- Para as autarquias é diferente, as pessoas não votam nos partidos, votam nas pessoas porque as conhecem!
É assim que se pensa e que se diz. Como se esta apreciação do senso comum, por ser tão comum, fosse verdade absoluta, por ser tão repetida, trouxesse mais democracia à democracia.
Não penso assim. Talvez as pessoas façam as suas escolhas à revelia dos símbolos partidários mas também as fazem independentemente dos ideais, das ideias, dos projectos, dos princípios, dos valores ou das competências. E, na minha modesta opinião – já pareço um político a discursar – não escolhem tanto em função de conhecer este ou aquele mas deste ou aquele os conhecer da rua, da escola do filho, da direcção dos bombeiros, de um casamento ou de uma sardinhada.
- Já me apertou a mão, se for para lá, de certeza que me vai conhecer quando eu precisar de uma licença, de um aqueduto à porta, de um lugar para um dos meus, dos serviços da minha empresa, de me encaminhar um requerimento, uma multa ou um recado.
Este “se for para lá” apenas acontece quando “os que estão lá”, acomodados e viciados em tantos anos de cadeira, já não descem a ninguém, já não dão, já não fazem, já não empregam, já não encaminham e já nem “bom dia” dizem.
As vitórias autárquicas decidem-se nas sardinhadas. Os autarcas em exercício têm, como inerente à sua função, a obrigação e a oportunidade de irem a tudo o que é sardinhada de S. João, de centenário de filarmónica, de inauguração de busto. Aí chegados, aliam-se aos foguetes, são atracção da festa e cumprimentam o Sr. João que afinal é Manuel e preenchem a conversa nos pedidos de desculpa pelo engano enquanto recebem em troca uns cotejos de cunha embrionária.
Qualquer autarca que goste de sardinha assada e não negue um copo tem vários mandatos garantidos. Até que um ano destes, já farto de sardinha e vinho azedo, com futuro garantido entre amigos de partido ou empresários, ou já mais virados para o seu monte no Alentejo ou para as férias na Tailândia, já nem sequer tratam o Manuel por João, ignoram-no e deixam o caminho aberto para um novo ciclo.
O novo ciclo começa quando alguém reúne apoios suficientes para organizar sardinhadas e lançar candidaturas com o apoio dos da sua rua, da escola do seu filho, da direcção dos bombeiros, de dois ou três empresários descontentes, dos convidados de um casamento e toda esta gente se combina, a ponto de garantir uma nova teia de conhecimentos que possa vir a assegurar uma licença, um aqueduto à porta, um lugar para um dos seus, os serviços da sua empresa, um encaminhar de requerimento, uma multa ou um recado.
Não! Nunca serei um candidato de sardinha assada! Sou já um candidato de leitão à Bairrada e nada de pratos de plástico! Se não ganhar é provável que este blogue em vez de se chamar "Rei dos Leittões" passe a chamar-se "Sardinha Açada".
É assim que se pensa e que se diz. Como se esta apreciação do senso comum, por ser tão comum, fosse verdade absoluta, por ser tão repetida, trouxesse mais democracia à democracia.
Não penso assim. Talvez as pessoas façam as suas escolhas à revelia dos símbolos partidários mas também as fazem independentemente dos ideais, das ideias, dos projectos, dos princípios, dos valores ou das competências. E, na minha modesta opinião – já pareço um político a discursar – não escolhem tanto em função de conhecer este ou aquele mas deste ou aquele os conhecer da rua, da escola do filho, da direcção dos bombeiros, de um casamento ou de uma sardinhada.
- Já me apertou a mão, se for para lá, de certeza que me vai conhecer quando eu precisar de uma licença, de um aqueduto à porta, de um lugar para um dos meus, dos serviços da minha empresa, de me encaminhar um requerimento, uma multa ou um recado.
Este “se for para lá” apenas acontece quando “os que estão lá”, acomodados e viciados em tantos anos de cadeira, já não descem a ninguém, já não dão, já não fazem, já não empregam, já não encaminham e já nem “bom dia” dizem.
As vitórias autárquicas decidem-se nas sardinhadas. Os autarcas em exercício têm, como inerente à sua função, a obrigação e a oportunidade de irem a tudo o que é sardinhada de S. João, de centenário de filarmónica, de inauguração de busto. Aí chegados, aliam-se aos foguetes, são atracção da festa e cumprimentam o Sr. João que afinal é Manuel e preenchem a conversa nos pedidos de desculpa pelo engano enquanto recebem em troca uns cotejos de cunha embrionária.
Qualquer autarca que goste de sardinha assada e não negue um copo tem vários mandatos garantidos. Até que um ano destes, já farto de sardinha e vinho azedo, com futuro garantido entre amigos de partido ou empresários, ou já mais virados para o seu monte no Alentejo ou para as férias na Tailândia, já nem sequer tratam o Manuel por João, ignoram-no e deixam o caminho aberto para um novo ciclo.
O novo ciclo começa quando alguém reúne apoios suficientes para organizar sardinhadas e lançar candidaturas com o apoio dos da sua rua, da escola do seu filho, da direcção dos bombeiros, de dois ou três empresários descontentes, dos convidados de um casamento e toda esta gente se combina, a ponto de garantir uma nova teia de conhecimentos que possa vir a assegurar uma licença, um aqueduto à porta, um lugar para um dos seus, os serviços da sua empresa, um encaminhar de requerimento, uma multa ou um recado.
Não! Nunca serei um candidato de sardinha assada! Sou já um candidato de leitão à Bairrada e nada de pratos de plástico! Se não ganhar é provável que este blogue em vez de se chamar "Rei dos Leittões" passe a chamar-se "Sardinha Açada".
12 comentários:
Majestade, que bela prosa tão verdadeira e tão "Real"
Olá Majestade,
Um texto extraordinário. Enquanto texto literário e também pela assertividade e sabedoria do conteúdo.
É uma análise político-social impressionante.
Concordo plenamente com a visão que tem destas coisas.
Talvez nas duas grandes cidades "capitais" não seja tão notória esta motivação de voto ou a atitude dos candidatos, mas no fundo também lá estão, embora travestidas de formas eventualmente mais elaboradas.
Se calhar em Lisboa,p ex, aos grandes empresários, os candidatos não oferecem sardinha, oferecem cherne a um almoço. Contudo não deixa de ser tudo peixe...
Salienta a falta de ideiais de quem vota e de quem se candidata.
Será talvez um sinal dos nossos tempos, não ?
O individualismo exacerbado, o desejo de sucesso, independentemente do outro que nos é mais ou menos próximo, levam a que só interesses fúteis sejam por vezes as motivações do nosso voto que deveria ser Arma, ser Voz de uma verdadeira mudança na vida de todos nós, no sentido de melhorar a nossa qualidade de vida e formar um mundo mais aprazível para os nossos filhos e gerações vindoras.
O seu texto é contudo uma prova de que a vontade do Homem tudo refaz quando a causa vale a pena.
E a condição humana de cada um e de todos nós, sempre nos fará mover, erguer, porque há-de sempre valer a nossa luta.
Um beijinho sempre amigo.
Maria
NB- Então também muda da carne para o peixe ?
Ao menos, não será cherne...
:-)
Eu também acho que a nossa democracia funcionaria melhor com o leitão à Barraida!
Leitão à Bairrada? Posso votar duas vezes?
Olá Majestade.
Aqui está mais um texto revelador do muito saber de Sua Majestade. E sei que não foi necessário ler compêndios de Política, Sociologia, Psicologia e similares para o escrever. Se se é inteligente e perspicaz e se se reparar no que acontece no nosso concelho e na nossa freguesia, constatamos que as palavras de Sua Alteza Real espelham a realidade.
Atrevo-me a dar uma sugestão: na hipótese remota de Sua Majestade não ganhar as eleições (vá de retro Satanás), por uma razão de coerência, sugiro que o blogue se apelidasse de Çardinha Açada.
Alberto Cardoso
Não se esqueçam!
Em Viseu votem-no à pedrada!
Sim. Nas autarquias funciona um pouco assim. As pessoas conhecem-se, a opinião de que fulano é uma pessoa de bem e oriundo de família honesta, é aval suficiente e serve para aferir as qualidades exigíveis, a um detentor de um cargo público, e, por isso, nele votamos! O pior vem depois. Ainda que o eleito estivesse, por altura da campanha eleitoral, imbuído de nobres vontades, o certo é que uma vez a ocupar o cargo, dá por si rodeado de empecilhos, de elementos que tudo fazem, para atrofiar até o que é mais simples! E depois! Bem depois... As mordomias sabem tão bem! E ser bajulado! Oh, isso, é melhor nem adiantar mais! Quantas pessoas conhecemos, cada um de nós, imune à bajulice? Falando por mim,talvez eu conheça algumas, poucas! Muito poucas!
é um problema de favores, de jeitos e de cunhas e de comportamentos oportunistas... comigo levam estacas.
abraço
Meu querido Pata-Negra,
Sardinha Açada ou Sardinha "alçada"????
Voltei com muitas saudades...
Hoje ando a pôr a "escrita em dia", por isso só te deixo um grande abraço.
Por estas bandas ainda não apareceu nenhum candidato a oferecer o Leitão da Bairrada, por isso é voto garantido.
Cumps
Uma excelente caracterização do autarca "modelo"... Foi por isso que nunca venci na política. Contei sempre com o "meu" e nunca com a possível corrupção...
Um abraço
Compadre Alentejano
Majestade, rogo-lhe, peço-lhe, imploro-lhe: Candidate-se.
Odeio sardinhas, não quero mais políticos de sardinhada, que cheiam a sardinha assada e até comem sardinha assada. Que velha daí o leitão bem tostadinho, com pele a estalar e tudo (e com o molho por cima). Se vier frio, que venha em sandes.
Já agora, Sua Majestade, queria pedir-lhe só uam coisinha. É que, sabe, dava-me jeito um aqueduto à porta de casa...
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