Herdei isto do meu sogro. Na
altura isto eram uns barracos arrendados. Depois o senhorio resolveu fazer este
prédio e nós ficámos aqui nas traseiras com o acordo de ele nos deixar aquele
túnel de passagem cá para trás. Fomos fazendo obras com o seu assentimento,
cobrimos parte do pátio com estas chapas que não roubam a luz e o espaço é
este. Os antigos continuam a sentir-se aqui no tempo deles, os de meia idade
gostam de vir aqui e encontrar os mais velhos e os mais novos… desses eu já lhe
conto!...
Abro isto sempre às oito - uns
cafés prós empregados que entram às nove. Por volta das dez avio umas sandes
para gente que vem à vila tratar de papéis e compras. Rente ao meio dia é que
começam a chegar os mais agarrados que não aguentam até ao almoço sem um copo.
À segunda é grão com bacalhau ou
bacalhau com chícharos, à terça dobrada ou mão de vaca com feijão, à quarta feijoada
ou caldeirada, à quinta cozido ou chispalhada e à sexta frango assim ou assado!
Ao sábado e ao domingo só por encomenda.
À tarde junta-se aí uma malta na
sueca e no dominó. Ao fim da tarde os que saem do trabalho comem umas moelas ou
um peixe frito e bebem uns copos. Fecho por volta das nove quando a alguns já
começam a falhar as pernas.
Quando faço mais é aos dias de
mercado, quando há funerais ou casamentos! Vantagens de isto ser no adro!
Acontece que há uns tempos para cá,
à sexta e ao sábado vejo-me obrigado a fechar mais tarde porque comecei a ter
outra clientela – os mais novos, de que lhe falei há pouco! E se eles fazem despesa!... E não
são só os rapazes! Olhe que as moças fazem sociedade com eles!
Pedem às garrafas de licor
beirão, de amêndoa amarga, de gasosa ou de coca cola para traçar o vinho ou a aguardente.
Não sei se a garotada vem para aqui porque acha engraçado frequentar os sítios
dos mais velhos ou se vem para aqui para se embebedar de barato antes de ir
para a discoteca onde uma cerveja custa mais do que cinco litros de vinho aqui.
O que é certo é que isto vem dar
uma lufada ao meu negócio, que gosto de ver aqui a juventude. Que eles dizem
umas caralhadas, que fazem umas festas e dão umas beijocas
às raparigas que vêm com eles, é verdade! Mas o que é que hei-de fazer? Os mais
velhos que tenho aqui durante o dia também as dizem e a minha mulher está sempre
a ver novelas da televisão, às vezes com cenas bem piores!
Mas o que eu lhe quero contar com
esta história, é que há dias me aconteceu aqui uma que trago atravessada! Então
não é que dois rapazes, sim dois gajos já com barba, se estavam a lambuzar sem
se importar que alguém visse!? ,
Eu vi, voltei a ver, começaram-me
a crescer os azeites e a autoridade do “quem manda aqui sou eu!” O que é que eu
faço? Vou lá e dou uma chapada a cada um? Vou lá e digo educadamente “ tenham
paciência mas aqui não!” Chamo-lhes paneleiros e envergonho-os à frente de toda
a gente?!
Perdi o raciocínio, saí de trás
de balcão, cheguei à mesa e não sei o que é que disse. Dum momento para o outro
dei com todos os outros a chamarem-me homofóbico!
- Paneleiro eu?! Então agora eu é
que sou o paneleiro?!
Este mundo está virado do avesso!
Por momentos pensei: que se lixe esta clientela! Eu também tenho que garantir
os outros clientes de outras horas! Tá certo, também alguns desses, às vezes na
brincadeira de mais uns copos, também apalpam o cu uns aos outros! Eu,
consoante os exageros também posso chamar a atenção - mas isso é a malta a
reinar! Não é a sério! Mas ali! Porra! Se eu deixo a coisa andar, qualquer dia
ainda acabam a enrabar-se à minha frente! Ainda se fossem duas, nesse caso, era
mau na mesma, mas eu até podia dar a volta aos meus azeites e tolerar se elas
me olhassem com pedido de compreensão! Mulheres! Enfim, estariam por certo a
provocar os rapazes de agora que estão mais virados para os computadores! Agora
dois rapazolas com idade de ir para a tropa!?
Pergunta-me o senhor porque lhe
conto isto? Porque penso que você me pode valer! É que sei que o senhor escreve
aí para o jornal… Não! Não me olhe assim! Deus me livre que isto fosse notícia!
Mas olhe aqui para estes letreiros e estas quadras que chamam a atenção, para
certas condutas, aos clientes! Eu queria que o senhor, por palavras
inteligentes e educadas, me inventasse uns ditos para eu mandar gravar num
azulejo e que dissessem que por ordem da ASAE nesta casa não são permitidas
paneleiragens!
5 comentários:
Se a clientela é pobre
mas cheia de vício
põe o seguinte aviso
NESTA CASA
QUEM FOR ENRABADO
É QUEM PAGA A RODADA
talvez resulte, sei lá
Estou farta de rir :D os jovens precisam é de trabalho e do duro...
----Um verso para o azulejo----
Na minha casa exijo respeito
Quem não seguir essa regra
Hás minhas más palavras
Esta sujeito...
Se meterem a ASAE nesta questão qualquer dia acontece como aos fumadores têm que se apalpar e... à porta do estabelecimento.
moderniza-te pá!...
abre nova frente de "negócio", ou seja - venda de "bordalos"
Que se fundam
Enviar um comentário