domingo, 28 de janeiro de 2007

O Professor do ano

Primitivo carregava há muitos anos o estigma do título de “stor”. Passara os anos de entusiasmo do professor acrobata, deixara de acreditar na escola como mãe de todas as soluções, acomodara-se a ser um mero empregado do Estado. Nos últimos tempos, o ensino era o mal da moda no “país da culpa para cima de alguém” e o professor Primitivo aceitara cabisbaixo o espezinhamento público do seu estatuto e conformara-se, tal como todos os outros, com os dedos que se lhe apontavam. Resguardava a sua consciência no quotidiano do dever cumprido e, informado como era, sabia que definitivamente o futuro já não lhe pertencia.
Diariamente os decisores políticos vinham ao palanque dos telejornais anunciar novas medidas que deixavam o senso comum com a ideia de que a educação estava a mudar mas dentro das escolas essas medidas apenas agravavam o caos e a desmotivação quer entre estudantes quer entre professores.
O entusiasmo de anunciar era tanto que o governo começou a delirar e à superfície da opinião pública começava finalmente a pairar o fumo da razão.
Foi neste ambiente de declínio e desespero que o Ministério da Educação lançou a iniciativa de abrir concurso para a eleição do Professor do Ano.
Para Primitivo esta era a oportunidade da sua vida. Sempre fora um especialista a prestar provas, apresentar relatórios de projectos e investigações, a colorir o cinzento de actividades escolares. Senhor do seu tempo e conhecedor dos corredores das escolas e dos diplomas sabia muito bem cozinhar os perfumes que encantam os políticos e académicos que mandam nas coisas.
Estava decidido, os 25000 euros do prémio poderiam ser seus. A fazer: reconhecer a ideia que os idiotas teriam do professor do ano; anotar os procedimentos da candidatura; convencer os colegas e a direcção da escola do interesse comum. Depois, um documento dali, um power point de acolá, um testemunho favorável, duas ou três aulas encenadas e estariam reunidos os elementos necessários.
Seis meses passados a notícia foi recebida lá na vila como um euro-milhões e Primitivo, feliz contemplado, saltou da sua pacata descrição para as entrevistas e até para a televisão. De modéstia em modéstia esperou a sua hora na cerimónia da entrega do prémio. Para que o nervosismo não o atraiçoasse, preparou as palavras uma a uma, consciente de que o momento seria o ponto alto da sua vida pública.
Claro que começou por dizer que não merecia aquele prémio e que ele era também dos seus alunos, da sua escola, da sua mãe e de muitos outros colegas de profissão que melhor que ele o mereciam.
O caldo entornou-se quando continuou:
- Este prémio é o símbolo do ridículo em que se transformou a política desta ministra e deste ministério. A figura do Professor do Ano é uma patética iniciativa e a minha candidatura foi uma maquiavélica encenação para conseguir este palco. Senhora Ministra estes 25000 euros foram roubados aos meus colegas, mas não pense que vai ficar com eles…
Escusado será continuar a relatar a festa … os senhores do ministério coraram, o caso foi notícia, a ministra foi apanhada num voz-off infeliz e foi demitida e Primitivo nunca mais recebeu os 25 mil euros.

sábado, 13 de janeiro de 2007

ETA EPANHA AQUI AO LADO

s s (os dois esses caíram do título)

eles tiveram uma guerra civil, nós tivemos uma nossa senhora de fátima;
eles tiveram o militar franco, nós tivemos o toino beato
eles decidiram readmitir o rei, nós fizemos um golpe para ter eanes, soares, sampaios e cavacos;
pequeníssimas diferenças.

mas eles têm a eta e nós não temos nada:

para poder ser poder na terra de onde vinham os maus ventos, é preciso coragem e vontade: pode-se levar um tiro no abdómen;
na terra dos bons casamentos, todos os dias há boda e qualquer pachola meio homem se entroniza à vontade porque é mais que certo que não será atingido

para ser sapatero – ou os que antecederam - é preciso tê-los, aos tais que se querem no sítio, porque governar é perigoso;
ser pinocrates, é ser boneco de pau sem pau, espécie de homem que brinca na neve do quénia e parte um artelho, não percebe um chavelho e não corre riscos;
é ser mário que cobre tartarugas, cavaco que sobe o coqueiro, valentim loureiro, são paio da sorte ao poder e a quase certeza de que se vai morrer de morte natural

por vezes são necessários os males necessários
a eta é o motor do desenvolvimento da espanha

nós por cá tudo bem, prendemos o otelo, nem pombas nem bombas, só vilões nos paços
nós por cá todos bem, vivemos no segundo maior país da península ibérica
beijinhos e abraços, nós por cá todos bem

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Dieta

O doutor analisou silenciosamente o resultado das análises: - Está aqui uma bonita coisa!

Não me incomodou a proibição do consumo da carne de porco – gosto mais de leitão! Carne de vaca!? - Prefiro o boi!
- Agora! Eu que, putalhote, quis ir para o seminário porque aguava quando o padre exibia o cálice de sangue! (o caraças era pinga e da boa!)
- Eu que chamei eunucos aos abstémios e encontrei a lucidez nas noites das tabernas dos povos do país real! Eu que real, pela estrada do excesso cheguei e pernoitei no palácio da sabedoria!
- Eu que tinha como único verso com nexo:
“não há vida sem festa nem festa sem vinho nem há caso sem sexo”,
estou cumprindo escrupulosamente as ordens do médico!
- Eu deprimido, o país deprimido – mal começo, dois mil e sete!

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Quem vai ligar ao 118?

Depois da fase graça dos preliminares e da fase dura da excitação, o governo teve o seu orgasmo com a mensagem de Natal do Zé Pinócrates.
Agora entrou na fase das anedotas: - alguém acredita?!
O limite de velocidade nas autoestradas vai ser reduzido de 120Km/h para 118Km/h!!!
Ah!Ah!Ah!
Motivo da medida: redução do CO2 na atmosfera!!!
Ah!Ah!Ah! Vivam os carros de alta cilindrada do governo e o Lisboa-Dakar!
Vivam os grandes aviões carregados de foliões para a Índia e para a China!

Vão para o caraças! Dobrem o Bojador e a Boa Esperança!
Cumpram o saudosismo por inteiro: façam como o Gama e o Camões, protejam o ambiente, vão de caravela!

De novo a Índia e a China! Não ligue ao 118 - INFORMAÇÕES NACIONAIS

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Lisboa Dakar

Estou solidário com todos os assaltantes africanos que se apropriem dos bens dos europeus participantes na caravana do rally da ostentação!

O rally é uma afronta da riqueza nas terras da pobreza!
O rally é uma fonte de CO2 irresponsável numa terra sem árvores!

Muitos "sem roupa" sentem a revolta ao ver os finórios da europa!
Outros são atropelados de espanto e não são notícia!
Os mais incautos sonham saltar o Estreito da ilusão!

Um sonhador projecta um teleférico transafricano á prova de bala!

Sugestão:
pro ano não façam Lisboa-Dakar
façam Cairo-Cabul!

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Sempre Actual 4

Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver as crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política do acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?

(Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora)

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Novo Estado Novo

Palmas para o autor da frase:
"José Sócrates é o melhor primeiro ministro desde 25 de Abril e o segundo melhor desde 28 de Maio"