quinta-feira, 1 de março de 2012

DEMOlição do conceito de poesia

Porque estou farto de crise; porque, como realeza, me apetece sair da realidade; porque a corte precisa da cultura do banal; porque um comentador do reino ousou, há duas ou três mensagens atrás, desafiar a intocabilidade do Rei sem sequer usar o devido trato de Majestade; porque me apetece falar de poesia; porque sim - declaro aberta a discussão palaciana súbdita ao tema: "o que é poesia?"

Comecei os meus estudos de poesia na análise académica das poesias de amor, escárnio e maldizer dos meus pares medievais e pergunto: aquelas bacoradas do Dinis são poesia?!
Andei de desafio em desgarrada nos montes e tabernas dos poetas populares e pergunto: fazer rimas, é poesia?!
Vivi a poesia do amor de mãe, do canto das aves, das árvores e dos vales, das pessoas bonitas e pergunto:
será a natureza poesia ou vice-versa?!
Estudei os ditos "grandes poetas" portugueses e estrangeiros e fiz deles companhia de cabeceira, cantei, chorei, amei, enlouqueci com eles. De os entender nos seus múltiplos entendimentos, desmultipliquei-me e desentendi-me, desentenderam-me, dei comigo perdido no meio de todas as palavras e de nenhumas sensações, rejeitado pelo senso comum de maus leitores.
Por isso não me peçam definições de poesia, não me ditem regras, não me digam o que é e o que não é. A poesia é tudo e não é nada! Quereis poetas dos livros, comprai-os! Quereis poetas do povo, ide às tabernas! Quereis sentir o canto da natureza, saí da cidade! Quereis sentir as ruas versejando, saí do campo! Quereis conhecer o maior poeta de todos os tempos, embora não reconhecido por ninguém, leiam-me!

Na tropa eu tive a alcunha d" O poeta". Parece que ainda ouço as palmas do pelotão quando acabei de recitar este poema no jantar da passagem a pronto:

"Estive na cidade dos homens azuis,
fica no céu. Aquilo é que são homens!
Mas eu não os vi, porque, o céu também é azul.

Gostava de lá voltar com todo o respeito
que tenho pelo meu namorado
mas, o respeito que tenho pelo meu namorado,
recusa-se a ir a pé!
Foi por isso que roubei uma bicicleta a um empregado da câmara municipal,
fui presa, ainda não percebi porquê!

Os homens azuis são como eu nunca os vi,
são como o meu namorado...

(poema oferecido pela minha namorada ao seu namorado)"

Cuidado com os homens que são dados como poetas pelos soldados!
Este é o melhor poema que fiz em toda a minha vida! E, se este não fôr o melhor poema que leram em toda a vossa vida, vós estais do lado errado da poesia! Se para vós, isto nem sequer é poesia, então meus caros, vós sois lúcidos demais para a alma do poeta! Nem no epitáfio merecereis um verso meu! 

17 comentários:

Anónimo disse...

Crisântemo Ciclomotor disse...
Não percebi nada.
Isto é poesia?
Se for eu devo ser para aí, sei lá, um astronauta ou até um técnico superior em nanotecnologia aplicada ao estudo da influência da caspa na cultura da batata na Terra Quente transmontana.
Crisântemo Ciclomotor
(Primo da Rosa Mota)

Pata Negra disse...

os primos da Rosa Mota tem alguma coisa a ver com rosas ou com motas?! se não, porque razão chamar "poema de amor" a uma sequência de palavras terá de estar obrigatoriamente relacionado com poesia ou com amor?!
conclusão, os primos da rosa mota não percebem nada de suíno-nobreza!
Um abraço e aconselho crisantemo a saber o que é a nanotecnologia, antes de utilizar a palavra. depois disso poderá talvez formar-se em nanopoesia

Anónimo disse...

Malmequer Bicicleta disse...
Estou solidário com o meu primo Crisântemo Ciclomotor. Também não percebi nada daquela coisa. Só porque tem quatro ou cinco palavras em cada linha não faz daquilo poesia. Nem prosa! Não sei o que é. Uma m**** é o que é.
Malmequer Bicicleta
(Outro primo da Rosa Mota)

Maria disse...

São poucos os que entendem os poetas...
:))))

Abraço.

José Lopes disse...

Num país em que a Cultura não passa de flor na lapela de políticos armados ao pingarelho, como é que um poeta há-de ser reconhecido em vida?
Cumps

O Puma disse...

Ainda bem que me consideram

apenas e já é tanto

artesão de metáforas

Abraço amigo

Tulipa Camião disse...

Deixe lá Majestade. Os meus primos são uns brutos ignorantes. Para eles a poesia tem que ter rima, métrica e, de preferência, ser onomatopaica. Não têm a sensibilidade de perceber que poesia é tudo o que um homem quiser.
Eu também faço poemas. Para Sua Majestade apreciar aqui lhe envio um com todo o prazer:

«Descendentes de populações
Estrangeiras
Tem vindo igualmente a usar o termo.
Seu?
O idioma de uso comum
Dele?
Baseia-se
Nosso?
No Pentateuco
Do reino de Iehudá;
Ela riu-se da
Hostilidade da malchut
E do
Aspeto importante do poder.
Uma diferença importante!
De acordo com as cidades.»

Diga lá Majestade se não tenho jeito também.

A amiga
Tulipa Camião
(Prima da Rosa Mota)

do Zambujal disse...

Aqui estou, companheiro majestático, do lado certo da poesia (há lado errado?), demasiado poeta (serei?) para estar lúcido (merda!), não com lírios do monte mas com

um enorme abraço

Zé Povinho disse...

Porque as palavras se me misturam na mente e a garganta se recusa a pronunciar as mais difíceis, por aqui me quedo sem comentários menos abonatórios sobre críticos literários.
Abraço do Zé

Crisântemo Ciclomotor e Malmequer Bicicleta disse...

Ó Zé Povinho, não se acalhe, deixe sair todas as palavras, as fáceis e as difíceis, comente o que tem a comentar, custe o que custar aos críticos literários de quem discorda. Afinal o 25 de Abril não nos restituiu a possibilidade de podermos dizer, sem medo, o que nos vai na alma?
Crisântemo Ciclomotor e Malmequer Bicicleta
(Primos da Rosa Mota e da parva da Tulipa Camião)

Peta Negra disse...

Também eu quero conhecer os comentários do Zé Povinho. Venham eles. Quem cala consente!
Peta Negra

Pata Negra disse...

Nota: os três primeiros comentários foram copiados das mensagem que determinou esta.

Afinal os primos da Rosa Mota também sabem correr do outro lado da poesia. O poema de Tulipa Camião é o segundo maior poema que conheço!

Maria: os poetas não se entendem, compreendem-se, isto é, dá-se-lhes o desconto!

Guardião: um poeta reconhecido em vida é um poeta vendido.

Puma: gostei do artesão de metáforas!

Zambujal: vou comprar um torno novo para fazer nova poesia. Sei que vendes um - temos de negociar isso.

Zé Povinho: porque não fazes como eu, fazes comentários sem usar a mente?

Primos da Rosa Mota: aguardo transporte...

Um abraço a todos e o anel do rei....

Alberto Cardoso disse...

Olá Majestade.
Suponho que esteja desiludido com os Seus súbditos: afinal nenhum aceitou o desafio para aqui fazer uma «discussão palaciana súbdita ao tema: "o que é poesia?"». Triste Rei que tais súdtitos tem! Eu, modestamente vou dar o meu contributo.

A poesia pode ser considerada uma arte que se distingue da prosa pela composição em verso e pela organização rítmica das palavras, aliada a recursos estilísticos e imagéticos próprios. Ora sabemos que imagético advém da imagem e que permite construções literárias que possuem o perfeccionismo na construção da imagem como elemento principal da obra. Assim, só entenderá a poesia quem tenha sensibilidade, isto é, uma percepção aguçada ou receptividade a respeito de algo, como por exemplo as emoções de um indivíduo.

Como disse, este é apenas um pequeno contributo para a definição de "poesia". É, também, um desafio a outros vassalos, tão pródigos em opinar mas que desta vez parecem ter emigrado. Ou serão eles predominabtemente benfiquistas?
Vénias para Sua Magestade, para a
a Raínha e para os Infantes; para o Real Tareco, um carapau; para o Real Rafeiro, uma salsicha; para o Real Canário, dose dobrada de alpista.
Alberto Cardoso

Compadre Alentejano disse...

Desculpa lá Pata Negra, mas o Ti Manel Moleiro era melhor:
Ó Lua que vais tão alta
redonda como um taimanco
Ó Maria! Alcança a escaida,
porque não chego lá com um banco!...
Um abraço com muita poesia
Com+padre Alentejano

cid simoes disse...

Eu, erva-daninha corta-relva, socorro-me do poeta Manoel de Barros que me ensinou: "poesia é voar fora da asa". Saúde para todos.

M A R I A disse...

Vossa Majestade andou de namoro com alguma namorada do Presidente do FCP ?...
Pois, a tradução poética de sensações e emoções é sempre muito difícil.
E é essa dificuldade precisamente que o texto traduz, pois senão repare : azuis todos azuis, como ?!Então e as listas ou riscas, ninguém viu ?!...

:)))

Um beijinho verde e amigo

Maria

maceta disse...

Não ligues, Pata...
são tantos os que não sentem o cheiro dos ventos...

abraço