Estou a escrever
Para dizer que vou morrer
Ainda há-de haver
Em nome de Deus virgens a explodir em Telavive
Em nome da América soldados gordos a morrer em Kandahar
E em meu nome homens que não me conhecem a falar
Para dizer que vou morrer
Ainda há-de haver
Em nome de Deus virgens a explodir em Telavive
Em nome da América soldados gordos a morrer em Kandahar
E em meu nome homens que não me conhecem a falar
Estou a escrever
Porque irei morrer
Ainda há-de haver
Crianças a morrer de fome em Mogadíscio
E um menino chamado Aparício
Assassinado em Janeiro no Rio
Porque irei morrer
Ainda há-de haver
Crianças a morrer de fome em Mogadíscio
E um menino chamado Aparício
Assassinado em Janeiro no Rio
Caramba irei morrer
De frio a escrever
E ainda há-de haver
Um Portugal pobre e amordaçado
Governado por um neandertal de nome Zé
De frio a escrever
E ainda há-de haver
Um Portugal pobre e amordaçado
Governado por um neandertal de nome Zé
É hei-de morrer
A escrever a mesma coisa
Com outros confortáveis blogueres de T3
Conformado por ter passado a minha vez
De despir e ter nua a verdade à minha frente
Entre operários que desceram a rua que era para subir
A escrever a mesma coisa
Com outros confortáveis blogueres de T3
Conformado por ter passado a minha vez
De despir e ter nua a verdade à minha frente
Entre operários que desceram a rua que era para subir
É hei-de morrer a rir
De mim e qualquer coisa
Hei-de partir a loiça a definhar
Com o Sol todos os dias a nascer e a se pôr
Com a Lua aluada a crescer a minguar
E por cá a Terra a rodar em voltas sempre iguais
De mim e qualquer coisa
Hei-de partir a loiça a definhar
Com o Sol todos os dias a nascer e a se pôr
Com a Lua aluada a crescer a minguar
E por cá a Terra a rodar em voltas sempre iguais
Ah hei-de morrer
Se não morresse era demais
A ver as gerações passarem em mutação
E os pobres desgraçados humilhados
Sempre à espera duma tal revolução
Que sempre é vencida
Se não morresse era demais
A ver as gerações passarem em mutação
E os pobres desgraçados humilhados
Sempre à espera duma tal revolução
Que sempre é vencida
Escrevam da vida escritores de secretária
Que hei-de morrer a ouvi-los escrever
Sem nunca pegarem numa palavra a atirar
Para tirar a vida aos párias que demandam
Às castas baixas o vinho sem papéis
Andam para aí uns que se dizem democratas
Abatam-nos são mentirosos e ranhosos
Que hei-de morrer a ouvi-los escrever
Sem nunca pegarem numa palavra a atirar
Para tirar a vida aos párias que demandam
Às castas baixas o vinho sem papéis
Andam para aí uns que se dizem democratas
Abatam-nos são mentirosos e ranhosos
Hei-de morrer de baba e ranho
Num futuro igual a antanho e a dormir
Com a América Latina a sonhar
Com a Europa em obras
Com Putin entre ursas
Com Bush entre vacas
Com um qualquer Sócrates entre nós e a moer-nos
Num futuro igual a antanho e a dormir
Com a América Latina a sonhar
Com a Europa em obras
Com Putin entre ursas
Com Bush entre vacas
Com um qualquer Sócrates entre nós e a moer-nos
Ai a vida é desesperançada
Porque não há nada que mude este mundo e este país
Quis quero quererei
Hei-de morrer
Porque não há nada que mude este mundo e este país
Quis quero quererei
Hei-de morrer
E se eu morrer de dia a seguir haverá uma noite
E se eu morrer de noite a seguir haverá um dia
E quer seja de noite ou de dia haverá uma madrugada
Em que depois se irá lutar
E depois de se lutar haverá dia ou nada
E depois da noite haverá luto ou alvorada
E se eu morrer de noite a seguir haverá um dia
E quer seja de noite ou de dia haverá uma madrugada
Em que depois se irá lutar
E depois de se lutar haverá dia ou nada
E depois da noite haverá luto ou alvorada
Olha se eu morresse
Ainda gostava de viver o que acontece
Talvez depois de eu morrer por escárnio
Alguém invente a paz o amor e a democracia
(Se não existisse a blogosfera eu não escrevia,
Escrever na blogosfera é cobardia!
Cobardia era a rata da vossa orquestra meus punho de êtas rosas! Não somos cobardes por escrever esta outras prosas, somos cobardes porque saímos para a rua de cravo na mão em vez de sairmos com baionetas!)
Este post só será publicado depois de eu morto
Ainda gostava de viver o que acontece
Talvez depois de eu morrer por escárnio
Alguém invente a paz o amor e a democracia
(Se não existisse a blogosfera eu não escrevia,
Escrever na blogosfera é cobardia!
Cobardia era a rata da vossa orquestra meus punho de êtas rosas! Não somos cobardes por escrever esta outras prosas, somos cobardes porque saímos para a rua de cravo na mão em vez de sairmos com baionetas!)
Este post só será publicado depois de eu morto
14 comentários:
Este Zé, que também não gosta do outro zé, também não se conforma com tanta passividade, mas ainda espera que o Sol brilhe e que os vampiros se esfumem, mesmo sabendo que outros virão para os substituir.
Abraço do Zé
É extraordinário, disseste tudo o que havia a ser dito e da melhor maneira.
Qual morrer, qual nada
Três vivas a sua majestade!
VIVA VIVA VIVA
a tua poesia de denúncia e de combate!
Abraço morto de alegria e esperança vã!
Deixe lá Majestade...
Não morra assim tão determinada e determinantemente.
Com causa de morte pré- esclarecida
:-)
Não poupe ao Estado a descoberta da sua morte. O Estado nada nos agradece, nada tem que nos ofereça, mas vossa Majestade tem tudo para oferecer e fazer por um melhor Estado. E até vontade tem .
Depois, Vossa Majestade, faz-nos falta. Ainda não é chegada a hora de passar a outrém a sua coroa e o seu ceptro ...
E depois amanhã é domingo ...
Não me diga que já se rendeu à teoria dos sobrinhos do Tio Bin e espera encontrar no Céu outras que não a virgem Maria ?´
Lamento informar mas até essa depois de Cristo, pelo menos com o José já frustou eventual expectativa ...
Melhor é ficar por cá, creia.
Beijinhos
Maria
:-)
Pata Negra
Respondo-te com um poema
virtual,
mas tudo é virtual,
e tudo nos condena
porque ao nosso lado há injustiça e desamor,
e nós fazemos poemas
e esquecemos a dor
que não se compadece de palavras.
A dor quer justiça e, por isso, não morras, Pata Negra.
Lutemos juntos.
A justiça nunca se atingirá
mas o mundo será menos injusto
se não nos acomodarmos à injustiça como a uma fatalidade.
Abraço lutador
Não importa a situação da poesia.
Enquanto ainda houver calor no coração das pessoas e homens dispostos a escrevê-la, a poesia nunca morrerá!
Seu protesto pode ser pequeno, mas ele não passa despercebido!
Soneto
Fecham-se os dedos donde corre a esperança,Toldam-se os olhos donde corre a vida.Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?
Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.
Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,O gesto que estrangula, a voz que grita.
Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.
José Carlos Ary dos Santos
Força pata negra...ou ñ fosses tu um REI!!!
Um abraço corajoso
Gostei do poema, especialmente "saímos de cravos na mão, em vez de baionetas". Talvez tivesse sido o nosso grande erro...
Um abraço
Compadre Alentejano
Quem escreve assim está "vivinho da costa" e pronto para dar umas bordoadas, se necessário, nesta corja que nos aflige.
Cumps e boa semana
brilhante !
Não morres não porque a a morte é uma maneira de desistir e tu não és pessoa para isso. A morte, essa que falas,é dar poder a quem, esse sim,deve ser morto,por tanta miséria ter criado!
O azar deles é a nossa vida, mesmo que nos chamem miseráveis.
Grande poeta!
Um grande abraço
parabens ao Pata...
de resto, escrever no ecran ou no papel tanto faz, porque o que conta é o que fica para sempre, aquilo que se repete...
"Entre operários que desceram a rua que era para subir"
É uma frase extraordinária!!!
Abraço
Ainda bem que morreste, pois assim foi possível ler este poema de raiva e de amor.
Um abraço, que não temo os que morrem pela paz e a justiça.
Muito bom o poema. O País dos poetas.
Talvez seja por isso que estejamos na merda que estamos.
Mas, gostei muito da prosa.
Abraço,
Zorze
Enviar um comentário