quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Movimento relativo

Vou desligar.
Parem de me dar notícias
Porque eu já sei que as coisas acontecem.
Parem de escrever bons livros
Porque o meu ritmo de leitura é lento.
Parem de fazer bons filmes
Porque tenho uns em atraso para ver.
Parem de inventar músicas
Porque eu tenho cedês que nunca ouvi.
Parem com a tecnologia
Que eu já não dou conta dos botões.
Parem de me oferecer produtos
Que eu tenho a despensa cheia.
Parem de me anunciar espectáculos
Que eu já não tenho agenda.
Parem de fazer leis
Que eu faço questão de andar legal.
Parem de fazer estradas
Porque eu já não sei por onde hei-de ir.
Parem o comboio
Porque eu vou apear.
Parem a camioneta
Porque me apetece vomitar.

Ainda o sinal não estava verde
E já me estavam a apitar.
Parem! Stop! Dêem-me tempo! Dêem-me espaço!
Parem que eu não consigo acompanhar!
Oh! Estou a ficar para trás!
Parem de me encher a cabeça.
Deixem-me respirar.
Respirem.
Todos os livros, músicas e filmes estão compostos.
Chega de tecnologia.
A Terra está esgotada.
Já vi todos os números de circo.
Todas as leis estão feitas e todas as cidades construídas.
Será este o caminho?! Não são estradas a mais!?
Não vou para mais lado nenhum!
Não quero mais nada!
Vou viver aqui que aqui há terra!
Vou descansar.
E tu

10 comentários:

Camolas disse...

Eu...envio-te o meu grande silêncio, pelo teu texto.
Regressemos ao simples, senão ...que chegue o "Grande Peido Mestre".

antonio ganhão disse...

E és feliz?

Meg disse...

Pata Negra,


Que susto! Pensava que estavas de recaída!
E faça-se a tua vontade, balda-te para tudo, mas... não deixes de vir aqui.
Um abraço preocupado

André D'Abô disse...

identifico-me muito com este poema. muitas vezes quero parar tudo também e tenho uma sensação estranha quando convivo com pessoas que acompanham tudo que vem ao ar: desde o último aparelho de TV até o próximo filme a estrear. a mim me é suficiente acompanhar as últimas novidades desta minha mini-blogosfera, que é do tamanho de um quintal com um pequeno pomar ao fundo.
saudações de além-mar.

salvoconduto disse...

Fica lá com ele. Guiza-o com batatas. Tens cá o raio de um mau feitio!

Zé Povinho disse...

Meu caro
Eu também julgava já ter visto tudo, mas ainda hoje assisti a uma cena hilária e que eu não esperava num Parlamento Nacional, em que alguns deputados vestiram a pele de palhaços e depois não gostaram de assim serem chamados. Há algum mal em ser-se palhaço (verdadeiro)?
Estou indignado
Abraço do Zé

Milu disse...

Olá Pata Negra!

Gostei muito deste poema, que considerei um hino à Liberdade. Se nos descuidarmos já nem podemos ser nós, para sermos antes uns autómatos que obedecem ao sabor das tendências impostas. Por mim, gosto de me manter atenta ao que se passa em meu redor, não me agrada nem um bocadinho a ideia de poder perder o comboio do futuro, mas também te digo uma coisa, de vez em quando gosto de me entregar ao relaxe. Ah, é tão bom fazer de conta que se não passa nada. Que se lixe tudo! Que vão pregar para outra freguesia... Oh, máxima liberdade de me abandalhar, se me apetecer!
Um grande abraço.

Mariazinha disse...

Será que viraste libertário??

Beijinhos

Diogo disse...

O dedo em riste está errado, e devia estar apontado a Sócrates.

opolidor disse...

ora aqui está mais um talento puxado da "bela pocilga"... com talento.
abraço