sábado, 29 de outubro de 2011

As vacas não se chamam pelo nome mas os bois sim

O rei D.Carlos adorava a caça, Salazar as botas, as pantufas e a criada, Eanes a mulher, Soares, abanar o cu de avião, Sampaio os buracos do golfe e Cavaco, adora vacas. E, de repente, toda a gente está com o presidente a falar das vacas, como se estivesse implícíta uma vontade de voltar às índias, um assomo de virilidade de velhos murchos, a falta de coragem para chamar os bois pelos nomes, a irresponsabilidade de esquecer os porcos e o Rei dos Leittões.
Não gosto de vacas nem de anónimos porque não têm nome mas um anónimo deixou-me este comentário no post anterior e eu sinto-me na obrigação de o pôr no cocho:

"Anda um gajo ensimesmado com esta merda toda, eu que já tenho idade mais que suficiente e com um invejável curriculum de salazarismo, guerra colonial, 25 de Abril sempre ou de vez em quando, 25 de Novembro o caralho, fmi´s, Soares, Cavacos mais toda a corja infecta que saltou da latrina mal o carcanhol das europas entrou por Vilar Formoso aos turbilhões, eu, que a esta hora poderia e deveria como tantos outros estar a gozar de uma choruda reforma antecipada ou na reserva territorial por incapacidade intelectual, ando aqui a chatear-me com políticos e economistas ranhosos, que se isto fosse um lugar frequentado por gente com algum pingo de vergonha nas ventas e coluna vertebral de aço inox, nunca teriam passado da junta de freguesia de santa pachacha de assobio ou da contabilidade da única mercearia de Algodres de Baixo.

Como sou masoquista, vou vendo ouvindo e lendo as escarradelas dos ilustres comentadores que poluem o éter, cada qual com a sua solução mágica para arrumar de vez a crise, tipo tira agora o coelho da cartola que já vais ver como é que te vão ao traseiro.

E como sou, na opinião de tão desbragadas criaturas, um dos muitos milhões de responsáveis que andaram a viver acima das suas possibilidades, pergunto se esse porventura meu pecado foi assim tão grave que tenha agora de levar com o inferno, o purgatório e o Vítor Gaspar em cima como castigo e penitência.

Por isso peço desculpa por ter comprado uma casinha a crédito quando os bancos andavam a oferecer empréstimos ao desbarato, ter comprado um carrito de merda a suaves prestações mensais aproveitando uma promoção da treta que a marca oferecia, ter trocado o meu velho televisor por um Lcd pago em 10 vezes sem juros, ter comprado um frigorífico novo quando o velho deu o peido-mestre, e isto só para citar o mais relevante.

Pois, sou culpado da crise, e o que deveria ter feito era ter entrado para um partido do arco do poder, militado na jota, aparecer, qual emplastro, ao lado do líder, atirar umas bojardas para a comunicação social e ganhar um lugar de deputado, secretário de estado ou até de ministro, com algumas alcavalas pelo meio em administrações de empresas públicas, público-privadas e bancos da treta, somando meia-dúzia de pés de meia em negócios de alto valor acrescentado na minha conta bancária na Suiça, e vivendo à grande e à francesa em moradias de luxo rodeado de veículos topo de gama e putas de todas as cores, feitios e sexos.

Tem muita razão a senhora Merkl em exigir-me o pagamento de dívidas que eu nunca tive, especialmente aquelas contraídas com a aquisição de coisas que a senhora me obrigou a comprar, têm muita razão os que apontam o dedo à minha exagerada despesa com o SNS, principalmente quando fiquei doente, e o meu abuso das instituições de ensino, pois deveria ter permanecido alegre e analfabeto evitando gastos inúteis ao estado.

Para quem andou tantos anos a levar com crises em cheio nos cornos, embora com alguns muito pequenos intervalos respiráveis, mais crise menos crise pouco importa a quem já está malhadiço, calejado e habituado. No fim vamos todos voltar à terra e ao mar como quer o sr. presidente, que é onde está o nosso futuro.

Enterrados bem fundo ou a nadar junto à costa até os tubarões darem conta do que ainda sobrar.

Ainda bem que somos governados por gente tão inteligente e preocupada com o nosso bem-estar."
 
Anónimo, como as vacas e não como os bois.

(bem me parecia, este Anónimo trazia água no bico, pesquisei e encontrei o autor do texto no blog baba de safio - a César o que é de César - nota em 1/11/11)

8 comentários:

do Zambujal disse...

Quem tem anónimos destes não merece descanso. É só reproduzir, reproduzir, reproduzir. Até porque na reprodução é que está o (maior) gozo.

Um abraço

Unknown disse...

Absolutamente genial.
Tomei a liberdade de copiar e colar no meu blogue, com a devida referência quanto à fonte.
Cumprimentos.

José Lopes disse...

Valeu a pena ler. É um comentário muito interessante e suficientemente caustico para me agradar.
Cumps

Zé Marreta disse...

Ah ganda anónimo!

maceta disse...

Envie-se com urgência ao Coelho-mor com conhecimento do manholas Relvas, o tal que é cianeto puro...

abraço.

obs: anda por aí muita gente anónima que se transformasse a ira em violência havia muito político capado.

Anónimo disse...

https://mail.google.com/mail/?hl=pt-PT&tab=wm#inbox/133557eacc0b47ac

MARIA disse...

"voltar à terra e ao mar ..."

Acredito que vai acontecer a muitos dos portugueses.

E sobrem muitos peixinhos no mar e muitas vaquinhas na terra para que ninguém passe fome extrema.

Tenho esperança, agora que temos finalmente um partido que defende os direitos os animais que pelo menos estes sejam poupados e não nos falte o leite para alimentar os filhos e a carne para o tacho.
Desejo sinceramente que se consiga ser mais eficaz com os animais, do que são os partidos que supostamente existem para nós, porque se assim for, entre espoliados e feridos há-de algo escapar... :)

Em tudo há que buscar o lado positivo das coisas. E as vacas têm esse lado positivo que é o lado que não atrai o poder, mas pode dar a muitos de comer ... :)


Ai tanto berbigão de tolice ...
Perdoar-me-á Vª Majestade, momentos de divagação intrépida por uma lucidez escurecida :)



Para si, um beijinho amigo, Maria

betovsky disse...

Pata Negra, obrigado pelo link.
Disponha sempre.
Um abraço e parabéns pelo seu blog.