quinta-feira, 28 de outubro de 2010

TV Porno

Confesso que nunca vi mas já acredito em tudo: 
Chama-se "Agora é que conta", passa na TVI" e é apresentado por Fátima Lopes. O programa começa com dezenas de pessoas a agitar uns papéis. Os papéis são contas por pagar. Reparações em casa, prestações do carro, contas da electricidade ou de telefone. A maioria dos concorrentes parece ter, por o que diz, muito pouca folga financeira. E a simpática Fátima, sempre pronta a ajudar em troca de umas figuras mais ou menos patéticas para o País poder acompanhar, presta-se a pagar duzentos ou trezentos euros de dívida. "Nos tempos que correm", como diz a apresentadora - e "os tempos que correm" quer sempre dizer crise -, a coisa sabe bem. No entretenimento televisivo, o grotesco é quase sempre transvestido de boas intenções.

Os concorrentes prestam-se a dar comida à boca a familiares enquanto a cadeira onde estão sentados agita, rebolam no chão dentro de espumas enormes ou tentam apanhar bolas de ping-pong no ar. Apesar da indigência absoluta do programa, nada disto é novo. O que é realmente novo são as contas por pagar transformadas num concurso "divertido".

Ao ver aquela triste imagem e a forma como as televisões conseguem transformar a tristeza em entretenimento, não consigo deixar de sentir que esta é a "beleza" do Capitalismo: tudo se vende, até as pequenas desgraças quotidianas de quem não consegue comprar o que se vende.

Houve um tempo em que gente corajosa se juntava para lutar por uma vida melhor e combater quem os queria na miséria. E ainda há muitos que não desistiram. Mas a televisão conseguiu de uma forma extraordinariamente eficaz o que os séculos de repressão nem sonharam: pôr a maioria a entreter-se com a sua própria desgraça. E o canal ainda ganha uns cobres com isso. Diz-se que esta caixa mudou o Mundo. Sim: consegue pôr tudo a render. Até as consequências da maior crise em muitas décadas.

(Entretanto a apresentadora recebe 40.000€ por mês. Foi este o valor da transferência da SIC para a TVI. Uma proposta irrecusável segundo palavras da própria.)

8 comentários:

Meg disse...

Não vi, e depois de ler este post, jamais verei.
Esse e outros programas que para aí proliferam.
Que país é este, que raio de gente é esta?
São verdadeiramente obscenos e pornográficos esses programas de "solidariedade barata e bacoca"

Estou quase a desistir...
resta-me o outro espectáculo... o orçamento e que tais.

Um abraço bem recalcitrante

antonio ganhão disse...

Não vejo a TVI, mas reconheço que este programa tem muito de pedagógico, a miséria de muitos é banquete para os poucos eleitos e neste país não falta miséria, humana e intelectual.

Bem, eu tenho uma divida ao banco, da minha casa... como é que eu posso concorrer?

Zé Marreta disse...

Por mim mandava lá o Orçamento, sempre se conseguia uma redução de 300 euros no défice.
É por estas e por outras que a semana passada coloquei um aviso na minha porta: "Vendedores da Cabovisão, Zon e Meo não são bem-vindos! Favor não tocar à campainha!"

Saudações do Zé Marreta.

José Lopes disse...

Como disse o Marreta, mandem-lhe as dívidas do Orçamento de Estado, a ver se têm sorte. Antigamente era o Fado, O Futebol e as Touradas. Porque os tempos mudaram o T de Torada foi substituido pelo T de Televisão.
Cumps

mfm disse...

Não vejo esse programa porque não gosto.Para gritaria, já basta a dos políticos. Há quem goste, que bom ...- para eles.Dão dinheiro - que bom para quem recebe.A apresentadora ganha muito - que bom para ela - quanto mais ganhar, mais impostos paga - para o outro desbaratar.
A empresa pode ir à falência? - Pois, isso é lá com eles - não é Pública - não somos nós que pagamos.Liberdade de escolha é preciso,mais educação e cultura é preciso. Neste momento é o que temos.

Zé Povinho disse...

Esse canal não consta do meu cardápio, que aliás é bastante reduzido.
Abraço do Zé

Camolas disse...

Nunca duvidei da grande bosta que é a TV , salvo raríssimas excepções que passam normalmente por volta das 3 da madrugada

samuel disse...

Ainda não tive o azar de ver... mas hei-de sujeitar-me a essa "provação" e também dizer algo que me ocorra.
Entretanto, o que é evidente, é que aquilo é degradante.

Abraço.