(continuação 1 - 2 - 3- 4 ) do Relatório do Administrador do Concelho de Ourém, Artur de Oliveira Santos, a propósito das aparições de Fátima, escrito em 1924.
Depois desta data, tendo eu
deixado a Administração do Concelho, foi proibido e permitido, sucessivamente,
o culto externo, mas as peregrinações ou romarias nunca mais tiveram a mesma
importância de algumas anteriores. Posteriormente é que o bispo de Leiria, José
Alves Correia da Silva, se resolveu a intervir. O primeiro acto foi levar Lúcia
para fora de Fátima, a pretexto de a mandar educar, o que a própria família
confirma, não se sabendo, porém, do seu paradeiro.
De vez em quando, escreve à
mãe (ou alguém escreve por ela), dizendo estar bem, num colégio, e recomenda
que ninguém duvide do milagre da Cova de Iria. Consta estar num convento em
Espanha, o que é dito pelo vizinho Casimiro Rodrigues Esteves. Em Lisboa, na
Rua dos Bacalhoeiros, Hospedaria dos Bicos, o proprietário desta, igualmente de
nome Casimiro, um velho republicano, alguma coisa sabe sobre o assunto.
Para avaliar o critério do
Bispo, basta ler, na provisão que vai junta a este relato e que foi publicada
no jornal A Época, de Lisboa, nº1019,
de 14 de Maio de 1922, a seguinte passagem: “Demais a mais, a pequena saiu da
terra, nunca mais lá apareceu e, não obstante, o povo acorre ainda em maior
número à Cova de Iria.” A sua intolerância é de tal ordem que, em 23 de Abril
de 1923, mandou uma circular aos párocos da sua diocese, proibindo-lhes
assistir a qualquer festividade religiosa onde comparecesse a filarmónica dos Pousos (Leiria), pelo facto
de aquela ter tomado parte numa festa liberal, julgo que comemorativa da Lei da
Separação. O seu egoísmo e cupidez são grandes. A testemunhá-lo basta a caça
feita à herança de D. Constança Teixeira Albuquerque, de Caldelas, freguesia da
Caranguejeira (Leiria), uma pobre viúva que deixou os parentes sem recursos,
para legar ao bispo uma fortuna que deve orçar por 800 contos.
O mesmo Bispo de Leiria foi
quem veio dar alento à mistificação. Inteligente e astuto como é, procede com
discrição e prudência. O dinheiro recebido da Cova de Iria (larga depressão de
terreno como o nome indica), remetido, todos os dias 13, à consignação do
bispo, é incalculável. Em Maio de 1923, o semanário republicano A Voz do Povo, de Leiria, que não foi
desmentido pelos jornais católicos, noticiava que o dinheiro recolhido no dia
13 do referido mês somava 200 contos. Por informações que reputo fidedignas, a
receita nos dias 12 e 13 do corrente mês de Outubro de 1924 foi de 120 contos.
E há a notar que, encontrando-se a igreja paroquial em obras, nenhuma das
importâncias recebidas na Cova de Iria foi entregue para a referida igreja. É
tudo ensacado e levado a S. Ex.ª, para Leiria, no próprio dia 13 de cada mês.
Em Fevereiro de 1922, a
pequena capela erguida na Cova de Iria foi destruída por um incêndio, atribuído
aos liberais; mas o que é deveras significativo é que a imagem, que pouco antes
do incêndio se encontrava exposta na capela, foi dali retirada para casa de
Manuel Carreira, do lugar de Monte Redondo, que transita, todos os dias 13 de
cada mês, para a Cova de Iria e vice-versa. Confessou o Manuel carreira ter
visto, na noite do incêndio, luz na capela, o que não era costume, não se
percebendo que, sendo ele o zelador do templo, se não importasse com o caso.
Antes de 13 de Maio de 1922, foi feita, pela imprensa
monárquica e católica, uma intenssíssima propaganda para impressionar o
espírito católico e conservador, tendo até o próprio Diário de Notícias, de 11 de Maio de 1922, publicado um artigo
encimado por grossos caracteres, no qual se incitava o povo a visitar o local
da aparição. Esse artigo era acompanhado de fotografias dos três videntes e da
pequena capela e também da provisão do bispo de Leiria. Compareceram 25 a 30000
pessoas.
Em Outubro do mesmo ano, saiu o primeiro número do
semanário Voz de Fátima, que foi distribuído gratuitamente e que actualmente
deve ter uma tiragem de 20 000 exemplares, cuja impressão é paga por
subscritores e que são profusamente distribuídos, não só em Portugal, como
também no estrangeiro, fazendo a perniciosa propaganda de curas milagrosas e
sobrenaturais – puras fantasias – para explorar o vulgo, sem origem na verdade,
e que a superstição ampliou até o absurdo. Dirige o referido semanário o Dr.
Manuel Marques dos Santos, de Leiria, tudo com a aprovação do bispo.
continuação ( 1- 2- 3- 4 )
1 comentário:
só a verdade é revolucionária
hoje, como ontem, como sempre!
um documento notável que não conhecia
abraço
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