Teresa foi para Espanha, durante anos enviou-me cartas que hoje mesmo, 9 de Março de 2010, num serão de sótão me entreti a reler. Detive-me nos envelopes emoldurados pelas barras coloridas e oblíquas do envio por avião e nos selos sempre iguais do retrato de Franco – a história já deu voltas e o meu sótão faz-me velho. Visitou-me/nos em anos seguintes na Terrinha ou em palcos, repetimos uns beijos, ressaboreámos a alcatifa empoeirada do chão da J7 mas não mais que isso. Talvez um sentimento entre corpos às vezes nos tivesse dito: podia ter dado, não deu! Mas as cartas, reli-as hoje, são um molho delas, perto de cem.
Sem Teresa, a banda “remasculinisou-se” e mudou de rumo. O Chico Fininho deu o pontapé de saída para o êxito do rock em português e nós começamos a ensaiar os nossos próprios temas. Cantar em português sobre sonoridades anglo-saxónicas era um desafio e tomámos uma determinação: vencer o complexo que os portugueses tinham, e mantêm, em relação aos ingleses pelo facto de não saberem falar, como eles, inglês.
E assim surgiu esta canção original, a dois ou três tons em “ritmo slow”, numa sonoridade do tipo “ Child in Time", que se inspirava numa quarentona, fã da banda e senhora “amercedada” lá das redondezas.
A dona Preciosa tem cu e tem corpo
Mas estão por debaixo da roupa
A dona Preciosa tem uma filha de Deus
Mas o marido não se importa
Na esplanada do café vi as pernas à dona Preciosa,
Fiquei tão flipado que fui internado
Por ter acompanhado o meu enlouquecimento
A dona Preciosa foi-me visitar ao estabelecimento
Entreguei-lhe um bilhete dobrado que rezava
"os desejos que você me determina
menina da casa dos quarenta
gostava de ir um dia à sua vivenda”
A dona Preciosa alojou o papel no decote
E eu invejei a sorte do terceto
A dona Preciosa linguarou-me
Que se pudesse comigo casava
Que marido tinha
Que a filha esperava
Que se eu esperasse um dia me a dava
A dona Preciosa tem um cu e tem corpo
Como eu nunca o vi
Como o meu português
A dona Preciosa riu-se e eu esclareci
Que meu português não é homem
É língua
A dona Preciosa linguou-me
E que se pudesse pois continuava
Que o marido faltava
Que a coisa não içava
Que se eu esperasse um dia me a dava
A dona Preciosa tem cu e tem corpo
E o meu português é coisa de louco
Poema mas pouco
9 comentários:
Não consigo escrutinar é o refrão!
"Sweet Dona Preciosa
you'll see the line
The line between
the good and the bad
See the flying man
shooting at the world
Bullets flying out
Taking toll"
Com um pouco de imaginação, adapta-se...
Saudações preciosas do Marreta.
Os Deep Purple na língua lusa? Adaptação/tradução em estilo livre mas bem esgalhada.
Cumps
A dona Preciosa tem cu e tem corpo
Mas estão por debaixo da roupa
Isto meu caro, é da melhor poesia!
Ah! fadista do rock... Como tu nos orgulhas.
'Inda me pões a fazer letras p'ra fado-rock
vira-rock
fandango-rock
O roque e a amiga? gostas do testículo, perdão do título?
Muitos êxitos, ou, como se diz antes de subir ao palco, muita merda.
E um abraço, claro... como um tinto
Cuidado dona Preciosa que o moçoilo está com a pica toda!
Abraço do Zé
E a D.Preciosa sempre deu para meias solas? Ou não chegaram a vias de facto?...Que pena!...
Abraço
Compadre Alentejano
Este tema é grande! Ia dizer precioso... mas não me pareceu adequado. :-)
Abraço.
Está visto, não me fiz entender: não se diz que se tocava o Child in Time com a Dona Preciosa mas sim com uma sonoridade do mesmo tipo. Não sei se estão a ver: dois ou três tons - um re menor, um fa sustenido, de quando em vez um la maior... o orgão tipo hammond em fundo, a guitarra a gemer, o baixo fundo e o Tarolas a hesitar e um tema original a lembrar outras sonoridades - talvez Deep Purple!...
Nada mais! Não acreditam?! Na próxima terça há video de memória!...
Um abraço aos fiéis leitores e os outros que se
" PRECIOSIDADES DE JUVENTUDE", serve para título ?
Um beijinho amigo
Maria
Enviar um comentário