No dia em que a estrada foi inaugurada, quando passou a
caravana de carros pretos com vidros fumados, dos vizinhos que assistiram ao acontecimento, ela foi quem mais resmungou.
“Filhos da puta” chama esta gente quando vê passar gente
daquela mas ela não se ficou pela expressão maior do desabafo popular e aprofundou
outras considerações.
Aiou porque tinha perdido a terra que lhe dava comer para a
boca, aiou porque perdera o sossego que era o seu xanax, aiou pelo país que esbanja
o nosso dinheiro em obras grandes. Quantos não se encheram à custa disto? Empregos?
Eram só espanhóis escuros ou de turbante! É precisa? A mim não, que não saio
daqui! Pagaram-me bem o metro quadrado, pagaram! Mas sabemos bem para o que
foi! Agora se quero batatas tenho de comprar das deles e o dinheiro que me sobra não sai das suas mãos, o banco é deles!
Mas pronto! Temos de nos conformar! O pior foi quando soube
que me iam expropriar! Ficou a casa que o meu homem me deixou, podia ter sido
pior!... E os dois anos de obras?! Ao menos agora acabaram-se os cilindros e o pó!
Entretanto, num instante, a idade avançou tão depressa os
carros andam. Sem horta e sem quintal, as pernas começaram a entorpecer. Passou
o tempo. Agora a sua vontade é que ele seja lento e se demore ao sol, de que
ela faz bom proveito e diz e eu ouço:
- Eu cá digo quanto é a verdade, se não fosse a estrada
isto aqui agora era uma tristeza, eu já me habituei, assim uma pessoa sempre se
distrai, sento-me aqui neste banco a bronzear e a olhar para a estrada.
Passa a ambulância, os bombeiros e a brigada, passam caminhetas
de gado, de eucalipto e da Renova,
caravanas, altos carros e motards, apitam, ultrapassam-se e alguns acenam, olha
uma velha ali a olhar pra mim, é assim a vida, que jeito me tem dado o dinheiro
que eles me deram, olha eu agora a amanhar a terra dura, compro tudo no
intermarché, olha eu agora aqui sozinha a olhar para as oliveiras e prós
pardais, assim entretenho-me a ver os carros com pessoas dentro a passar e ouço
o que eles dizem:
- Zum, brum, zum, brum, brum, bre, bre…
Ah!Ah! Você deve achar que eu estou maluca! Estou velha mas
não estou doida! Isto antes de passar aqui a estrada era uma tristeza! Já viu? Se
não passassem aqui os carros eu não os via! Pois é, se não passassem aqui os
carros eu não os via!....
Julgo que é a primeira vez que me acontece, não consigo
rematar a história e, ainda por cima o tema é recorrente - aqui e aqui. Gosto de ouvir esta mulher! Em 75 ela ainda era nova!
Confessou-se ao padre uns dias antes das eleiçoes! Guarda, como é de boa
católica, o seu segredo! Nunca mais votou noutros! Ela é das setas e o Marcelo
também e acabou-se!
Esta história ficou assim, com princípio, meio mas sem fim!
Que se lixe, não tem fim mas tem finalidade: a luta continua a ser dura camaradas!
7 comentários:
Sem comentários - não vá ele ser censurado.
Vês?
Uma velha que gosta das PPPs
Ah, se não fosse Bruxelas
não haveria velhas destas
O Marcelo não interessa nem ao menino Jesus---como os da direita são espertos, só o Marcelo e mais nenhum---para quê tantos candidatos de esquerda? Para darem o poder ao Marcelo---burros---burros---burros
O povo é quem mais ordenha
Abraço
vivóoooo o "Pais profundo"!
... e os políticos a exibir a samarra!
saúde, Majestade!
Lá estaremos na 2ªvolta
HAHAHAHAHAHAHAHAHA
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