Um tipo, para chegar a papa, deve ter um currículo eclesiástico do caraças, uma formação teológica bastante aprofundada, uma origem geopolítica conveniente ao tempo histórico do momento, ser casto e, claro, ser crente. Isto para além, evidentemente, de reunir a simpatia do colégio que põe lenha na fogueira que faz o fumo.
A escolha do Chico cumpriu isso tudo e, embora mantenha o tom e o timbre de voz característico dos papas, tem tido, por vezes, um comportamento que tem surpreendido, positivamente, os preconceitos de ateus e agnósticos, os anseios de progressistas católicos e a avidez devoradora da imprensa ocidental.
Para além de ter ido ele próprio comprar um par de sapatos, já reconheceu as teorias de Darwin e do Big Bang, já declarou não ter poderes para julgar a homossexualidade, já admitiu que os ateus também podem subir ao Céu, já disse que os bons católicos não precisam de se reproduzir como coelhos, já denunciou as rivalidades e intrigas entre os cúrias, já se manifestou contra o sistema capitalista e elogiou as bandeiras comunistas, já afirmou a igualdade entre mulheres e homens, já colocou em causa a natureza do inferno e outras coisas que fazem corar a velha doutrina da Igreja.
Mas falta-lhe admitir que o próxima papa poderá ser uma tipa ou que a visão do inferno dos videntes de Fátima só pode ter sido um delírio psiquiátrico.
Aumentaria a bilheteira das igrejas se ninfas sacerdotisas abrissem os braços sob um manto diáfono no altar e aumentariam as vocações se os padres e as freiras pudessem copular como os demais.
Seria mais credível a Fé da Católica e Apostólica Romana se não se baseasse tanto na adoração de santos de pau ou polietileno, se não reconhecesse milagres por dá cá aquela palha, palha que bem abafada pelo padre certo, acaba sempre num altar rentável ou numa romaria que impressiona os céus.
Pois é aqui, ó Chico, que tu desiludes alguns revolucionários. Que coisa é essa de vires dar crédito, ou recolhê-lo, a Fátima e, ainda por cima, trazendo na manga mais uma canonização, justificada com o devido milagre do qual, desta vez, para não estar com mais explicações, também se faz segredo?
A Cúria já deveria estar escaldada com a gestão do segredo de Fátima que, depois de anos de suspense, acabou numa revelação irrisória, sem alma e sem sentido. Os estudos teológicos já deviam ter admitido que milagre é quando um braço de cera vira em carne e não quando um pingo de óleo salta da frigideira para um olho e passados uns dias o olho já está bom. A seriedade dos investigadores católicos da história de Fátima já os devia ter obrigado, há muito, a reconhecer que o Visconde de Montelo, o cónego Formigão, manipulou tudo e todos - mas não! Parece que nem ele vai escapar a canonização!
Não queremos ir tão longe de exigir ao papa um pensamento ateu ou que deixe de usar saias. Mas vá lá, já que estamos com a mãos na massa e temos um papa que dá ar da sua graça, ao menos que ponha um travão na pluralidade de fés e crenças, na proliferação de santos e milagres e diga duma só vez "Deus só há um" e que milagres desses são como os chapéus.
3 comentários:
Não sei se existem muitos a crer em santos feitos de pau, pedra, barro ou plástico, mas já me desiludi há muito das religiões, não pela sua mensagem, mas pelos seus mensageiros...
Abraço do Zé
Boa malha,
estou do lado da tua vara
pronto
a ser porco
Subscrevo o escrito
não se pode pedir azinheira outra coisa que não seja bolota. ou milagres...
abraço
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