quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O homicídio do senhor Jesus


Acossado pelo espírito da homília dominical, arraigado do mais puro espírito cristão, imbuído do verdadeiro espírito natalício, o senhor Jesus saiu da igreja determinado a seguir à risca a palavra do Senhor. Coisas bíblicas como o “se tem duas túnicas…”, “um camelo passar pelo buraco duma agulha…”, “não se pode servir a Deus e ao dinheiro…” e, sobretudo, aquela do Menino ter nascido numa manjedoura, há muito tempo que atormentavam o homem e aquele domingo de dezembro apresentou-se-lhe como o dia da Revelação do Céu.

O senhor Jesus herdara e mantivera toda a vida a criação de gado do seu pai lavrador, abastado suficientemente para não deixar o filho solteiro.

Quando chegou a casa, por volta do meio dia, e disse à mulher que ia soltar as vacas, ela pensou que fosse do estábulo para a cerca. Nem lhe passou pela cabeça que fosse da cerca para fora!

Depois do almoço começaram a aparecer vozes à porta:
- Ó senhor Jesus, as suas vacas andam soltas por aí!...
- As minhas vacas são também vossas vacas, cuidem também vocês delas!

Toda a gente deu o senhor Jesus como louco ou possesso de espírito dos demónios, incluindo a mulher que pediu às pessoas que a ajudassem na recolha da manada. O senhor Jesus não foi com eles e dirigiu-se à exploração. Aí chegado e com a ajuda de Deus - no seu ponto de vista- com a ajuda do Diabo – no ponto de vista do próximo - destruiu todas as portas e cancelas que cativavam as suas cabeças.

Quando o povo e a esposa irada chegaram com as primeiras vacas, benzeram-se em nome de Deus, e a mulher rica viu-se obrigada a pedir à pobre gente para as distribuírem pelos seus pequenos currais já que ali não já não existiam condições para guardá-las.

Contente por ter levado a sua avante o senhor Jesus correu para abraçar a mulher que, como resposta, o ameaçou de morte correndo atrás dele com uma forquilha em direção à vacaria.
Assustado, o homem escondeu-se no meio da palha duma manjedoura e, enquanto ela gritava de raiva em busca dele, pensava:
- Já que carreguei toda a vida indignamente o nome Dele, que nasci em berço de ouro, que vivi que nem um padre, que morra ao menos nas condições em que Ele nasceu!

E assim foi, trespassado pelos dentes da forquilha, ali morreu na manjedoura, confortado pelos remorsos da companheira de toda a vida que, cainda em si, se fez de imediato arrependida.

A verdade histórica deveria revelar que a vaca faz parte dos presépios por esta história e não pelos acontecimentos narrados pelo evangelista, se iam de burro e foi numa estrebaria o que raio é que estava lá a fazer uma vaca!?...

- Não! Não é mau gosto! Quem assassina merece todos os nomes! Já é, é tempo da Igreja tomar uma posição e mandar retirar a vaca dos presépios.

8 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Abaixo a vaca
viva a estrebaria

que se dê o lugar digno aos burros

maceta disse...

Se fosse como hoje poupava-se a vaca e o burro e punha-se um aquecedor a óleo...


Bom Natal com saúde.

Abraço

O Puma disse...

A vaca por mim pode continuar

agora os camelos meu irmão
nem que fossem dromedários

Abraço sempre
Que viva o teu excelente espaço

Sérgio Ribeiro disse...

o senhor Jesus e a vaca era um bom título para o excelente texto.
Mas pode falar-se do senhor Jesus sem meter leões e águias?

Muitas festas para ti e fraternos abreijos para a família Neves

jrd disse...

Nem todos os Jesus têm a mesma vaca.
Boas Festas!
Um abraço

Compadre Alentejano disse...

Majestade!
Agradeço-te e retribuo os desejos de Bom Natal e excelente Ano Novo.
Abraço
Compadre Alentejano

Crisântemo Ciclomotor (esse mesmo) regressou e disse...

Pelos vistos os Jesus têm morrido de morte violenta. Será que é sina? Tenho que avisar o Jorge.

Manuel Veiga disse...

sou pela retirada da vaca - vaca ou dá leite ou não é vaca...

e por essa e por outras que as "quotas leiteiras" andam pela rua da amargura.

BOM ANO!