Hoje é dia de futebol. É dia de puxar pelo patriotismo.
Pena que também não tenhas saído mais cedo do trabalho quando, há dias, houve uma manifestação contra o ataque aos direitos laborais.
Pena que só hoje, porque queres chegar mais cedo a casa, tenhas dado pela lentidão dos transportes e não tenhas estado presente quando, há dias, houve uma concentração contra à supressão de carreiras públicas.
Pena que também não te tenhas juntado à malta do bairro quando, há dias, houve uma assembleia contra o fecho do centro de saúde.
Pena que também não te tenhas juntado com os teus filhos quando, há dias, te pediram ajuda num trabalho contra o abate da zona florestal da tua futura extinta freguesia.
Pena que há dias que faças contas para este dia e nem sequer deste conta que já passou o 10 de Junho.
Mas não, para ti só há dias nos dias em que há futebol.
Que bom que era que a tua vontade de estar com os outros se manifestasse também nas causas sociais,
Que a tua vontade de intervir se revelasse também contra a violência e a corrupção,
Que também tivesses opinião quando há eleições,
Que o teu patriotismo se erguesse sempre que estrangeiros quisessem mandar no teu país.
Mas não, o teu patriotismo começa e acaba na selecção de Portugal.
O teu euro é de quatro em quatro anos. O outro euro apenas te interessa no plural para teres umas sagres no frigorífico, isto se não chegarem para comprar umas alemãs em lata.
Para manifestações que não sejam de futebol tens sempre uma palavra:
- Eu não sou contra nada, eu não quero é que venham contra mim!...
Ou melhor, és contra tudo e todos, por isso não tem sentido estares com alguém em alguma causa!
Contra a Alemanha não! Eles é que nos salvam! Contra a Alemanha só no futebol!
Alemanha-Portugal - é hoje?! Se fosse só hoje!...
Não sei nada de futebol, não é?! Calma aí! Também sei que há umas dinamarquesas boas e não são em lata!
8 comentários:
Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal
"Eça de Queirós in “As Farpas”
Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora” (1867)
“Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.”
Eça de Queirós,in
“Correspondência” (1891)
Depois da sardinhada de S. António, uma vitória sobre a Dinamarca, e o pessoal ficou de barriga cheia.
Quando acabar a festa é que vão voltar as lamúrias, mas quando é preciso união para combater o ataque que é feito a quem trabalha, onde é que páram estes foliões?
Cumps
Pera lá, falaste em sagres no frigorífico? Se for bohemia e esiver fresquinha lembra-te que eu sou teu amigo, se for dinamarquesa também marcha que nunca provei nenhuma.
Vês o que a redondinha faz à cabeça, vês?
Descansa que ainda os has-de ver à cabeçada...
Se nos unisse mos naquilo que mais interessa, que são as condições de vida, este país seria bem melhor.
Abraço do Zé
A julgar pela afluência aos arraiais populares e ao desenfreado consumo de sardinha - a um euro a unidade! - não existe por cá crise nenhuma que justifique as preocupações enumeradas. A malta é toda rica, pá!
Há os que ainda têm dinheiro. E os estabelecimentos fecham porquê? O esbulho está longe de terminar.
O "filho da puta" - uma lição de Gramática (veja-se como o Português é uma língua rica).
- Filho da puta é adjunto adnominal, quando a frase for: "Conheci um político filho da puta".
- Se a frase for: "O político é um filho da puta", aí, é predicativo.
- Agora, se a frase for: "Esse filho da puta é um político", é sujeito.
- Porém, se um gajo aponta uma arma para a testa do político e diz:
"Agora nega o roubo, filho da puta!" - aí, é vocativo.
- Finalmente, se a frase for: "O ex-ministro, aquele filho da puta, arruinou o país." - é aposto.
Que língua a nossa, não é?!
Agora vem o mais importante para o aluno:
Se estiver escrito "Saiu de ministro directamente para a administração de uma grande empresa que tem vultosos negócios com o Estado e ainda quer que o julguemos pessoa honesta", o "filho da puta", aqui, é sujeito oculto...
As Dinamarquesas são das melhores do mundo. As cervejas e não só...
Enviar um comentário