domingo, 29 de setembro de 2019

Há que chamar os burros pelo nome


Estou aqui, 57 anos, filho de mãe mãe, pai operário. Não me queixo  do que penei, não me vanglorio do que realizei e o meu médico tem-me dito que eu não devia de abusar tanto.
Em abril de 75 eu era um puto adolescente e trazia um autocolante do PPD colado na face duns sapatos que já tinham sido do meu primo, filho do meu tio que tinha um mercedes branco. 
Em 79 votei pela primeira vez.  Já tinha vivência e consciência para não votar nos cabrões que nos têm governado mas os meus parentes, colegas e amigos, sempre votaram ora neste, ora naquele, ora em função de uma promessa específica, ora rejeitando uma medida em particular, consoante a cara de um cartaz, seduzidos por uma boa prestação num debate televisivo, como resposta ao fastio dos que tinham estado, como aposta de experimentar novamente os outros, por eu sei lá?!...

Diga-se, em abono da verdade democrática, que não é por isso que estão melhor ou pior do que eu. Na verdade todos nós usamos sapatos, portugueses ou não, mas em primeira mão, tenho um carro em segunda mão mas é mercedes e pronto, é alemão, tomamos diariamente banhos de água quente e temos em comum o facto de todos estarmos revoltados com a situação.

Tenho contra os governantes que temos tido um dedo médio sempre à mão e continuo a ter sempre um abraço para os meus próximos. Mas nestes últimos tempos tenho-me interrogado bastante sobre a quem devo pedir contas, aos eleitos, ou aos eleitores?
Por diferentes razões, nem a uns nem a outros. Aos primeiros porque nunca acreditei nem acredito neles. Aos  segundos porque lhes leio o arrependimento de terem errado. 
Estou revoltado mas não aposto na revolta, aposto na revolução. Os meus parentes, colegas e amigos não: "isto está mau", "não podemos fazer nada por causa da globalização", "a crise é geral", "já não vamos ter reforma", "são todos iguais", "e o que é que acontece se eu for a uma manifestação?", "greves só se for dum mês", "matar alguns" e entre tantas destas que conhecemos e ouvimos a maioria remata "com o meu voto não contam mais eles!".

... e entretanto as sondagens são deles, os votos são deles, é tudo deles, até a opinião dos meus parentes é feita por eles, a resignação dos meus colegas joga a favor deles, a abstenção dos meus amigos serve-os a eles, eles! eles! nós? quem somos nós?
eu não sou os meus parentes, colegas e amigos e é por eu não ser eles, ou eles eu, que tenho andado triste, 
não lhes posso pedir contas que eles zangam-se! zangam-se com muito! eu zango-me com pouco! como por exemplo pelo facto de estar a escrever um texto e me surgirem sempre rimas vulgares, pelo facto de querer acabar o texto e me surgirem sempre vulgaridades como a presente... mas que se lixe! o importante é que o que digo se torne in-citável! ou então o importante seria que os meus parentes, colegas e amigos pensassem  como eu! mas não! estou fodido!

(este palavrão no fim fica a matar! este meu mau gosto vem-me de ser do povo! quem é o povo?)

quem é o povo? uma cambada de burros? isto é que eu sou um cavalo! não, estou apenas a ser um pouco porco com os meus amigos, que tomam banho todos os dias e sempre votaram nos porcos a quem chamam respeitosamente pelo nome. Agora admiram-se pelo triunfo dos porcos! Estou fodido com eles! Pronto! 

13 comentários:

jrd disse...

Estamos!!
Os burros, com perdão dos jumentos, têm nomes, são os "tugas", espécie antiga, que nunca mais entra em vias de extinção.

Abraço

Manuel Veiga disse...

fodidos e mal pagos...

quando nada tiverem a perder, acordam - ou "aguentam".

como burros...

abraço

José Lopes disse...

Não voto na troika nacional, por vezes abstenho-me, e já votei em partidos que não exerceram nunca o poder, mas também nunca me inscrevi em qualquer partido. Exerço a minha cidadania em plena liberdade, e penso que se todos o fizerem (dentro ou fora dos partidos) as coisas podem mudar. O que é preciso é que todos digam o que querem sem medos.
Cumps

Jose Rodrigues disse...

Eu cá por mim desde 1974 que voto sempre na CDU.Não estou nada arrependido, apesar de estar fodiscado com a santa ignorância dos pobres e humilhados, que, são corneados pelos partidos do arco do P(f)oder...

Abraço

O Puma disse...

Tudo se move
os cavalos nos hamburguers
as vacas nas sacristias
as galinhas na febre dos poleiros
os porcos nas lavandarias

até os crentes
já não olham os céus

estão pregados na chaminé

Quanto a mim
isto vai dar merda
da boa

Olinda disse...

"...atê a opiniao dos meus parentes ê feita por eles." Ê isso!A opiniao metida no cêrebro de quem pensa que ê livre pensador.O resultado estâ ä vista.Vozes de burro,nao fazem revolucoes,mas ao menos,deixem-nos provar que nao somos todos iguais,caray!...

M A R I A disse...

o Povo tem a chamada culpa " in eligendum..." logo para começar,e
é um Povo que não cultiva a preparação de bons Governantes, quanto mais "equivalentes" mais competentes para mandar ...
O desinvestimento na educação e na excelência da formação profissional ocorre muito também porque os pais preocupam-se que os filhos arranjem um emprego e consequentemente sustento, o que é humano. Mas, para chegarmos a ter melhores políticos, temos que começar por formar bem, em todas as vertentes... as pessoas...

vieira calado disse...

Mas o triunfo
está a ser dos porcos...
meu caro!
Forte abraço!

Zambujal disse...

Tens de escrever mais!
Faz-te bem, porra!
E faz-nos muito bem ler-te.

Grande abraço

Maria disse...

Desabafa aqui que eu gosto de te ler.
E um dia destes vamos descer uma qualquer rua e gritar. Uma e outra vez!
A ver se nos ouvem, carago!

Abraço.

maceta disse...

é uma revolta que vai amargurando a alma...até ao ódio.

abraço

Sebastião disse...

Desabafa! Não cales a indignação. Até rima com revolução. Um dia vamos a uma manifestação. Que raio de escrita, termina tudo em ão como leitão.

Manuel Veiga disse...

o que é o povo? é o que tens...

mas aguenta aí, pá!
o capitalismo, não terá os dias, mas tem os séculos contados!

boa malha! quem fala assim não é gago!
até a minha bílis sai daqui mais calma

abraço