quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Quem me come a carne não vai dar-me dentes

Três duma assentada que a brasileira lhe arrancou!
 - Abra a boquinha! Abra a boquinha! Não vai doer! Tubos prá aqui! Seringas e alicates para acolá! Abra a boquinha! E dá cá 180 euros!

Andou todo o santo dia com a roupa do trabalho sujo, com a gola da samarra velha a roçar-lhe as orelhas, com a boina velha a guardar-lhe a chuva miudinha do olhar fitado nos seus próprios passos, com uma expressão de rochedo polido, entre a lareira e a soleira, entre o fundo e o cimo do quintal, cem metros de vai e vem pela nossa rua, de vez em quando uma macheia de desabafo, de quando em vez um dedo de conversa.
- A carteira e o serrote que se lixem! O que tenho para fazer e a dor é que me estão a lixar!

Nem pôde cumprir o seu habitual trabalho de domingo: arranjar trato para as ovelhas, arranjar uma pouca de lenha, arranjar uma dobradiça ou uma torneira, comer a cacecruta, ir de mota ao amigo Toino do Vale tratar de um assunto menor para justificar um copo, comer o cozido, dormir a sesta e depois vir a minha casa para lhe ler uma carta ou preencher um papel!
- Dez dias sem beber! Caso contrário os comprimidos não fazem efeito!

Também para mim foi um domingo diferente, sem ouvir a tratorinha, o berbequim, a mota... E depois ver o vizinho e amigo Tó Zé, com a boca dorida e calada, com o andar sem firmeza ou destino, fixado na recordação da cadeira artilhada e na voz sensual da brasileira:
- Abra a boquinha! Abra a boquinha!
Viria o lusco-fusco e, no recolher da última voltinha, teria de surgir o habitual convite:
- Queres ver como é que ela está?!
- Então e bebo sozinho?!
- Não és capaz?!

Costumamos beber cada um no seu copo mas é como se bebêssemos num único, unindo as nossas vidas em temas que servem para tornar iguais vidas diferentes: a avaliação  do estado e da evolução da pinga, das azeitonas barrasquentas ou dos tremoços; a conversa do tempo, do acidente da semana, do outro que morreu ou da outra que foi apanhada com o cunhado ou com a cunhada... desta vez tudo ficou para segundo plano, foi copo para falar de dentes:
- Deixa lá! Agora vais ficar com uma cremalheira nova!
- Isso queria ela! 3000 euros se for assado, 400 euros se for não sei como! Ó senhora doutora o que eu ganho não dá para a cova de um dente! "Vai dar cabo da sua saúde sem dentes senhor António! Mastigar bem a comida é importante!"
- Ainda por cima este gajos estão a dar cabo do SNS!
- Tanto se me dá que eles acabem com isso como não, eu só utilizo o telemóvel para chamadas!
- Não é SMS, é SNS!
- Tanto se me faz que seja uma coisa como outra! Não preciso de dentes para beber! ...  Abra a boquinha! Abria, abria se pudesse! Mas era para dizer umas verdades! Mas infelizmente nem falar sei!... SNS!... SNS!... Lá estás tu com as tuas políticas! Quem me come a carne, não vai dar-me dentes! Pronto, eu bebo meio!...

É assim a vida na minha rua.

9 comentários:

Malmequer Bicicleta disse...

Isto sim, isto é que é poesia! E da boa. Com rima, ritmo, métrica e tudo. Quase onomatopaica. Aposto que o meu primo Crisântemo, desta vez, nem reclama. Parabéns Pata Negra.
Malmequer Bicicleta
(Primo da Rosa Mota)


P.S. O amigo Tó Zé foi "levado" pela brasileira. 180,00 euros por arrancar três dentes duma só vez, nos tempos que correm, é obra. Passou Recibo?

cid simoes disse...

É um retrato muito bem focado de muitas, muitas ruas.

O Puma disse...


O dentista é o único que me obriga
a abrir a boca

fora isso
ninguem me cala

Anónimo disse...

O Pata Negra reclama de quê?
Reclama do Sócrates? do Victor Constâncio, do Passos Coelho? do ministro Gaspar? do António José Seguro, do Cavaco Silva? do Mário Soares, do Dias Loureiro? do Armando Vara? do Paulo Portas? do Isaltino Morais? do Duarte Lima, do Jorge Coelho, do João Jardim? do Joe Berardo? do Ministério Publico? da Ministra da Justiça? dos Tribunais ? da Procuradoria Geral da República? dos Autarcas do País? do Teixeira dos Santos? da CGTP, da UGT? da Maioria dos deputados no Parlamento? da Comissão de Arbitragem, do Pinto da Costa, do Valentim Loureiro, ou de outro canalha qualquer?
Os «Patas Negra» deste país reclamam de quê? O Português é assim:
1- Coloca nome em trabalho ou licenciatura que não fez.
2- Coloca nome de colega que faltou em lista de presença.
3- Paga a alguém fazer os seus trabalhos.
4- Rouba cargas de veículos acidentados nas estradas.
5- Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas de proibição.
6- Suborna ou tenta subornar quando é apanhado a cometer uma infração.
7- No dia de eleições vai passear para a praia, futebol, visitar ao shopping, beber umas cervejas etc.
8- Fala no telemóvel enquanto conduz.
9- Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o telemóvel dos amigos: (dá-me um toque que eu ligo...) - assim o amigo não gasta nada.
10- Conduz pela esquerda, pelo meio, pela direita e pelos passeios nos engarrafamentos.
11- Para em filas duplas e triplas, em frente às escolas.
12- Viola a lei do silêncio.
13- Conduz bêbado.
14- Fura filas nos bancos, nas repartições públicas, etc. etc. utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.
15- Deita lixo nas ruas, nas calçadas, nos jardins.
16- Usa atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho.
17- Rouba luz, água e tv por cabo.
R- Regista imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos sisa.
18-Pede recibos falsos para abater na declaração das finanças para pagar menos imposto.
19- Quando viaja em serviço pela empresa, se o almoço custou 10?, pede factura de 20?.
20- Comercializa objetos doados em campanhas de catástrofes, ou para ajuda a mais necessitados.
21- Estaciona em espaços exclusivos para deficientes físicos.
22- Adultera o conta-quilómetros do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.
23- Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas.
24- Substitui o catalisador do carro por um, que só tem a casca.
25- Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do metro, sem pagar passagem.
26. - Leva das empresas onde trabalha, pequenos objectos, como clipes, envelopes, canetas, lápis... etc. como se isso não fosse roubo.
27. - Falsifica tudo, tudo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.
28. - Quando volta do estrangeiro, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta ou perguntava o que traz na bagagem.
29. - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.
E quer que os políticos sejam honestos...

Escandaliza-se com a corrupção dos políticos, o dinheiro das cartões de credito, das despesas nas passagens aéreas e da estadia no estrangeiro...

Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo, ou não?

O Português reclama de quê, afinal?

Então sugiro adotarmos uma mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde for necessário!

Vamos dar o bom exemplo!

Espalhe esta ideia!

Fala-se tanto da necessidade deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores (educados, honestos, dignos, éticos, responsáveis) para o nosso planeta, através dos nossos exemplos...

Amigos!
Colhemos o que semeamos!
A mudança deve começar dentro de nós, das nossas casas, dos nossos valores, das nossas atitudes.

«Refundemos» a nossa maneira de ser e de estar na Vida e os nossos filhos e netos encontrarão um Mundo melhor do que aquele que recebemos dos nossos Pais.

salvoconduto disse...

O que faz uma pessoa estar ausente da roda doa amigos, quase que perdia esta, mas deixa que te diga que se ele lavasse os dentes com água a correr ainda os tinha, os três, foi no paleio da Jonet, lavava-vos com o copinho, cheio de bactérias, tramou-se, que é para não dizer outra coisa, é gente em quem não se pode confiar, à meia volta estão a chamar-nos feios, pobres e maus.

Já agora não sobrou nada? A a parte que ele não bebeu até me ajudaria a vencer a insónia, embora lhe reconheça um certo valor, até nem percebo por que anda o gaspar, bastava cortar nos bifes e na agua e depressa enxotamos os credoras, tens a certeza que não sobrou nada?

Peta Negra disse...

Não, desgraçamente, amigo conduto, não sobrou nada. Nem sopa, vê lá.

maceta disse...

A carne , para muitos, já foi comida e agora andam a roer-nos os ossos...
É mais do que raiva desta cambada fdp, é ódio mesmo!

abraço

Compadre Alentejano disse...

Estou a arranjar coragem para também me sentar na cadeira da senhora doutora... Até me mijo todo....
Abraço
Compadre Alentejano

Compadre Vicente disse...

Aposto que o dito Compadre Alentejano não é alentejano. Onde é que já se viu um alentejano a sério mijar-se todo por ter que arrancar um dente? Aqui não há disso. Quero dizer, os que por aí há não são de cá. O Alentejo não produz maricagem. Homessa!