sábado, 12 de junho de 2010

Incensurável mentira

2Ele disse que não sabia e sabia, isso não quer dizer que tivesse mentido. Até porque, se tivesse mentido, nasceria outro mentiroso que disse que apenas censuraria a mentira "do que disse que sabia e não sabia" mas que se absteria de censurar a moção de censura que censurava o caminho da estagnação económica, do retrocesso social e da liquidação da soberania nacional. 
Isto é, chegámos a uma situação em que, em nome da estabilidade política mais vale ter no poder um homem que diz que não sabe e sabe dumas coisas, do que um outro que, tal como ele, diz que sabe de soluções económicas e sociais para Portugal e que, tal como ele, escolhe o caminho das políticas económicas que se fazem com o sacrifício das políticas sociais.
Espremido este texto julgo que exprimi a opinião que também sou pela estabilidade política. A não ser que amanhã acorde num país em que as pessoas não suportem ser governados por gente que não mente e  que habitualmente falta à verdade.
Enfim,
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro [.]
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.]A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.]vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso ,pela razão que alguém deu no Parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

11 comentários:

opolidor disse...

Rei/presidente Pata

tantos anos se passaram desde que o Guerra escreveu com precisão... ainda hoje se pode rever o mesmo rigor de opinião..
abraço

João disse...

Se os portugueses soubessem ler talvez se revoltassem! Mas não sabem!!!

salvoconduto disse...

É um país de mentirinha...

Ferroadas disse...

Eles (digo sistema) sabem bem o povo que têm, as organizações que os "contestam" e os líderes que as detêm.

De 1974 até 1985 (entrada de Portugal na CEE) os tipos (digo governantes e afins) não as faziam, o Povo tinha tomates, vinha para a rua de pau na mão e contestava a valer o poder, muitos dos direitos por nós adquiridos e que hoje alguns ainda estão em vigor, foram conquistados por essa gente de tomates pretos com muito suor e algum sangue. Desculpem-me os jovens de hoje, mas já não os têm (tomates) pelos menos tão pretos. Hoje, essa gente (de tomates pretos) está "velha" e cansada, (este escriba incluído) já nos pesam os ditos (tomates), já fizemos o nosso dever, entregamos um país livre aos vindouros na esperança que o soubessem gerir a bem de todos, não o conseguiram, as causas para tal são inúmeras. Só lhes resta (aos mais novos) fazerem o que nós fizemos, luta, luta e luta, mas sem palavreado, com pau na mão e muita coragem.

Ontem era fácil encaminhar as coisas no sentido que o Povo desejava. Hoje ainda se pode conseguir. Amanhã só com outra revolução. Paciência. Se para salvar o Povo, necessário for arriscar de novo a vida, estamos prontos.

Abraço

José Lopes disse...

Um país que não tem emenda. Quando será que acordamos?
Cumps

do Zambujal disse...

Guerra Junqueiro?
Cheira-me a pseudónimo...
Conheces o gajo?

Um abraço

Zorze disse...

Pata, põe incensurável na coisa!
Com toda a seriedade, te digo que isto está do caralho. É verdade.
Isto está do caralho e sem saída.
Temos de de contar com os que cá estão e Guerra Junqueiro, com muita pena minha está entre os anjinhos.
Bien tout, ça va e a vida tem destas coisas, o passado, o presente e o futuro, et voilá, podemos ter um dedo na coisa, se soubermos ter.
O mundo está do caralho, é certo, mas podemos por um "sabot" na engrenagem e daí baralhar...

Abraço,
Zorze

Camilo disse...

Estamos feitos com estes gajos.
Só vejo uma solução:
na próxima "manifestação"... 300 mil(?)... haver meia dúzia de malucos que ponham à prova uma quantidade significativa de coktails Molotov.
Dá uma ajuda!!!

MARIA disse...

Majestade, excelente texto, excelente crítica muito bem complementado pelo seu amigo Ferroadas.
Vou confessar-lhe algo a propósito que servirá de graça, mas tem sério e decoroso propósito.
Tinha eu quatro anos, assisti ao momento em que minha mãe dava banho a um irmão muito especial que tive. Olhei, observei e perguntei : porque é que ele tem ali aquelas bolinhas que eu não tenho?
A minha mãe embaraçadíssima, corou e respondeu :
- Porque já lhe cresceram.
Assim durante algum tempo, uma das minhas preocupações era crescerem-me tais apêndices...
Felizmente não sucedeu :)
Como não sucedeu a Catarina Eufémia, a Natália Correia, a tantas outras que não só foram capazes de olhar para o mundo e acreditar que podia ser melhor, mas que isso dependia de cada um de nós ainda que em pequenas coisas e não prescindiram de fazer a parte que lhes cabe.

Hoje a maioria das pessoas só se assegura do maior prazer imediato.
Os outros...
O futuro ...
Se calhar nem para este planeta há futuro ...
É a perspectiva. Vivamos hoje.

E sem mais comentários, deixo-lhe um beijinho sempre amigo.

Maria

antonio ganhão disse...

O importante é continuarmos a levá-los a sério.

Marreta disse...

Este Junqueira, juntamente com o Eça eram uns visionários, uns verdadeiros Zandingas sem o saberem. Mas muito antes deles, já o César (o Julinho) dizia que este Povo não se governa nem se deixa governar. Assim seja.

Saudações do Marreta.