terça-feira, 9 de maio de 2017

Que os coletes verdes os salvem

Desde que me dei aos estudos que ganhei esta mania académica de classificar. Hoje apetece-me classificar os portugueses entre os que vão a Fátima e os que não vão a Fátima. De entre os que vão a Fátima, vou subdividi-los entre os que vão de carro e os que vão a pé.


Os que vão a pé vão já quase todos de colete verde, uma peça de vestuário tão característica dos tempos que vivemos como o colete encarnado do campino de outros tempos.
Ir a Fátima a pé é uma nova forma de religiosidade que, na Fé do crente, redime o absentismo pelas práticas tradicionais do ir à missa ao Domingo e à confissão, por outras palavras, de andar à volta das saias do padre.

Fátima, à volta da Imagem da Senhora, tem-se “vaticanizado” e transformado numa sucursal da Praça de S.Pedro onde os leigos, cada vez mais pecadores, se ajoelham aos gestos do secular clero. Mas os padres de Fátima nunca foram bons anfitriões do peregrino pedestre e a hotelaria local nunca lhe suportou o chulé. E, no entanto, ambas as partes, os toleram e reconhecem com um dos dentes da chave do negócio.

Vêm estes parágrafos, aparentemente inconsequentes à razão, pelas razões que me atravessam a revolta quando vejo tanta gente caminhar perigosamente pelas estradas, respeitosamente pela Fé, incompreensivelmente sem um mínimo de atenção ou consideração pela parte das autoridades religiosas ou civis. Todo o apoio que encontram pelo caminho, nasce da iniciativa de organizações ou movimentos que nada têm a ver com os cofres ou com os lucros com que o negócio-milagre tão bem se alimenta.

Reconhece-se que o peregrino de Fátima, português, caminha, antes de mais nada, por penitência, que dispensa o conforto e tem Fé que do perigo a Sua Senhora o livrará. Mas não seria a altura, agora que a indumentária refletora esconde o pobre Portugal do século XX, dos chefes da Igreja e da política terem uma pequena consideração por esta gente?!

Caminhos e trilhos que os desviassem do asfalto sem bermas para peões, parques e albergues que lhes permitissem dignas paragens e, se mais não fosse, apenas isto: um parque de campismo e balneários na pequena cidade-fenómeno. Mas não, a Igreja reverteu todas as esmolas para a maior obra de culto que fez em Portugal desde o Convento de Mafra: a nova basílica. Não foi feita para o “pé de ténis chineses” de quem chega a pé, foi feita para os japoneses, brasileiros e portugueses que vem com os pés limpos das alcatifas dos modernos meios de transporte, que melhor servem os  interesses do turismo religioso.

Nestes dias entre os automóveis veem-se muitas tendas e coberturas de plástico. Ao menos um parque de campismo! Nunca ninguém se lembrou!? Parece incrível!...


1 comentário:

Zambujal disse...

Demasiada atenção vaticana a umas ma$$as e desatenção generalizada às massas.