um par de vistosas pinhas que, nos tempos seguintes, juntas num baraço, me acompanhavam a vaidade de lavrador que se orgulha de ter a melhor junta de bois das redondezas. Tiveram o seu fim um dia que dei com elas envoltas num cordão daquelas arrepiantes lagartas que aninhavam nos cachos dos pinheiros e faziam brotoeja. Deixei, desta feita, a lavoura e dediquei-me à escultura da carrasca, arte que só larguei com o medo do sucesso que em nada me atraía.
A primeira vez que me senti pequeno foi quando me macaqueei, pinheiro acima, para bisbilhotar uma buraco de pica-pau e me quedei no mato julgando-me morto.
A primeira canção que aprendi a cantar, ouvi-a de vozes distantes de mim, e entre si, de gente da faina da resina que enganava a dureza da vida com o cancioneiro popular.
A primeira namorada que tive tinha os seus vinte anos, quinze anos mais velha que eu, dava-me tratamento de criança: ameaçava-me, brincando, com a mão que trazia sempre intragável da resina e acariciava-me com a da espátula que fazia a recolha do púcaro, a que mantinha sempre asseada para isso e pró rancho do meio dia que, temporariamente, calhava à minha porta.
A primeira e única camioneta miniatura que tive, andava sempre carregada de cavacos de pinho e no passo lento das grandes que, em outras dimensões, levavam a madeira para fora do lugar.
A primeira vez que trabalhei foi no transporte da padiola de caruma para a meda que todos os anos se fazia para o Inverno e o meu primeiro salário foi da fábrica de resina que ainda hoje opera embora apenas com um único operário.
E muitas outras coisas fiz que a primeira vez foi no pinhal.
- Oh pai, que história mais desinteressante! Mas o que eram afinal pinhais?!
- Meu filho, pinhais chamavam-se às florestas de pinheiros, que eram árvores altas e cónicas, das quais há ainda alguns exemplares protegidos pela lei. Todos estes montes desérticos que ora vez, quando eu tinha a tua cara e idade, estavam cobertos de pinhais.
- Oh pai, e porque é que agora já não há pinhais?!
- Porque os fogos do inferno os levaram. Mãos criminosas atearam-nos, os mais variados interesses alimentaram-nos, a negligência dos interessados permitiram-nos, a apatia de todos - que eram todos - admitiram-nos mas, sobretudo a incompetência, a arrogância, a cegueira, a irresponsabilidade dos políticos! E também eu meu filho...
- Oh pai mas não é verdade que os países desérticos são aqueles que têm mais petróleo?!
Estou triste! Com estas conclusões o meu filho um dia ainda vai virar ministro!...
A primeira vez que me senti pequeno foi quando me macaqueei, pinheiro acima, para bisbilhotar uma buraco de pica-pau e me quedei no mato julgando-me morto.
A primeira canção que aprendi a cantar, ouvi-a de vozes distantes de mim, e entre si, de gente da faina da resina que enganava a dureza da vida com o cancioneiro popular.
A primeira namorada que tive tinha os seus vinte anos, quinze anos mais velha que eu, dava-me tratamento de criança: ameaçava-me, brincando, com a mão que trazia sempre intragável da resina e acariciava-me com a da espátula que fazia a recolha do púcaro, a que mantinha sempre asseada para isso e pró rancho do meio dia que, temporariamente, calhava à minha porta.
A primeira e única camioneta miniatura que tive, andava sempre carregada de cavacos de pinho e no passo lento das grandes que, em outras dimensões, levavam a madeira para fora do lugar.
A primeira vez que trabalhei foi no transporte da padiola de caruma para a meda que todos os anos se fazia para o Inverno e o meu primeiro salário foi da fábrica de resina que ainda hoje opera embora apenas com um único operário.
E muitas outras coisas fiz que a primeira vez foi no pinhal.
- Oh pai, que história mais desinteressante! Mas o que eram afinal pinhais?!
- Meu filho, pinhais chamavam-se às florestas de pinheiros, que eram árvores altas e cónicas, das quais há ainda alguns exemplares protegidos pela lei. Todos estes montes desérticos que ora vez, quando eu tinha a tua cara e idade, estavam cobertos de pinhais.
- Oh pai, e porque é que agora já não há pinhais?!
- Porque os fogos do inferno os levaram. Mãos criminosas atearam-nos, os mais variados interesses alimentaram-nos, a negligência dos interessados permitiram-nos, a apatia de todos - que eram todos - admitiram-nos mas, sobretudo a incompetência, a arrogância, a cegueira, a irresponsabilidade dos políticos! E também eu meu filho...
- Oh pai mas não é verdade que os países desérticos são aqueles que têm mais petróleo?!
Estou triste! Com estas conclusões o meu filho um dia ainda vai virar ministro!...
13 comentários:
É um prazer ler os teus textos, sentir a tua alma poética atenta a todos os pormenores e a arranhar-se na realidade por uma sensibilidade em excesso. Vejo que essa ligação à terra, e às coisas simples, formaram uma pessoa que detesta fogo fáruo. A terra é a terra e o pinheiro é o pinheiro, tal como Alberto Caeiro o dizia.
Percebo a revolta, aquela revolta que só percebe quem um dia se revoltou. Contrariamente a ti eu tinha brinquedos em excesso.Brinquedos que compravam o facto de eu não poder subir às árvores nem amar as coisas simples. Mas eu partia os brinquedos e subia às árvores. E era castigada e batiam-me. Os pinheiros atraíam particularmente. E as pinhas e os pinhões. Não acredito que o teu filho seja desértico falando tu assim.
Tenho uma mensagem de Natal no Notas. Uma mensagem à tua maneira.
Infelizmente muitas crianças e jovens já perderam as referências da importância da natureza. Não será o caso, porque sua majestade pode, e sabe, explicar isso muito bem, mas há muito quem não saiba, nem queira perder tempo com essas coisas do antanho.
Cumps
É um texto belissímo que revela uma pessoa que tem raízes, afectos, ideais e capacidade de luta.
Pode ter tido, em pequeno, apenas uma camioneta para brincar mas essa camioneta vale por muitos brinquedos de meninos riquinhos que perderam a sensibilidade e exigem sempre mais e mais transformando-se em homens que exploram os outros para alimentarem os seus supérfluos.
Continua assim e eu sentir-te-ei um rei dentro de ti mesmo. Alguém em quem posso acreditar para perseguir os ideiais de solidariedade efectiva e de justiça social.
Um abraço com cheiro a resina
Pata Negra, Pata Negra
o Natal está a chegar,
lá te levam os pinheiros
para as casas enfeitar.
Pata Negra, Pata Negra,
não sei onde vai parar
este país já sem regra
com cada um a roubar.
Pata Negra, Pata Negra
só tu me fazes voltar
a lutar pela justiça
e de novo acreditar.
Pata Negra, Pata Negra
tem um bom Natal a cantar
com amigos e bons copos
e pinheiros sem cortar.
Abraço de caruma
Gosto dos pinheiros e do cheiro a caruma quando surgem as primeiras chuvas. Gosto do cheiro da resina e de ouvir bater o coração da terra. Gosto dos pais que falam para os filhos explicando as coisas simples com palavras simples.
Não gosto dos homens que justificam os fogos, que encobrem as motivações dos fogos e têm no olhar avaliações interesseiras.
Nunca deixes que os teus filhos se desenvolvam longe da linguagem dos campos e dos rios. Porque se o fizerem caminharão sempre num deserto parco de oásis.
Um abraço resinoso
As coisas simples da vida, a natureza de que nós somos uma ínfima parte, mas algo que já começa a ser apenas uma ténue lembrança das gerações que nós criámos e a quem não passámos o testemunho.
Abraço do Zé
Pata Negra, Começo por te dar os pêsames por o teu filho estar com inclinações que poderão arrastá-lo para o lodaçal dessa raça maldita da política. Tudo deverás fazer para evitar que se junte a esses que apenas pensam em governar-se, explorando o cidadãos indefesos, como faziam os piratas que assaltavam as diligências no pinhal de Leiria ou na Azambuja, mas usando métodos mais sofisticados.
Parabéns por esta descrição tão real do que era a vida das crianças na zona do pinhal. Vivi de certo modo estes pormenores que narras. É pena hoje as crianças pensarem que as batatas são fabricadas no hipermercado!
Abraço e Boas Festas
Olá amigo, nunca tinha passado no teu cantinho.
Peço-te desculpa!
Adorei o texto!!!
Deixo-te um grande abraço de carinho e que tu e toda a família tenham festas felizes.
Beijinhos,
Fernandinha
Quem passa no Pata Negra
não passa sem cá voltar.
É um "monarca" de valor
que quer o mundo mudar.
Quem passa no Pata Negra, não passa sem cá voltar
Mas por que há-de o Natal ser tão devastador para com árvores, logo árvores? Nos países onde ainda há Petróleo deve ter havido muitos séculos de Natal sem dó nem piedade.
Abraço, Pata!
E Muito Aquilo
é o que se quer!
Ministros nunca! Antes sheiks.
Saudações do Marreta.
Quase que o vejo já a chegar à Rua da Horta Seca, de BMW ou Audi ministerial, para substituir o Pinus... Manuel Pinus ...
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