domingo, 17 de janeiro de 2016

Passam-se os tempos, passam-se as vontades


No dia em que a estrada foi inaugurada, quando passou a caravana de carros pretos com vidros fumados, dos vizinhos que assistiram  ao acontecimento, ela foi quem mais resmungou.

“Filhos da puta” chama esta gente quando vê passar gente daquela mas ela não se ficou pela expressão maior do desabafo popular e aprofundou outras considerações.

Aiou porque tinha perdido a terra que lhe dava comer para a boca, aiou porque perdera o sossego que era o seu xanax, aiou pelo país que esbanja o nosso dinheiro em obras grandes. Quantos não se encheram à custa disto? Empregos? Eram só espanhóis escuros ou de turbante! É precisa? A mim não, que não saio daqui! Pagaram-me bem o metro quadrado, pagaram! Mas sabemos bem para o que foi! Agora se quero batatas tenho de comprar das deles e o dinheiro que me sobra não sai das suas mãos, o banco é deles!  

Mas pronto! Temos de nos conformar! O pior foi quando soube que me iam expropriar! Ficou a casa que o meu homem me deixou, podia ter sido pior!... E os dois anos de obras?! Ao menos agora acabaram-se os cilindros e o pó!

Entretanto, num instante, a idade avançou tão depressa os carros andam. Sem horta e sem quintal, as pernas começaram a entorpecer. Passou o tempo. Agora a sua vontade é que ele seja lento e se demore ao sol, de que ela faz bom proveito e diz e eu ouço:

- Eu cá digo quanto é a verdade, se não fosse a estrada isto aqui agora era uma tristeza, eu já me habituei, assim uma pessoa sempre se distrai, sento-me aqui neste banco a bronzear e a olhar para a estrada.

Passa a ambulância, os bombeiros e a brigada, passam caminhetas de gado, de eucalipto e da Renova, caravanas, altos carros e motards, apitam, ultrapassam-se e alguns acenam, olha uma velha ali a olhar pra mim, é assim a vida, que jeito me tem dado o dinheiro que eles me deram, olha eu agora a amanhar a terra dura, compro tudo no intermarché, olha eu agora aqui sozinha a olhar para as oliveiras e prós pardais, assim entretenho-me a ver os carros com pessoas dentro a passar e ouço o que eles dizem:

- Zum, brum, zum, brum, brum, bre, bre…
Ah!Ah! Você deve achar que eu estou maluca! Estou velha mas não estou doida! Isto antes de passar aqui a estrada era uma tristeza! Já viu? Se não passassem aqui os carros eu não os via! Pois é, se não passassem aqui os carros eu não os via!....

Julgo que é a primeira vez que me acontece, não consigo rematar a história e, ainda por cima o tema é recorrente - aqui e aqui. Gosto de ouvir esta mulher! Em 75 ela ainda era nova! Confessou-se ao padre uns dias antes das eleiçoes! Guarda, como é de boa católica, o seu segredo! Nunca mais votou noutros! Ela é das setas e o Marcelo também e acabou-se!

Esta história ficou assim, com princípio, meio mas sem fim! Que se lixe, não tem fim mas tem finalidade: a luta continua a ser dura camaradas! 

7 comentários:

Anónimo disse...

Sem comentários - não vá ele ser censurado.

Rogério G.V. Pereira disse...

Vês?
Uma velha que gosta das PPPs
Ah, se não fosse Bruxelas
não haveria velhas destas

Anónimo disse...

O Marcelo não interessa nem ao menino Jesus---como os da direita são espertos, só o Marcelo e mais nenhum---para quê tantos candidatos de esquerda? Para darem o poder ao Marcelo---burros---burros---burros

Mar Arável disse...

O povo é quem mais ordenha

Abraço

Manuel Veiga disse...

vivóoooo o "Pais profundo"!

... e os políticos a exibir a samarra!

saúde, Majestade!

O Puma disse...

Lá estaremos na 2ªvolta

Anónimo disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAHA