O candidato A, o candidato ex-dependente e agora auto-proclamado independente, dizia com orgulho que pensava apenas pela sua própria cabeça e, como pensava apenas com a sua própria cabeça, quando falava, já toda a gente adivinhava o que ia dizer.
A candidata B, a quem nunca passara pela cabeça ser candidata-cabeça, era candidata porque o primeiro da lista tinha desistido por ter proposta irrecusável para ser gerente duma agência bancária, e o segundo para ser seu segurança e, sendo por lei das quotas ela a terceira, como mulher, calhara-lhe ter de ficar com o menino nas mãos.
Por A e por B, calhara a sorte a C, que mesmo sem saber falar, não falava como candidato mas fazia pose e gesticulava como futuro presidente.
O candidato D, Dependente, nem sequer lá estava. A cadeira vazia justificou-a a moderadora do debate como tendo havido um pequeno percalço, que estaria a caminho e, que não tardaria muito, ele chegaria.
E ele lá chegou meio atarantado e, com a discrição possível, tomou o seu lugar. No pensamento dos adversários que, além dos outros três, era toda a plateia, deu-se como julgado que o D era assim mesmo, um atrasado, e ainda bem que assim era, que por estas e por outras é que, como preterido, não fazia mossa. E o debate continuou.
Falou o candidato C de ser fundamental sanear devidamente as necessidades de todos os residentes e, na sua vez de falar, o candidato D disse concordar com ele: que sejam feitos esgotos MAS...
Falou a candidata B de como era fundamental a construção dum aeroporto e o candidato D disse que quando era pequeno também queria ser piloto MAS...
O candidato A achou fundamental convidar o presidente da república para festejar o seu aniversário na Vila e o candidato D disse que também gostava muito da canção parabéns a você MAS...
O candidato A, com interesses no negócio da construção, também achou fundamental a requalificação da estrada 256 e o candidato D disse que também MAS...
A candidata B, cujos sogros tinham uma ourivesaria no centro da vila, achou fundamental a requalificação da rua principal e o candidato D, disse que também achava que já era tempo da estrada nacional 256, que atravessa a vila, fosse transformada numa verdadeira avenida MAS...
O candidato C, disse que, no dia seguinte ao da sua tomada de posse, iria começar as obras dum teleférico da curva da morte da 256 para o centro de saúde e o candidato D disse achar boa ideia MAS...
Acrescente-se também que o candidato A, proprietário dum lar de idosos, prometia um relacionamento harmonioso com todos os párocos, a candidata B, proprietária duma funerária, prometia a ampliação de cemitérios em todas as aldeias e o candidato C, proprietário duma farmácia, prometia aumentar a natalidade aumentando o preço dos contracetivos.
Com estas promessas D disse não concordar MAS...
E várias voltas dadas por A,B,C,D sem D incomodar, incomodada a moderadora diz:
- Candidato D, se concorda em tudo com os demais porque se candidata?
Foi então que o candidato D puxou do lenço e cuspiu da boca aquilo que parecia ser um dente MAS que era a afinal um pedaço do para-brisas do seu carro - tinha acabado de ter um acidente na 256 e fora por isso que chegara atrasado e tinha dificuldade em falar.
- Candidato-me porque sou dependente do pensamento e do sofrimento do povo MAS...
- MAS o quê?
- Movimento Ascenso e Saúde!
- Candidato-me porque sou dependente do pensamento e do sofrimento do povo MAS...
- MAS o quê?
- Movimento Ascenso e Saúde!
2 comentários:
´
"amandei-te" lá no meu sítio uma bacorada
abraço.
Eh lá!
4 candidatos e aquelas falas?! lembra-me qualquer coisa... MAS!
Queria comentar mais MAS não posso... saltou-me a dentadura, poderia escrever MAS tremem-me os dedos de tanto rir (para dentro da tristeza que sinto...)
Mandava-te um abraço... MAS não mando nada.
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