À medida que crescia a barriga de Tânia, crescia também a sua melancolia e a de Carlitos; à medida que evoluíam de tom as discussões entre dona Graça e Virgolino, notava-se um mau estar de relação à beira do colapso; à medida que se tornavam mais confusas as relações entre mim e Gina, tornava-se-me cada dia mais claro que chegara a hora de eu bater com a porta. Também eu andava desacorçoado, começava a perceber que estava a mais.
Pressenti a despedida quando, uma noite esvoacei pela cidade com Virgolino, esse desencaminhador, até chegar a casa com uma de caixão à cova. Num estado lastimável, encontrei-me a sós com a sanita. Sentava-me para obrar, apetecia-me vomitar, virava-me e enfiava a cabeça na sanita e apetecia-me outra vez a outra coisa… andei ali às meias voltas e nada, nem dum lado nem do outro, nada saía!
Que noite mal passada. Pela manhã regressei à casa de banho para me recompor com uma chuveirada. Fechei a porta. Longe de mim imaginar que ia ali encontrar a razão que me levaria a decidir definitivamente abandonar o número sete. Não existiria motivo mais forte que pudesse justificar a minha determinação. Corri a cortina da banheira, lá estava, o motivo, a justificação, a razão. Nada que pudesse ser explicado mas algo que ficaria para mim como um segredo. O segredo que me libertou das minhas três mulheres. Nesse momento, percebi que deveria de existir mais vida para além daquele quarto com as paredes pintadas de vermelho e buraco de fechadura em forma de coração.
A banheira com um palmo de água e, ali estendido, indiferente a todas as regras e preceitos, um bacalhau de molho.
Pensei na tão apreciada cozinha de Dona Graça, acalmei-me pelo facto de só pontualmente ter comido lá em casa mas porra, era um bacalhau!... Como português, eu tinha um grande respeito pelo bacalhau, o bacalhau, esse símbolo da alma lusa!
- Tomo banho!?... Não tomo?!... Deixo estar o bacalhau?!... Não deixo?!... Penduro-o onde?! – hesitações que me faziam lembrar a situação que vivera durante a noite com outra peça dos sanitários.
E o bacalhau? Tomar banho com o bacalhau?
Pergunto ao leitor o que fazer perante uma situação destas? - Simples: quarto 24 FIM
Pressenti a despedida quando, uma noite esvoacei pela cidade com Virgolino, esse desencaminhador, até chegar a casa com uma de caixão à cova. Num estado lastimável, encontrei-me a sós com a sanita. Sentava-me para obrar, apetecia-me vomitar, virava-me e enfiava a cabeça na sanita e apetecia-me outra vez a outra coisa… andei ali às meias voltas e nada, nem dum lado nem do outro, nada saía!
Que noite mal passada. Pela manhã regressei à casa de banho para me recompor com uma chuveirada. Fechei a porta. Longe de mim imaginar que ia ali encontrar a razão que me levaria a decidir definitivamente abandonar o número sete. Não existiria motivo mais forte que pudesse justificar a minha determinação. Corri a cortina da banheira, lá estava, o motivo, a justificação, a razão. Nada que pudesse ser explicado mas algo que ficaria para mim como um segredo. O segredo que me libertou das minhas três mulheres. Nesse momento, percebi que deveria de existir mais vida para além daquele quarto com as paredes pintadas de vermelho e buraco de fechadura em forma de coração.
A banheira com um palmo de água e, ali estendido, indiferente a todas as regras e preceitos, um bacalhau de molho.
Pensei na tão apreciada cozinha de Dona Graça, acalmei-me pelo facto de só pontualmente ter comido lá em casa mas porra, era um bacalhau!... Como português, eu tinha um grande respeito pelo bacalhau, o bacalhau, esse símbolo da alma lusa!
- Tomo banho!?... Não tomo?!... Deixo estar o bacalhau?!... Não deixo?!... Penduro-o onde?! – hesitações que me faziam lembrar a situação que vivera durante a noite com outra peça dos sanitários.
E o bacalhau? Tomar banho com o bacalhau?
Pergunto ao leitor o que fazer perante uma situação destas? - Simples: quarto 24 FIM
27 comentários:
Ao menos esvaziaste a banheira? Ao menos, quando saíste, colocaste o ouvido na barriga da Tânia e disseste: José Augusto...?
E que tal se fossemos todos beber um copo?
Perante a falta de respeito para com o símbolo mais conhecido e apreciado da portugalidade, a saída era a solução mais cordata. Cá fora havia de certo mais mundo, menos confusão, mas também mais futuro.
Abraço do Zé
Sem dúvida! Existem certas promiscuidades que um homem não pode admitir! Até aqui a coisa corria bem, mas um bacalhau de molho na banheira?
A decisão de partir foi de homem!
Venha a próxima saga. Gostei do estratagema para o final, seria mau que partisses zangado, de corno caído ou com uma tareia do Virgolino...
bem sei que não te lembraste, mas podias ter posto o bacalhau no bidé...
abraço e um bacalhau
tudo termina em aguas de bacalhau, menos mal.
Aguarda-se por mais historias.
E, no final, toda a casa cheirava a bacalhau...Era como que uma pequena réplica da Rua do Arsenal...
Parabéns e aparece sempre con histórias que nos cativam durante semanas...
Um abraço
Compadre Alentejano
Gostei imenso do fim da história.
Pelo q li já me tinha apercebido q aquela casa ñ inspirava bom futuro pra ninguem...mto menos para um estudante.Bacalhau de môlho dentro de uma banheira, é a primeira vez q ouço tal. Amigo tudo q faças pela tua vida fora q sejam atitudes de elogiar tal e qual como essa de deixares aquela casa de gente porca e maluca hehehehe. Meus parabéns
Um abraço bem apertado e ñ demolhado
Gostei de seguir esta tua história. Verídica ou não, não me importa. O que escrevemos tem sempre algo de nós, nem que seja tempo, o que já por si já é algo precioso. Estou curioso quanto ao que se seguirá. Quanto ao desenlace do Quarto no Sete (ó para mim a dar títulos à tua história), parece perfeitamente lógica. Com uma valente ressaca, quem é não se sentiria desconfortável perante um cheirinho a bacalhau? :-)
salvoconduto
como é que tu sabes que o puto, agora um homem se chama José Augusto!? - está a existir fuga de informação.
Um abraço salvo
zé povinho
Portugal ainda existe: ainda continuamos a reunirmo-nos à volta do bacalhau.
Mal tu sabes o futuro que me esperou cá fora, melhor seria nunca ter saído daquela casa onde às vezes também fazíamos amor.
uma braço zé
antónio implume
um bacalhau de molho na banheira?!
E estava morto!
Aqui não há estratagema, tudo acontece ao sabor da pena e isso é que é pena.
Um abraço à Brás
polidor
mas quem é que te disse que o bacalhau cabia no bidé?! e depois passar o bacalhau da banheira para o bidé acho que seria uma falta de respeito, ainda maior, pelo bacalhau
um abraço wc
tiago cardoso
águas de bacalhau!?... gosto do termo, faz falta na composição!
um abraço fora de histórias
compadre
às vezes, até nos sítios mais íntimos e recôndidos cheirava a bacalhau, só depois do episódio compreendi a razão.
um abraço com bons motivos para parar com a história
anónimo (pelo nome já nos conhecemos!)
calma aí, aquilo era gente que não era porca e maluca, era a gente que ainda hoje guardo no meu coração! E seu a minha história aqui continuasse a ser descrita ou se pudessemos advinhar como teria sido se lá tivesse continuado, talvez até nem fosse tudo melhor.
Um abraço predestinado
raposa velha
(em primeiro lugar por teres dado eco do folhetim lá no fliscorno)
Nesta história o menos importante é a verdade embora se possa afirmar que não tenho grande imaginação.
um abraço do quarto sete
Vou ter saudades dessas meninas que tão bem ilustravam Vossa corte.
Fico a aguardar uma publicação, quem sabe , na pior das hipóteses uma de autor.
Um reino sem memória, não existe.
Quando escrevi essas palavras, referi-me ao facto de demolharem o bacalhau na banheira onde todos tomavam banho, o q é um absurdo total. Qto há outra palavra, um estudante q faz amor com mãe e filha ao mesmo tempo... pela vida q o Virgolino levava,a barulheira q faziam naquela casa ao ponto de encomodarem os vizinhos etc., ñ é mto normal. Uma mãe com tacto nunca iria meter uma filha a dormir no mesmo quarto com um rapaz! Que esperava ela? Por tudo qto li relatei o final da história
pela forma q no meu enteder merecia, no entanto compriendo q apesar de toda essa revolução te trataram bem...e disso tu ñ te esqueces. Continua com o seguimento das tuas histórias pois elas vieram dar mto ânimo ao teu blog assim como outros artigos interessantes q aqui escrevestes tbém. Um abraço de amigo
Luis
Pata Negra, dá cá um bacalhau.
Está caro mas vale a pena.
João, saber que dás assim por concluída a tua saga do Quarto faz-me passar pior que tu, namorando a sanita numa alternância de evacuações hesitantes.
Tive o maior gozo a cada nova sequência e senti-me quase sempre inspirado, incorporado, nesse estudante que talvez tenhas sido, assim cumulado da naturalidade de o sexo e a cumplicidade acontecerem, porque a ocasião te fez ladrão entre as pernas abençoadas de essas mulheres.
Com esse teu FIM, inesperado e incompreensível para mim ou para as minhas expectativas, fico, tens de compreendê-lo e deves sabê-lo!, órfão de um prazer muito certo e muito urgente à minha sensibilidade de navegablogger.
Deves-me explicações adicionais detalhadas, coisa que te será fácil proporcionar-me, bastando remetê-las para joshuaquim7@hotmail.com ou joshuaquim7@gmail.com.
Aquele Abraço [Fanático! do Quarto]
Pata Negra
Uma saída digna dum grande mestre. Tomar banho com um bacalhau? NUNCA. Mas deixa lá, amigo, tiveste muita sorte.
Foi bom enquanto durou e a vida é feita por etapas. Encerram-se umas para que outras façam sentido.
O amadureimento, a experiência e a capacidade de revivê-las são o elo de ligação.
Abraço
Camolas
saudades, memória, as francesinhas de brasília, a imperial de munique, as tostas do tosta, as sandes de carne assada, as pisas da taberna e a esplanada de avis, o viaduto...
uma abraço traído
lili
nunca te darei meu bacalhau
um abraço
Joshua
O sentimento que expressas através destas palavras, tecidas a ponto-rex, já me cá tinha chegado antes delas.
Sei que te devo explicações, a seu tempo as darei num canto qualquer que não seja um quarto - e um abraço
Silêncio,
lá estás tu, compreendedora dos minhas palavras quanto contentora dos meus gestos.
Um abraço à procura do amadureciemnto
É simples. O que é que o bacalhau quer? O que é que a Tãnia queria?
Saudações com sabor a alho do Marreta.
P.S.: Quando encontrar o Virgolino vou chamá-lo várias vezes mentiroso.
Tenho pena que o Quarto 24 seja o fim. Afinal, sempre podias arranjar alguma solução literária para o bacalhau. Como é que um portuguesíssimo e banal bacalhau dita, assim, o final de uma bela história? Cá por mim, aconselhava-te a livrares-te do tão prosaico bacalhau já no Quarto 25. Fora com o bacalhau e viva a Literatura!
um abraço desiludido
Majestade,
Sempre que dou comigo a pensar o quanto, aos longo dos séculos de história já conhecidos ou revelados,o Homem vem lutando pela imortalidade de todas as coisas, sinto que até eu, veja-se bem, tenho assim algumas coisas de Homem...
Gosto tão pouco da palavra dor, da palavra sofrimento, da palavra desgoverno, da palavra "governar para nos tramar". Com essas, vamos, ainda que por pequeninos passos, acabar : vamos mudar o mundo ...
Vamos decretar FIM ao mundo das palavras feias...
Ao quarto, não .
Posso dar uma sugestão : mude de quarto, mude de personagens, crie...
Mesmo que noutro quarto, será QUARTO.
E está demonstrado. Veja pelas reacções dos amigos : Vª Majestade tem o dom e a arte, como nenhum outro, de criar num Quarto.
É o que nos parece, apesar de nunca nos revelar tudo. Também se compreende. Há segredos de Estado que à Corte convém resguardar.
Toda esta gargalhada, para não pedir a choramingar como os miúdos : vá lá, queremos mais quarto !
Ah e deixe lá que o bacalhau toma o seu rumo ...
Siga...
Beijinhos
Maria ( mil perdõessss- mudei de links, mas ainda estou por cá )
Maria
os teus comentários são sempre uma ternura, não foi por acaso que foste a primeira a receber a ordem do comentador.
Vou agora mesmo actualizar os teus links.
Um abraço sempre em linha
Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.
Acabou o Quarto. É pena. Será que haverá Quinto? Oxalá.
JFrade
a esta hora a barriga da Tânia deve estar bem inchada...
abraço
24? Que quartEIRÃO!
Precisas de um revisor de provas e de um "fixador de texto". (Olha que é fixador... não é brilhantina).
Um abraço
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