sexta-feira, 18 de junho de 2010

Coisas da minha mãe (2)

No final dos anos sessenta um rapaz ia para França trabalhar e, ao fim de poucos anos, fazia uma casa estilo “maison” com janelas “a la fenêtre”, organizava uma festa de casamento de três ou quatro dias e partia de novo levando consigo a rapariga com quem se havia escrito.

Como quase toda a gente lá da aldeia, eram primos afastados mas só por especiais afinidades a minha mãe acedeu ao convite. Pela dimensão da boda anunciada, a visita aos noivos devida iria esfrangalhar o magro orçamento familiar. Lembrou-se então de uma das dela. Para reforçar o montante da visita, ofereceria ainda um par de galinhas, sabendo de antemão que a casa nova não tinha capoeira e que, nessa situação, a noiva teria das ir entregar à guarda da sua mãe.

E assim foi, entregue a cesta, a rapariga pegou nela agradecida e, toda contente e ao ritmo dos caracácás, dirigiu-se à sua casa de solteira:
- Oh Mariazinha mas eu estou a reconhecer estas galinhas! Estas galinhas parecem-me das minhas! Quem tas deu?
- Foi a mãe do João!
- Não digas mais, está tudo dito! Deixa lá que não as pôs em saco roto! Hei-de pregar-lhe uma partida que ela nunca mais irá esquecer!...
E era assim que se fazia alegre a vida!

5 comentários:

antonio ganhão disse...

Meu caro a tua mãe foi a precursora do Socratismo, só que com sentido de humor.

Zé Povinho disse...

As pequenas coisas da vida desses dias, que apimentavam a amizade e as relações de proximidade, que eram mais verdadeiras do que se possa pensar lendo este episódio.
Abraço do Zé

Daniel Santos disse...

boa historia.

MARIA disse...

Certamente deram canja para toda a família e assim sendo não deixaram de ser um presente :)
Delícia de texto, com sabor a canja caseira quentinha num dia de rigoroso inverno.

Um beijinho, Majestade

Maria

salvoconduto disse...

Huuum, sempre quero ver se a mãe da Mariazinha era só da boca pra fora ou se pelo contrário era uma mulher com génio...

Não me digas tu também que ainda acabaste por comer algum dos pitos?