quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Muro da Palestina



Em 1980, uma canção que escrevi, Another Brick in theWall (Part 2), foi proibida pelo governo da África do Sul porque estava a ser usada por crianças negras sul-africanas para reivindicar o seu direito a uma educação igualitária. Esse governo de apartheid impôs um bloqueio cultural, por assim dizer, sobre algumas canções, incluindo a minha.
Vinte e cinco anos mais tarde, em 2005, crianças palestinianas que participavam num festival na Cisjordânia usaram a canção para protestar contra o muro do apartheid israelita. Cantavam: "Não precisamos da ocupação! Não precisamos do muro racista!" Nessa altura, eu não tinha ainda visto com os meus olhos aquilo que elas cantavam.

Um ano mais tarde, em 2006, fui contratado para actuar em Telavive.
Palestinianos do movimento de boicote académico e cultural a Israel exortaram-me a reconsiderar. Eu já me tinha manifestado contra o muro, mas não tinha a certeza de que um boicote cultural fosse a via certa. Os defensores palestinianos do boicote pediram-me que visitasse o território palestiniano ocupado para ver o muro com os meus olhos antes de tomar uma decisão. Concordei.
Sob a protecção das Nações Unidas, visitei Jerusalém e Belém. Nada podia ter-me preparado para aquilo que vi nesse dia. O muro é um edifício revoltante. Ele é policiado por jovens soldados israelitas que me trataram,  observador casual dum outro mundo, com uma agressão cheia de desprezo. Se foi assim comigo, um estrangeiro, imaginem o que deve ser com os palestinianos,com os sub-proletários, com os portadores de autorizações. Soube então que a minha consciência não me permitiria afastar-me desse muro, do destino dos palestinianos que conheci, pessoas cujas vidas são esmagadas diariamente de mil e uma maneiras pela ocupação de Israel. Em solidariedade, e de alguma forma por impotência, escrevi no muro, naquele dia: "Não precisamos do controle das ideias".
Tomando nesse momento consciência que a minha presença num palco de Telavive iria legitimar involuntariamente a opressão que estava a testemunhar, cancelei o concerto no estádio de futebol de Telavive e mudei-o para Neve Shalom, uma comunidade agrícola dedicada a criar pintinhos e também, admiravelmente, à cooperação entre pessoas de crenças diferentes, ond muçulmanos, cristãos e judeus vivem e trabalham lado alado em harmonia.

Contra todas as expectativas, ele tornou-se no maior evento musical da curta história de Israel. 60.000 fãs lutaram contra engarrafamentos de trânsito para assistir. Foi extraordinariamente comovente para mim e para a minha banda e, no fim do concerto, fui levado a exortar os jovens que ali estavam agrupados a exigirem ao seu governo que tentasse chegar à paz com os seus vizinhos e que respeitasse os direitos civis dos palestinianos que vivem em Israel.
Infelizmente, nos anos que se seguiram, o governo israelita não fez nenhuma tentativa para implementar legislação que garanta aos árabes israelitas direitos civis iguais aos que têm os judeus israelitas, e o muro cresceu, inexoravelmente, anexando cada vez mais da faixa ocidental.
Aprendi nesse dia de 2006 em Belém alguma coisa do que significa viver sob ocupação, encarcerado por trás de um muro. Significa que um agricultor palestino tem de ver oliveiras centenárias ser arrancadas. Significa que um estudante palestino ...
(Excerto dum texto de Roger Waters - Pink Floyd)

3 comentários:

M A R I A disse...

Um testemunho fantástico e comovente. Para mim a Palestina é uma Nação. É muito injusto que assim não seja reconhecida.

O Puma disse...

A propósito

as Juntas de freguesia
são escolas de virtudes

Abraço

Anónimo disse...




A despropósito

«Na Europa, cada manifestação "do orgulho Gay" contou, em média, com 100.000 pessoas. Cada manifestação Contra a Corrupção teve, em média, cerca de 2.500 pessoas! Estatisticamente, fica provado que há mais gente a lutar pelo direito de levar no rabo, do que lutar para não ser enrabado.»
(Miguel Esteves Cardoso)